giovedì 4 ottobre 2012

Maturidade e crescimento

Uma coisa que fica muito clara na observação do comportamento das pessoas, é que idade não tem nada a ver com maturidade. Há jovens extremamente maduros e idosos muito infantis. A idade é apenas um registro civil que indica um período encarnatório iniciado e nos auxilia a acompanhar mais conscientemente a condução do nosso processo de vida até o momento de despedida da experiência corpórea terrena.
Vê-se tanta vida, tanta alegria e tanta juventude em pessoas de todas as idades, e também em variadas extrações etárias encontram-se pessoas que apenas carregam um corpo e pouco traduzem da vivacidade e do interesse em aprofundar sua experiência de vida. Dewey expressa que uma pessoa plenamente viva é uma pessoa que se reconstrói continuamente, reformula suas ideias, reconduz seus comportamentos mediante um intenso labor de auto e de co-educação. Assim há mortos e vivos que passam uns pelos outros como transeuntes do mundo estando todos aparentemente na mesma condição. A morte e a velhice são a expressão de uma vida sem cor, destituída de significados profundos, dependente de ideias fixas e de condutas reprodutivas.
A maturidade é o esforço por ser adulto. Kant fala na maioridade da razão, o esclarecimento de quem pensa por si com autonomia; e a menoridade não relacionada com a idade mas com a dependência, do deixar que o mundo e as pessoas digam quem você é, o que deve fazer, o que deve pensar, quais são suas metas.
Grande parte do trabalho das instituições é impedir a novidade, coibir a penetração de novos paradigmas, com o único escopo de garantir o controle do comportamento dos indivíduos. Quanto mais gente em estado de minoridade intelectual, mais fácil manter o sistema funcionando.
Porém, tornar-se maduro, adulto, não é coisa de pouca monta. Carlo Dorafatti diz que implica em suportar incertezas, já que não há um modelo de como existir, do que e a quem seguir. Numa perspectiva existencialista,  não há segurança de que o caminho eleito será o melhor, aliás, não há caminho melhor, só há caminhos, e eles têm que ser vividos e redirecionados no momento em que se sente e se pensa que eles esgotaram as possibilidades de nos motivar ao crescimento.
Para tanto temos que nos acolher, que nos aceitar na nossa condição de absoluta humanidade, dentro das limitações que carregamos em nossas características básicas.
Penso que um elemento profundamente vinculado com a dificuldade de crescimento, de amadurecimento, que carreamos ao longo da vida, seja a distância e a incongruência entre os discursos mentais que vamos construindo e proferindo e a forma como nos conduzimos em ações. "Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço".
Li num livro do Corrado Augias que Sêneca, estoico fervoroso defensor da coerência e da moralidade estrita ao Bem comum, reconhecia que, em última instância, ao humano se deve distinguir o discurso da ação, já que a vida real nos coloca em situações em que viver a radicalidade do pensamento seria ao menos impossível. Impossível ou não, penso que é a tarefa que está posta, de difícil execução, mas é a única que justifica nossa passagem nesse mundo, é a mudança da capacidade de discernimento; ou seja, desenvolver um esforço consciente em rever profundamente nossas crenças de todos os tipos, científicas, espirituais, sociais, políticas etc, e mediante aquilo que se vai entendendo como válido, empreender ações que as realizem, assim, vivendo a práxis de Freire, a experiência de Dewey, reconstruindo a nós em nós mesmos e, na interação com o mundo, auxiliando o mesmo a se repensar e se realizar de maneira diversa.

mercoledì 3 ottobre 2012

O que vocês fazem da meia noite às seis?

Até um pouco da metade da minha carreira, eu tinha o péssimo gosto de jogar frases de efeito sobre os alunos, sem sequer me dar conta da relevância das palavras de um professor sobre aqueles que estão sob sua orientação.
Há pouco mais de um mês recebi um e-mail de uma ex-aluna, Marineuza, uma pessoa muito especial, daquelas que a gente agradece à Deus por ter conhecido. Excelente esposa, mãe, aluna, educadora e profissional. Entre gentis palavras de carinho e de saudade, ela citou que ainda relevava um dito que à época era frequente em minhas aulas: "O que vocês fazem da meia noite às seis?", o que invariavelmente era uma resposta às reclamações quanto ao excesso de leituras e ao tempo escasso para cumpri-las.
Eu ao responder o e-mail pedi escusas, informando o quanto eu havia mudado em relação às orientações que dava em aula e que hoje eu considerava que o tempo de descanso é fundamental para o bem estar de qualquer ser humano.
Em verdade, o que sucedia, é que eu simplesmente reproduzia como professora comportamentos aprendidos com meus mestres mais rigorosos, os quais foram meus guias inconscientemente perpetuados numa série de atitudes despóticas que eu assimilei e propaguei por mais de uma década.
Realmente acredito na necessidade do cumprimento do dever e de atender às solicitações de professores, afinal meu último curso como aluna foi em 2008 e, no concernente aos deveres em disciplinas, com dificuldades ou não, eu os cumpri, abrindo mão apenas daquilo que dizia respeito somente a mim. Mesmo durante as aulas eu sempre procurei estar presente e atenta, bem como dignificar a ação dos professores com meu interesse e envolvimento.
Porém, penso que um professor deve relevar as condições de vida real dos alunos, deixando apenas de tentar fazer deles o ideal que carrega dentro de si. O cuidado em não projetar dificuldades pessoais, recalques psicológicos e vinganças sócio-econômico-culturais sobre os alunos, é de suma importância para criar um ambiente humanizado e pleno de energias salutares para despertar o desejo de estudar.
Tenho claro para mim, hoje, que meus alunos trabalhadores em dupla jornada, muitas vezes tardiamente chegando à universidade, pais de família, com filhos e marido ou esposa em casa, vítimas de desigualdades sócio-culturais e econômicas, umas tantas outras gerados em ambientes destrutivos para a auto-estima, não estão nos bancos universitários para gerarem excelências, as quais muitas vezes geram em verdade, mas ali estão para exercerem dignamente suas profissões e para darem saltos qualitativos em suas construções como pessoas humanas e humanizadas em si mesmas e nas suas projeções no mundo. Excelências acadêmicas pertencem ao mundo da ciência e há aqueles que estão em condições cognitivas e predispostos psicologicamente à uma massacrante rotina de estudos que levem à descobertas e desenvolvimento significativo do conhecimento humano. Mas eu, que não sou acadêmica de alto nível científico, penso ter contribuído, somente ao final da carreira, formando, para o mundo, pessoas que eu desejei mais felizes e mais competentes em suas áreas, mais conscientes de seus misteres.
Claro que os mais dedicados, os que abrem mão de determinadas regalias pessoais, de alguns momentos de tranquilidade e conforto, vão se sair melhor do que aqueles que levam o estudo "na flauta", porém, devemos criar estratégias mais agradáveis e gentis que atendam com radicalidade à construção do conhecimento e, ao mesmo tempo, reforcem o reconhecimento do indivíduo acerca de suas capacidades.
Nos últimos anos eu era exigente com os que levam a vida na "flauta", mas sempre dentro dos padrões gerais que estabelecia à todos, orientações sobre leituras pontuais mais significativas, uso da sala de aula para leitura e estudo compartilhado, estratégias de sínteses em mapas conceituais e atividades orais coletivas para divulgação de novos conhecimentos e suas fontes teóricas encontradas por todos e cada um. A relação imediata entre o lido, discutido e compreendido e os afazeres da profissão em educação, eram mais produtivos do que minhas exigências iniciais da carreira, as quais produziram em muitos ojeriza pelo estudo.
Diria eu agora à Marineuza, querida do meu coração, organize seu tempo para a dupla jornada de trabalho, empresa e casa, dedique-se continuamente aos estudos, mas sempre, sempre e sempre, abra espaços em sua jornada para o amor do marido e dos filhos, para a convivência na alegria e no cultivo dos pequenos prazeres à mesa, junto à natureza e nas festividades familiares e com amigos, o que ela em verdade sempre fez. A vida é, como dizia meu querido e inesquecível professor de Lógica, João José Itagyba Mariuzzo, um tripé, trabalho-lazer-estudo. Havendo organização e bom senso, há lugar para tudo, há tempo para dormir da meia noite às seis ou nos horários que nossas condições reais de vida permitam.

martedì 2 ottobre 2012

Interregno

Fiquei um bom tempo sem escrever... meu filho mais novo veio me visitar aqui na Itália, ficou comigo de maio até agosto, e com a sua partida, é como se eu ficasse dividida, com ele voltou ao Brasil um pedaço de mim e eu não senti a inspiração, o desejo, o impulso de escrever, desde então.
Mas ontem, assistindo ao programa televisivo Che tempo che fa, deparei com uma belíssima fala de Roberto Saviano, na qual ele descreveu a trajetória do pianista Michel Petrucciani, portador de uma doença incurável que lhe partiu os ossos por toda a vida, mas nunca o impediu de desenvolver e aprimorar seu talento. Com dores físicas intensas, inclusive com ossos partidos durante seus concertos, ele nunca deixou de praticar ou interrompeu uma apresentação.
Eu, com uma vida tranquila, sem problemas físicos ou psicológicos de grande monta, com tanto amor e amizade em meu entorno, me dei ao luxo de não ter inspiração. Larguei uma vida organizada e estável junto aos meus queridos do coração para viver um amor, enfrentar o desafio de uma nova vida num lugar distante e diverso, com uma rotina agradável e benfazeja e me limito a me deixar dominar por saudades... quando há tanto a partilhar... penso, refletindo agora, que é um dever compartilhar o pouco que se tenha, e o que eu tenho são minhas palavras como veículo de meus sentimentos e pensamentos. Consciente do poder da fala de Saviano sobre meu animo d'alma, desejo hoje novamente exercer esse meu pequeno mister.