sabato 16 aprile 2016

Nem coxinhas, nem petralhas, chega de maniqueísmos!!!

Acreditar  no confronto entre o Bem e o Mal é simplificar demais a realidade. Eu não creio que o mal exista absolutamente e nem tampouco o bem na nossa dimensão humana de manifestação. Cada um de nós apresenta aspectos pendentes ao bem e outros ao mal. A questão é saber o que determina quem é bom e quem é mau, e disso vai depender fundamentalmente a qualificação que fazemos de nós mesmos e de outrem. O que é bom para um é mau para o outro e vice-versa.
Hoje o Brasil se apresenta como espelho da sua população com acesso aos meios de comunicação de massa e com voz ativa nas mídias sociais de relacionamento. Dividida entre coxinhas e petralhas, a população se expressa postando-se cada qual no lado que pensa ser o do bem e que automaticamente a qualifica como pessoa boa, pessoa do bem, e, obviamente, aquele diametralmente oposto é a encarnação do mal, pessoa má, pessoa do mal.
Eu mesma, tenho clara em mente a minha posição, mas ela não impede que eu tenha amigos nos dois grupos, tenho simpatia, amizade e admiração por pessoas de ambos os lados. Cada uma tem uma história própria, particular e original, demonstrada por atos e ideias proferidas. Eu, a partir da cosmovisão assumida por mim, avalio suas ações e pensamentos como bons ou maus. Assim, aqueles que concordam com minha posição estão ok e os que não são criticados negativamente. Porém, isso não pode consistir na avaliação da pessoa como um todo. No máximo posso dizer que não concordo com fulano neste ponto mas em outros posso estar ao seu lado e até mesmo tê-lo como um exemplo para mim.
Há pessoas que amo profundamente e às quais condeno atos e palavras, e outras que não posso nem ao menos ver, o tal caso do "meu santo não bate com os delas",  pelas quais tenho profunda admiração em virtude de suas condutas.
Não é de hoje que penso assim, e nem ao menos é de sempre, foi uma construção paulatina com avanços e recuos, com momentos de mais autenticidade e também de menos. Uma posição que me alcunhou algumas vezes de Pollyanna, sabonete e até Márcia a simpática, num sentido jocoso é claro. Mas eu não ligo não, não o faço para ser boazinha, é apenas a minha crença. Vejo em mim defeitos escabrosos e atitudes sublimes; todo dia travo uma luta em minha consciência para melhorar meus pensamentos e tentar, dentro da autenticidade, tratar as diferentes pessoas de maneira mais justa possível. Não precisa viver de beijinhos e abraços com os desafetos, mas é fundamental avaliá-los com a melhor das intenções e desassombro. Melhor mesmo é construir critérios claros do que é bom e do que é mau e assim analisar apenas os atos particulares e não generalizar para a qualificação da pessoa.
Assim, nem coxinhas nem petralhas, há apenas pessoas que se postam em posições diferentes. Ambos os lados devem se respeitar e divulgar suas convicções de maneira civilizada e aberta ao diálogo. Lembro sempre de uma fala de Paulo Freire, ouvida em uma palestra ou lida em um de seus livros, já não me recordo a fonte, nela ele disse que tinha amigos pessoais que eram inimigos políticos, os quais frequentavam sua casa e privavam de sua intimidade. Também do mesmo autor, há uma outra fala sobre a importância de sabermos contra quem e a favor de quem nós lutamos. Penso sobre a necessidade de termos argumentos claros e fundamentados sobre nossa posição e, ao mesmo tempo, cuidar da maneira pela qual devemos estabelecer nossa relação com o outro pela dialogicidade, ou seja, um diálogo que compreenda uma dialética discursiva, baseada em fatos concebidos pela apreensão do mundo por cada um dos interlocutores. Uma dialogicidade de auscultação recíproca.
Cansa a beleza tanto ódio, desrespeito às pessoas e nomeações qualificativas de baixo calão. Incitação à violências, promessas de desagravos futuros, figuras apocalípticas para dramatizar ainda mais o cenário, muito mais vinculadas ao subcérebro abdominal do que à capacidade cognitiva superior. É o medo da perda de status, de popularidade, de privilégios, de domínio e de poder que inflama as pessoas.
As paixões nos traem e nos fazem ficar reféns de nossas posições antigas, por puro medo de perder uma identidade construída arduamente ao longo da vida. Usando de instrumentos de reflexão pessoal
cada um pode analisar friamente sua própria conduta e os pensamentos que a fundamentam. Podemos claramente identificar nossos pontos positivos e negativos, e assim também com relação aos outros. Poderemos rever nossas antigas crenças, avaliar sua efetividade atual e assumir erros e corrigir condutas com vistas ao nosso aperfeiçoamento consciencial.
A questão fundamental agora é almejar um Brasil com pessoas mais autênticas, mais disponíveis para autoavaliações pessoais e intransferíveis, que assumam seus erros e empreendam caminhos de redirecionamento de ideais mais solidários e construtivos com vistas ao Bem Comum.
Qualquer grupo que se mantenha fora ou dentro da máquina do poder terá os mesmos deveres e direitos, deverá ser responsabilizado por suas ações e deverá ser respeitado nos seus encargos. E o cidadão que não é político profissional, deverá exercer sua politicidade todos os dias, não apenas em momentos cruciais, e ainda mais, deverá corrigir em sua própria conduta aquilo que denuncia em outrem. Visão ingênua da política para alguns, mas não importa, se não é para pensar grande então é chafurdar na mediocridade de viver segundo um pragmatismo brutal (não filosófico, é claro) ou de acordo com uma vulgarização leviana do maquiavélico "os fins justificam os meios". Nada disso. Acredito na possibilidade de um viver pautado pelo Bem Comum. Fora do que é correto vale tudo, e o vale tudo não serve nem para coxinhas nem para petralhas, nem para pessoa alguma. Todos nós somos muito melhores do que essa banalização da moral política.
Enfim, de posse da tarefa da construção contínua da humanidade em nós, também auxiliaremos os outros a se humanizarem. Toda denúncia é o anúncio de uma posição, de um ideal, de um desejo. Só espero que assim seja sem desqualificação de pessoas e sem considerações maniqueístas.

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