Haver companhia para uma interlocução inteligente, quando a gente está preparada para falar e ouvir com abertura de espírito, é algo de grande utilidade para avançarmos no nosso processo de crescimento pessoal, na busca de possíveis soluções para problemas íntimos e para o vislumbre de novas perspectivas para o projeto de vida.
Nossos interlocutores profissionais, como terapeutas e mestres, são companheiros que vão ao nosso lado, em determinadas etapas do caminho, nos auxiliando a observar a paisagem, a destacar aspectos ainda não identificados por nós, reforçando a observação dos fenômenos psicológicos constituídos em nós por nós mesmos, ao longo do percurso de vida.
Sempre fui incentivada a buscar auxílio psicológico mas apenas próximo aos 40 anos consegui me encaminhar para uma primeira experiência. Tive o cuidado de escolher um profissional reconhecido por sua competência e tive contato com textos escritos por ele para me certificar se sua abordagem seria adequada à minha concepção filosófica da vida. Não deu certo, ele estava sempre cansado, eu sem um objetivo claro e sempre me esquivando das sessões e, principalmente, das investiduras argumentativas dele. Na verdade eu sempre evitei um contato com um psicólogo porque temia profundamente que alguém vislumbrasse a persona constituída por mim em contraste com a realidade íntima do ser que sou, ou melhor, que eu pensava que era.
Levei ainda mais 11 anos para que novamente procurasse outro profissional. Mas a situação era outra... eu mais madura, à beira dos 50 anos, já num caminho de enfrentamento dos demônios criados intimamente, estava realmente empenhada em meu aprimoramento humano. Ao assistir palestras no youtube, encontrei alguém com características de pensamento e de cosmovisão que pudessem constituir um ambiente de diálogo compreensivo. Dessa vez, fui com um objetivo pontual e consegui, com o auxílio do terapeuta, analisar mais profundamente a problemática apresentada e construir instrumentos pessoais de superação, tudo por meio de diálogos, leituras, técnicas energéticas, tratamentos auxiliares com outros terapeutas, xamanismo, florais e tentativas de TRVP, terapia regressiva de vivências passadas. Realmente um tratamento que considerei de altas qualidade e efetividade.
Com certeza, hoje reavaliando, penso que ainda deixei muito entulho para ser remexido e coisas que, a partir daquela experiencia terapêutica, hoje emergem como uma consequência da ampliação da autoconsciência.
Desde criança tive a constante atividade, exercida com algumas amigas, de análise e autoanálise, mas hoje, pensando bem, creio que eram discursos de circunvoluções muito autoindulgentes, umas para com as outras. No fundo havia o medo inconsciente de conhecermos aspectos de nossas personalidades e assim ficávamos como a boiar na beira da praia, sem jamais mergulhar.
O mergulho no profundo de nós mesmos só é possível quando nos propusermos a desnudar publicamente nosso ser. Dizer a nós mesmos e aos outros quem já pensamos que somos. Reconhecer a humanidade em nós é entender que somos seres em processo, nos constituindo e reconstituindo dia a dia, etapa por etapa, no fluxo constante da vida que se traveste em corpos e identidades diferentes em tempos e espaços distantes. Do oceano profundo de nós mesmos emergem objetos desconhecidos e inclassificados, carentes de uma atenção analítica.
Um mergulho necessário que não pode ser empreendido sozinho; penso fundamental o acompanhamento de um terapeuta, em determinadas etapas de reflexão mais profunda. Mas, na impossibilidade do apoio especializado, temos a premente necessidade de colocar em ação nossa reflexão sistemática acerca dos nossos pensamentos, palavras e ações, com o fito de superação e estabelecimento de novas metas de conduta consciente.
Podemos também nos servir dos pensamentos de escritores, artistas, professores, amigos e parentes como mote para atentarmos mais profundamente para os conteúdos que emergem para nossa análise.
Mas, com certeza, devemos permitir a manifestação da sensibilidade mais acurada para resgatarmos os ecos dos contatos transdimensionais que nos permitem acessar, ainda que palidamente, o mistério da nossa própria identidade espiritual e que imprime as mazelas que resguardamos no inconsciente pessoal. Nossas projeções astrais e mentais, bem como os sonhos e os vislumbres diários de outros seres e dimensões nos fornecem conteúdos significativos.
Podemos registrar por escrito ou oralmente nossas reflexões, distinguindo as descrições fenomênicas das interpretações que empreendemos como tentativas de compreensão.
Entendo que somos criaturas imortais que se constituem continuamente nos evos e que, mergulhadas na materialidade mais densa, temos a oportunidade de entrar em contato mais direto com o resultado das experiências imemoriais. O nosso escopo é o desenvolvimento máximo das capacidades de autoexpressão de vida criada e cocriadora em simbiose homeostática com os demais seres dos universos... estamos indo "ao infinito e além" como disse Buzz Lightyear em Toy Story.
Mas, para o reconhecimento de nós mesmos em nossas potencialidades de crescimento, é sempre bom ter um samaritano à beira do caminho a nos oferecer a água revigorante do poço de nosso imo. A associação solidária é característica fundamental da vida em todas as suas expressões, e, no nosso caso, para o nosso crescimento pessoal, ter a interlocuãao de terapeutas, profissionais ou não, é uma dádiva.