mercoledì 15 agosto 2012

Inteligência e amor, tarefa de professor...


Ouvi um senhor falar com um  outro e o assunto eram profissões que os filhos e os netos deveriam seguir. Um dizia que frequentar universidade era uma besteira, afinal há tantos diplomados que aos 40 anos ainda não tem um posto de trabalho seguro e compatível com a categoria de estudo. O outro defendia a frequência acadêmica dos jovens dizendo da importância da qualificação. Assim os argumentos se sobrepunham até que o primeiro disse que "Inclusive é uma besteira estudar para ser professor, vale menos que um contador, ninguém dá nenhum valor a tal profissional." Além de desprezar o ser professor, ainda desqualificou os contadores. Detalhe: o interlocutor é de uma família de professores... e evidentemente fez a defesa da profissão.
Eu como ex-professora sou professora sempre... todos os meus estudos foram acerca da profissionalidade e da vocação do ser professor. Não tenho como negar: quero puxar a minha sardinha pra brasa depois da indignação ao acompanhar a conversa do outro lado da cerca viva.
Minha vontade era interferir, o que o resquício de educação que a minha mãe me deu impediu de fazer. Aquele senhor que defenestrava minha profissão sabe ler e escrever, é industrial e para gerir sua empresa com certeza utiliza inúmeros conceitos e técnicas não aprendidos apenas por empiria mas com orientações precisas, ainda que numa escola técnica. Seus filhos e netos também estudaram, assim como sua esposa e seus funcionários, todos são alfabetizados, contam e têm conhecimentos gerais que permitem ler jornais, acompanhar a política, calcular seus ganhos e débitos, raciocinar sobre coisas complexas que ampliam suas vidas para além dos limites da fisiologia corporal. Ah, gostaria também de saber se a empresa do dito senhor funciona sem um contador...
Sabe-se do valor que elites intelectuais sempre deram aos professores. Enquanto homens práticos e imediatistas, donos da grana, sempre os desprezaram, principalmente aos que se arvoraram em ultrapassar os limites do treinamento, da capacitação, da reciclagem (todos termos vinculados a uma mera transmissão de informações e a uma relação de total separação sujeito-objeto, professor-aluno, conhecimento de quem ensina-ignorância de quem aprende). A formação longa e cuidadosa dos filósofos da antiguidade é confrontada hoje com a vertiginosa formação em dois e três anos, com um retrocesso aos métodos de memorização e às respostas em poucas linhas e extremamente objetivas. A geração da leitura dinâmica não resiste ao fruir de uma poesia, de uma música instrumental complexa, de um filme reflexivo, de um livro denso... não consegue analisar ideologias, selecionar valores, definir caminhos alternativos. Geração fruto da educação fast food -junk food de fácil digestão, com poucos nutrientes e altamente calórica, que dá mais em menos tempo e não serve para coisa alguma. Realmente, os professores dessa geração eu também não valorizo.
De qualquer maneira, eu também não quero professores adequados ao mundo do trabalho, às prerrogativas do capital, aos interesses imediatistas dos alunos e das instituições educativas. Quero professores que interfiram nas  certezas da sociedade, que proporcionem situações de aprendizagem nas quais os alunos sejam os construtores de seus próprios conhecimentos. Quero professores e alunos indignados com a dor do mundo e sonhadores de novos caminhos.
Lembro-me de ser uma jovem e petulante professora que dizia: educação não é uma questão de amor, é apenas uma questão de cognição, de inteligência. Ora, penso hoje, uma inteligência não tem necessariamente que considerar sentimentos. Uma economia à serviço da inteligência observa uma fábrica e seus funcionários do ponto de vista matemático. O mundo para um capitalista é um lugar para obter lucros e os seres humanos são apenas alvos consumidores de produtos inúteis para sua saúde física e mental. Não entram sentimentos, conta apenas a inteligência de manipular todo o sistema para o alcance de objetivos, que, em realidade, não atendem nem ao menos aos seus criadores, que, ao final, também ficarão velhos, doentes, débeis e receberão o tratamento que dispensaram toda a vida aos seus consemelhantes, os quais aprenderam empiricamente o que é um ser humano, agora descartável. Também pessoas extremamente sentimentalóides, sem reflexão crítica, são joguetes fáceis nas mãos da mídia, da sociedade de consumo, dos políticos inescrupulosos.
Diz Henrique José de Souza "Pouco valor possui quem tem inteligência e nenhum amor; do mesmo modo que muito amor e pouca inteligência. A Lei exige que as duas conchas da balança estejam no fiel ou em perfeito equilíbrio." Pode-se dizer que a mediania aristotélica ainda vale. Nem tanto ao céu nem tanto à terra. De tudo um pouco. Um senso de raciocínio adequado sob a mira cuidadosa do sentimento. Schiller falava do equilíbrio entre razão e sensibilidade, na qual a sensibilidade seria o juiz das ações racionais. Um exemplo: a Revolução Francesa foi propulsionada por altos e dignos valores filosóficos direcionados ao Homem e, para alcançá-los, cometeu barbaridades contra a humanidade, desfigurando ética e esteticamente o horizonte que tanto almejara.
Um mundo sem professores que possam instigar o espanto grego, a perplexidade por meio da reflexão contínua, será o mundo que tantos defendem, o mundo da técnica, da vida prática, dos homens-coisas que fazem o moto perpétuo do capital, sem sentido maior  do que o de ganhar uma grana legal para ter uma casa, um carro, garantir os churrascos de domingo e o jogo de futebol domingo à tarde. Para esse mundo, professores, livros, poesia e arte não valem coisa alguma.
Professores valem muito, sim, desde que sejam semeadores de pensamentos e sentimentos propugnadores de uma humanidade melhor em cada um e para todos, forjando o desejo de um mundo onde o ganho seja útil para a vida prática e para o fruir da alma, para a alegria de sua casa e também de seus irmãos conhecidos e desconhecidos, para a evolução da espécie e para o conforto de corpos e espíritos.

Nessun commento:

Posta un commento