Uma coisa que fica muito clara na observação do comportamento das pessoas, é que idade não tem nada a ver com maturidade. Há jovens extremamente maduros e idosos muito infantis. A idade é apenas um registro civil que indica um período encarnatório iniciado e nos auxilia a acompanhar mais conscientemente a condução do nosso processo de vida até o momento de despedida da experiência corpórea terrena.
Vê-se tanta vida, tanta alegria e tanta juventude em pessoas de todas as idades, e também em variadas extrações etárias encontram-se pessoas que apenas carregam um corpo e pouco traduzem da vivacidade e do interesse em aprofundar sua experiência de vida. Dewey expressa que uma pessoa plenamente viva é uma pessoa que se reconstrói continuamente, reformula suas ideias, reconduz seus comportamentos mediante um intenso labor de auto e de co-educação. Assim há mortos e vivos que passam uns pelos outros como transeuntes do mundo estando todos aparentemente na mesma condição. A morte e a velhice são a expressão de uma vida sem cor, destituída de significados profundos, dependente de ideias fixas e de condutas reprodutivas.
A maturidade é o esforço por ser adulto. Kant fala na maioridade da razão, o esclarecimento de quem pensa por si com autonomia; e a menoridade não relacionada com a idade mas com a dependência, do deixar que o mundo e as pessoas digam quem você é, o que deve fazer, o que deve pensar, quais são suas metas.
Grande parte do trabalho das instituições é impedir a novidade, coibir a penetração de novos paradigmas, com o único escopo de garantir o controle do comportamento dos indivíduos. Quanto mais gente em estado de minoridade intelectual, mais fácil manter o sistema funcionando.
Porém, tornar-se maduro, adulto, não é coisa de pouca monta. Carlo Dorafatti diz que implica em suportar incertezas, já que não há um modelo de como existir, do que e a quem seguir. Numa perspectiva existencialista, não há segurança de que o caminho eleito será o melhor, aliás, não há caminho melhor, só há caminhos, e eles têm que ser vividos e redirecionados no momento em que se sente e se pensa que eles esgotaram as possibilidades de nos motivar ao crescimento.
Para tanto temos que nos acolher, que nos aceitar na nossa condição de absoluta humanidade, dentro das limitações que carregamos em nossas características básicas.
Penso que um elemento profundamente vinculado com a dificuldade de crescimento, de amadurecimento, que carreamos ao longo da vida, seja a distância e a incongruência entre os discursos mentais que vamos construindo e proferindo e a forma como nos conduzimos em ações. "Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço".
Li num livro do Corrado Augias que Sêneca, estoico fervoroso defensor da coerência e da moralidade estrita ao Bem comum, reconhecia que, em última instância, ao humano se deve distinguir o discurso da ação, já que a vida real nos coloca em situações em que viver a radicalidade do pensamento seria ao menos impossível. Impossível ou não, penso que é a tarefa que está posta, de difícil execução, mas é a única que justifica nossa passagem nesse mundo, é a mudança da capacidade de discernimento; ou seja, desenvolver um esforço consciente em rever profundamente nossas crenças de todos os tipos, científicas, espirituais, sociais, políticas etc, e mediante aquilo que se vai entendendo como válido, empreender ações que as realizem, assim, vivendo a práxis de Freire, a experiência de Dewey, reconstruindo a nós em nós mesmos e, na interação com o mundo, auxiliando o mesmo a se repensar e se realizar de maneira diversa.
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