Estou sem escrever há muito tempo... perdi a vontade e a reencontrei na semana passada quando assisti pelo youtube à entrevista da Adélia Prado no Roda Viva da TV Cultura. Ela tem o poder de me reerguer das cinzas... a simplicidade dela, sua autenticidade, a intensidade com que se entrega e a pura alegria de viver são cativantes... ela ali estava fazendo algo com um empenho e uma espontaneidade comoventes... o seu estar inteira ali era como uma tarefa de resgate de pessoas como eu que se abandonam em si mesmas, esquecendo dos seus ligames com a humanidade... uma atitude egoísta e esmagada pela visão que tive de Adélia Prado... me senti envergonhada de ter abandonado o blog, afinal ele é um meio de expressão e um contato com meus supostos leitores que talvez encontrem, nos meus escritos, qualquer coisa de útil.
Adélia ali, naquele círculo emblemático da intelectualidade brasileira, era toda espírito encarnado como contraposição às firulas, às importâncias que nos damos mutuamente... ela toda era a marca do necessário acima do supérfluo...
Necessário era o escrever, o sentir, o apaixonar-se, o amar, o viver, o entregar-se de corpo e alma em cada tarefa assumida enquanto subjetividade, posicionando-se na medida da sua própria autodescoberta e desvelamento significativo do mundo.
E, daí, eu pensei nas necessidades de que revisto minha vida e as das pessoas que para mim importam sobremaneira, percebendo que o que me une à elas e o que as faz serem especiais para mim é que a simplicidade é um critério marcante pras escolhas das prioridades cotidianas e dos projetos de vida de todas e de cada uma.
Viver com o necessário é fundamental. Claro que há uma variação enorme de critérios para definir o que é necessário para cada pessoa, porém, em geral, é a garantia de não exceder, de buscar qualidade, adequação e atentar para os móveis que fundamentam aquisições e ocupação de tempo.
Fazendo essa reflexão eu me dei conta de quanto eu ainda preciso redirecionar minha vida e aprofundar os argumentos para realmente empreender uma existência com base apenas no necessário.
Os excessos se dão nas palavras, nos comportamentos gestuais, nos momentos de descanso e ociosidade, na alimentação, na teorização.
Quero ser, como disse em texto passado, um traço japonês, pleno de significado e manifesto na economia da simplicidade.
Adélia era toda transbordamento sem excessos. Tudo naquela entrevista era na justa medida e na intensidade de quem vive já na mais pura expressão daquilo que escolhe ser. Na medida da possível coerência que a precariedade humana permite. Quando eu crescer como consciência quero ser assim, gente como ela.