A diferença entre o fanático e o que tem certeza é nenhuma. Penso que ambos estão enceguecidos por uma crença absolutista sobre uma determinada verdade que para eles se apresenta como a Verdade.
Os fanáticos empreendem uma via de total obediência a cânones e dogmas elaborados por outrem e que a eles servem como muletas, óculos e anteparos para veicular no mundo, para guiar seus próprios passos e para interpretar os fenômenos do cotidiano. Os que têm certezas se cristalizam em suas próprias concepções e com elas açoitam os que delas discordam, bem como as impõem aos que partilham de suas experiências. Ambos, os fanáticos e os que têm certezas, são pessoas com as quais é impossível conversar, apresentar contra argumentos, questionar e muito menos constituir projetos em comum.
Penso que todos nós temos aspectos de uns e de outros, muitas vezes em determinados momentos de nossas histórias, seja presentemente ou no longínquo passado de outrora. Talvez tenhamos nos comprometido negativamente com a humanidade e com a história do planeta Terra justamente pela intransigência extrema com os comportamentos alheios, a imposição de nossos ideais, o julgamento sumário e a aplicação de penas duras e criadoras de tantos sofrimentos e dores nos corações e corpos de nossos irmãos de estrada.
Das grandes atrocidades às pequenas. Quem não foi tirano de um povo pode ter sido o ditador de um lar, guiando as vidas que ali se desenvolviam segundo preceitos estritos e castradores. Dos famosos e longos discursos ideologizadores até os sermões e infindas falas familiares acerca do que é certo e o que errado, sem nem ao menos escutar as perspectivas dos envolvidos, forjaram-se ambientes deletérios e malsãos. Aí estavam os que tiveram certezas.
Dos grandes templos religiosos aos grandes partidos políticos, uma mesma estratégia para formar pessoas dependentes de um sistema e escravizadas em suas mentes por regras e explicações lógicas na forma mas profundamente negadoras da experiência comum e da natureza humana. Aqui os fanáticos de toda ordem.
Vencer o fanatismo, vencer certezas, é paradoxalmente, criar uma crença, a de que não há verdades permanentes, de que há uma mutabilidade constante em todos os processos humanos e naturais, de que necessitamos muito dos outros, de que estarmos em harmonia e tentando compreender pontos diversos dos nossos, abrirá novos horizontes de comunhão onde energias fluirão com maior velocidade e intensidade, diminuindo doenças físicas e espirituais.
Viver bem será uma conquista dependente de imbuir nosso ser da famosa frase pronunciada por Sócrates: "Só sei que nada sei". Sócrates é um paradigma antifanatismo e anticertezas, um homem que por meio de seu exemplo de vida e de suas máximas, ultrapassou os séculos, tornando-se um arauto da vida plena.
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