mercoledì 3 ottobre 2012

O que vocês fazem da meia noite às seis?

Até um pouco da metade da minha carreira, eu tinha o péssimo gosto de jogar frases de efeito sobre os alunos, sem sequer me dar conta da relevância das palavras de um professor sobre aqueles que estão sob sua orientação.
Há pouco mais de um mês recebi um e-mail de uma ex-aluna, Marineuza, uma pessoa muito especial, daquelas que a gente agradece à Deus por ter conhecido. Excelente esposa, mãe, aluna, educadora e profissional. Entre gentis palavras de carinho e de saudade, ela citou que ainda relevava um dito que à época era frequente em minhas aulas: "O que vocês fazem da meia noite às seis?", o que invariavelmente era uma resposta às reclamações quanto ao excesso de leituras e ao tempo escasso para cumpri-las.
Eu ao responder o e-mail pedi escusas, informando o quanto eu havia mudado em relação às orientações que dava em aula e que hoje eu considerava que o tempo de descanso é fundamental para o bem estar de qualquer ser humano.
Em verdade, o que sucedia, é que eu simplesmente reproduzia como professora comportamentos aprendidos com meus mestres mais rigorosos, os quais foram meus guias inconscientemente perpetuados numa série de atitudes despóticas que eu assimilei e propaguei por mais de uma década.
Realmente acredito na necessidade do cumprimento do dever e de atender às solicitações de professores, afinal meu último curso como aluna foi em 2008 e, no concernente aos deveres em disciplinas, com dificuldades ou não, eu os cumpri, abrindo mão apenas daquilo que dizia respeito somente a mim. Mesmo durante as aulas eu sempre procurei estar presente e atenta, bem como dignificar a ação dos professores com meu interesse e envolvimento.
Porém, penso que um professor deve relevar as condições de vida real dos alunos, deixando apenas de tentar fazer deles o ideal que carrega dentro de si. O cuidado em não projetar dificuldades pessoais, recalques psicológicos e vinganças sócio-econômico-culturais sobre os alunos, é de suma importância para criar um ambiente humanizado e pleno de energias salutares para despertar o desejo de estudar.
Tenho claro para mim, hoje, que meus alunos trabalhadores em dupla jornada, muitas vezes tardiamente chegando à universidade, pais de família, com filhos e marido ou esposa em casa, vítimas de desigualdades sócio-culturais e econômicas, umas tantas outras gerados em ambientes destrutivos para a auto-estima, não estão nos bancos universitários para gerarem excelências, as quais muitas vezes geram em verdade, mas ali estão para exercerem dignamente suas profissões e para darem saltos qualitativos em suas construções como pessoas humanas e humanizadas em si mesmas e nas suas projeções no mundo. Excelências acadêmicas pertencem ao mundo da ciência e há aqueles que estão em condições cognitivas e predispostos psicologicamente à uma massacrante rotina de estudos que levem à descobertas e desenvolvimento significativo do conhecimento humano. Mas eu, que não sou acadêmica de alto nível científico, penso ter contribuído, somente ao final da carreira, formando, para o mundo, pessoas que eu desejei mais felizes e mais competentes em suas áreas, mais conscientes de seus misteres.
Claro que os mais dedicados, os que abrem mão de determinadas regalias pessoais, de alguns momentos de tranquilidade e conforto, vão se sair melhor do que aqueles que levam o estudo "na flauta", porém, devemos criar estratégias mais agradáveis e gentis que atendam com radicalidade à construção do conhecimento e, ao mesmo tempo, reforcem o reconhecimento do indivíduo acerca de suas capacidades.
Nos últimos anos eu era exigente com os que levam a vida na "flauta", mas sempre dentro dos padrões gerais que estabelecia à todos, orientações sobre leituras pontuais mais significativas, uso da sala de aula para leitura e estudo compartilhado, estratégias de sínteses em mapas conceituais e atividades orais coletivas para divulgação de novos conhecimentos e suas fontes teóricas encontradas por todos e cada um. A relação imediata entre o lido, discutido e compreendido e os afazeres da profissão em educação, eram mais produtivos do que minhas exigências iniciais da carreira, as quais produziram em muitos ojeriza pelo estudo.
Diria eu agora à Marineuza, querida do meu coração, organize seu tempo para a dupla jornada de trabalho, empresa e casa, dedique-se continuamente aos estudos, mas sempre, sempre e sempre, abra espaços em sua jornada para o amor do marido e dos filhos, para a convivência na alegria e no cultivo dos pequenos prazeres à mesa, junto à natureza e nas festividades familiares e com amigos, o que ela em verdade sempre fez. A vida é, como dizia meu querido e inesquecível professor de Lógica, João José Itagyba Mariuzzo, um tripé, trabalho-lazer-estudo. Havendo organização e bom senso, há lugar para tudo, há tempo para dormir da meia noite às seis ou nos horários que nossas condições reais de vida permitam.

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