mercoledì 14 novembre 2012

Vale quanto pesa?

Hoje quero refletir sobre meus preconceitos intelectuais e os benefícios e os malefícios que eles me trouxeram. Com padrões muito rígidos sobre o que era importante ou não, sobre o que merecia meu tempo e atenção, sobre aquilo que me ocupava espaço mental e emocional, por um longo período do final da adolescência até um pouco mais de trinta anos, eu fazia sérias distinções entre coisas que eu reputava de alto valor e outras qualificadas como medíocres.
Um benefício de tal rigor de classificação foi me permitir conhecer clássicos de literatura, recortes específicos da história sócio-cultural, política e econômica, bem como constituir panoramas conceituais sobre a filosofia e a arte. Um malefício foi me afastar de tesouros travestidos de lixo midiático.
Eu frequentei o meu primeiro curso universitário em meio a um acirrado debate acerca da distinção entre cultura popular e cultura erudita, no esforço em clarear e ampliar o conceito de cultura, não apenas como produto elitista, mas como todo empreendimento humano para construir o mundo material e o mundo simbólico. A cultura popular como expressão verdadeira do mundo segregado das massas ignoradas pela classe opressora e de legítimo valor enquanto manifestação de origem da cultura erudita, em verdade, apreendida e reelaborada pela classe dominante. Como exemplo vemos algumas óperas trazendo cenas e enredos oriundos das classes populares numa linguagem complexa e artisticamente elaborada.
Em meio a tudo que se discutia, também surgia o pensamento acerca da destruição sistemática da cultura regional e específica de grupos minoritários e sua substituição pela chamada cultura pasteurizada... o sertanejo, o indígena, o caipira, todos direcionados em formas de viver, em vocabulário e hábitos de consumo, segundo os cânones das redes televisivas, do cinema, das revistas de divulgação de fofocas, das rádios FM.
Por outro lado, havia ainda a defesa de intervenções na formação dos intelectuais orgânicos, numa perspectiva gramsciana, para o reconstrução da cultura das classes proletárias no sentido de valorização dos seus próprios interesses, assim como o acesso à cultura científico-filosófica renegada por uma escola dualista, separatista entre ensino técnico profissionalizante e ensino humanístico científico para a burguesia.
Depois, durante meu segundo curso acadêmico, o debate enfocava a questão do que é cultura na chamada pós-modernidade. É a ideia era que se tudo era cultura e tudo tinha valor, então nada tinha valor; não se podendo mais distinguir entre o que tinha valor e o que não tinha, tudo ficava no mesmo patamar, assim, como nomeia um capitulo do livro A derrota do pensamento, de Alain Finkielkraut, um par de botas vale tanto quanto Shakespeare, ou até mais...
Tudo isso criava em mim um reforço para a distinção entre o que valia e o que não valia culturalmente. Daí que não lia Paulo Coelho, não assistia novelas da Globo, não escutava música brega ou dos novos sertanejos, não participava das triviais conversas familiares e de colegas de trabalho.
Criei uma certa bolha de convivência a que poucos "privilegiados" tinham acesso. Digo "privilegiados" em tom irônico, porque em verdade eu era execrada como pernóstica, ou seja, afetada, pedante. E era mesmo, como se eu fosse me contaminar na mundanidade.
Tudo besteira, penso eu hoje. Se todo aquele pudor intelectual me forneceu uma generosa bagagem de conhecimentos e me permitiu trabalhar com conteúdos mais complexos, ao mesmo tempo também me impediu, por um longo tempo, de criar canais de comunicação com pessoas interessantes.
Nos livros de auto ajuda, os quais tem uma linguagem simplória e um arcabouço teórico frágil, hoje encontro um conteúdo importante para o resgate psicológico, emocional e espiritual para muitas pessoas, as quais não receberiam nenhum auxílio de uma literatura mais elaborada, hermética e distanciada.
As novelas da Globo geram debates que penetram as famílias e os encontros sociais, suscitando temas e reflexões que muitas vezes são impenetráveis nos círculos fechados de certas comunidades, favorecendo diminuição de preconceitos e estimulando movimentos sociais de relevância.
Na música, seja qual for o estilo, há substanciosos exemplos de reconhecimento da realidade social e de crítica feroz, muitas vezes apenas atribuída à MPB durante a ditadura militar. Como exemplo encontramos o livro de Paulo César de Araujo, Eu não sou cachorro não, num autêntico resgate da contribuição crítica da música brega no contexto pós anos 60.
Penso hoje que, o que vale, vale porque pesa enquanto significado para cada um de nós. Onde estão as soluções para nossas necessidades e as respostas ou possibilidades de reflexão para superação das dificuldades, ali estão as coisas que têm valor. Assim Machado de Assis, Tolstoi e Dostoievski são a grande literatura e trazem um universo de temáticas humanas de profundo significado, mas com certeza, não são por todas as pessoas acessadas e compreendidas, nem ao menos os livros são enfrentados na trabalhosa arte de apreensão. Há outros que fazem viagens similares em propostas menos fatigantes da chamada baixa literatura, seja Og Mandino ou o famigerado Paulo Coelho.
Hoje, para mim, não importa, é como diz o funk, "Cada um no seu quadrado".

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