giovedì 9 agosto 2012

Quando um segundo dura uma eternidade

Muitas ideias vêm durante o sono. Há aqueles sonhos, desdobramentos ou viagens astrais, nos quais a gente vive situações muito claras, sequenciadas logicamente, detalhadas, nas quais vivemos um filme colorido em que somos espectadores e atores simultaneamente. Há os sonhos propriamente ditos em que se misturam imagens que entraram desavisadamente em nosso cérebro, pela visão periférica por exemplo, ou coisas que conversamos, problemas que nos acometem, ideias fixas e tudo muito desconexo, numa sequência quase interminável de coisas, pessoas e situações, como macaquinhos que pulam de galho em galho e não chegam em lugar algum.
Quantas ideias a gente acaba tendo nos sonhos... eu já cheguei à aula em sonho, aplicado uma prova para a turma, tirado a duvida de uma aluna e observado quem havia faltado. Quando acordei, estava com a prova pronta na cabeça, nao precisei nem escrever. Entrando na sala de aula observei que a aluna que havia faltado em sonhos também não havia comparecido. A mesma aluna do sonho fez novamente a pergunta e eu então me dei conta do acontecido, contei para a classe sobre o sonho e uma aluna, muito tímida, levantou a mão e disse que havia tido o mesmo sonho e estava assustada. Todos rimos e eu me certifiquei que não havia sido um mero sonho, mas havíamos vivido um novo conceito de viagem no tempo.
Acordo muitas vezes com temas prontos, aí começo a escrever mentalmente e, depois que me levanto, vai tudo para o esquecimento. Então a saída muita vezes é ir direto para o computador. Quando eu estava atuando como professora, era impossível escrever porque os horários eram saltados, muitos iniciando às 7h30' da manhã, outros às 14h e os da noite lá pelas 19h. Simplesmente não conseguia escrever porque a inspiração vinha, o concatenamento das ideias também, e quando havia o tempo disponível, não atingia a qualidade e a originalidade do momento inicial. Na verdade eu perdia o impulso, o élan.
Hoje sonhei com "quando um segundo dura uma eternidade", eu assistia cenas em que eu me via e ao mesmo tempo vivia determinada situação; passei a analisar o ocorrido e refleti sobre como muitas vezes vivemos tao intensamente, algo que vale pela eternidade. Acordei, escrevi a ideia em um diário e aqui estou eu.
Não pensei apenas no sentido em que há uma diferença entre o tempo cronológico e o tempo psicológico. Quando estamos numa situação agradável o tempo voa e quando vivemos um momento desagradável parece interminável. Mas o foco da minha reflexão foi o do quando se estende o tempo quando é intensamente vivido, mesmo que num átimo. Por isso penso que perdi muito tempo na vida em coisas que demandavam muitas horas mas pouco significado de aprendizado, enquanto em situações e tempos mínimos tive grandes saltos qualitativos para minha existência.
Aqui se pode pensar em kronos, o tempo lógico, sequencial e quantitativo, em contraposição à kairós, o tempo da oportunidade, da vivência da divindade, do indeterminado, da qualificação das experiências. Assisti duas palestras nas quais a Dra. Daniela Taibo Xisto, uma preciosa filósofa, discorria sobre tais conceitos de tempo, e fiquei encantada com a clareza com que ela expôs, nas duas ocasiões, ideias tão fora das preocupações correntes de todos nós. Numa ocasião ela tratava do filme As Horas, The Hours, dirigido por Stephen Daldry, e na outra, ela falava sobre Baudelaire e sua influência sobre Marcel Proust.
Há situações que se repetem interminavelmente nas nossas vidas individuais assim como nas vidas humanas em diversos tempos e espaços. São tempos de vivência em que autoreplicamos arquétipos manifestados mecanicamente, como se não tivéssemos forças para agir de outra maneira, presos à kronos. Há aqueles fulgores de intensidade quando usamos da vontade de potência, como diz Nietzsche. A criatividade, a transcendência de comportamentos usuais, a originalidade e a investida no novo nos permitem viver um tempo imprevisto, o tempo de kairós.
Penso que quando eu abandonar os corpos de natureza física, e eu for fazer a transferência definitiva de meus arquivos de experiências humanas para os meus corpos sutis, o que ocorrerá será a colheita de tudo que vivi enquanto kairós como ganho e salto evolutivo, e tudo o que vivi na condição de kronos será sintetizado como perda e limitação.
O lance é recriar ao máximo situações nas quais vivamos intensamente, mas não como momentos excepcionais porque artificialmente gestados, mas porque resignificados por nós. Um simples ato cotidiano pode ser modificado em um pequeno aspecto e assim fazer uma brutal diferença. Recordo-me de aulas em que tratávamos do mesmo assunto pelo vigésimo ano consecutivo, mas, em virtude da intervenção de um aluno e a minha aquiescência, caminhamos por um novo mundo de reflexões e de recondução de propostas primariamente esboçadas. Se eu ficasse naquele instante presa ao cronograma e ao pré-determinado, não haveria vida e intensidade na vivência, minha e dos alunos, daquele assunto aparentemente banal para eles e para mim sempre repetitivo.
Acreditar que somos os criadores do sentido do tempo nos faz avançar na proposição de que podemos e devemos nos lançar em kairós no jogo da vida nas mínimas circunstâncias a fim de transcendermos os limites impostos pelo condicionamento de kronos.

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