Há algum tempo atrás, num final de semana, fomos, eu, meu companheiro e seu filho mais novo, assistir uma fala de um monge budista tibetano, aqui próximo, em Gardone. Foi uma tarde memorável em que aprendi uma forma interessante de meditação com mobilização e exteriorização de energias, a qual pude complementar com meus parcos conhecimentos de Reiki.
Também apreciei as explicações do monge acerca dos conceitos de karma e dharma, porém, creio que a mais profunda aprendizagem adveio de uma intervenção do garoto, na ocasião com 14 anos, acerca de um comentário meu.
Tenho o grave hábito de julgar pessoas e situações, só atentando para minha leviandade depois de externar meus juízos. E, durante a palestra, eu apreendia as falas do monaco e as relacionava com meus conhecimentos anteriores, além de ter participado sinceramente do exercício meditativo com uma integração verdadeira com o movimento de energias na sala. Porém, ao largo de toda essa manifestação de espiritualidade elevada, eu, dos porões dos meus hábitos arraigados de tantas existências pregressas, também manifestava, em minha consciência, o registro da observação sobre o comportamento das pessoas, do espaço e das coisas dispostas, julgando tudo e todos.
Ao sairmos da palestra-meditação, como sempre, iniciei uma conversação com os meus dois companheiros sobre o que havíamos aprendido com a fala do monge e quais as impressões deles acerca do ambiente. Eles, como de hábito, deram opiniões monossilábicas, e eu, como boa geminiana, expressei todas as minhas ideias acerca do evento, e, para coroar meu exibicionismo, finalizei com o comentário acerca do excesso de cuidado das pessoas presentes com a aparência física, indumentária e a mise-en-scène frente ao monge, tudo muito longe do conteúdo de tudo que ali foi discutido, o que para mim indicava a superficialidade dos comportamentos.
O filho de meu companheiro, como sempre o faz, me calou fundo com um simples comentário - o que também meus filhos fazem constantemente - disse-me que, na verdade, aquelas pessoas, só por estarem ali, já estavam aprendendo algo, o que demonstrava que já estavam se abrindo para a fala do monaco e isso constituía um grande valor.
Incrível como esse italianinho que nada expressa em termos de conhecimentos religiosos, tem uma imensa religiosidade com a natureza e a humanidade, demonstrando sensibilidade e elevação moral, que eu, com todos os meus salamaleques de conhecimentos teóricos, mal sinto o cheiro, que dirá demonstrar em forma de comportamento.
Nossos comportamentos nos revelam e meus comentários dizem do que ainda vai de lixo nos porões da minha inconsciência.
Revendo esse episódio, lembrei também da fala de uma palestrante espírita, a qual relatou que foi criticada em um centro espírita, no sentido de que ela falava de humildade e se apresentava com jóias e roupas caras e elegantes. Ela disse do quanto já havia se despido dos excessos que seu meio sócio-econômico lhe haviam impingindo em sua educação, e que aquilo que a pessoa criticava já era seu momento de superação.
Julgar os outros é na verdade apontar nossos próprios defeitos ou nossas qualidades. Se aprovamos alguém é porque essa pessoa espelha o que gostamos em nós. Se desaprovamos alguém é porque essa pessoa espelha o que nos desagrada em nós mesmos.
Eu, ao julgar aquelas pessoas acerca de sua superficialidade, não observei que quem focalizava a superficialidade era eu mesma, que estava ainda tão preocupada com esse aspecto que ainda o observava; quando algo sai de nosso foco é porque já não faz parte de nossa agenda evolutiva. Se eu ainda me preocupo em observar a superficialidade, é porque eu a superei exteriormente mas ainda carrego seus fantasmas dentro de mim, das minhas identidades anteriores que ainda insistem em me arrastar para seus vícios e eu, na minha atual condição de exercício de simplicidade, ainda sinto seus apelos.
Também quem disse que se apresentar com elegância e beleza é um valor negativo? Chico Xavier dizia que o mundo já tem muitas coisas feias para que a gente ainda se apresente com desmazelo.
Enfim, nao é auto-martírio consciencial expressar todos esse percurso reflexivo, mas um auto-alerta pessoal, para eu dar mais atenção às ideias que rondam minha cabeça e que são reflexos de um passado que deve ser valorizado como aprendizado, mas descartado enquanto modos de resolução de problemas que não mais encontram utilidade na atual proposta de vida.
Ao invés de criticar aquelas pessoas como superficiais, eu poderia ter o pensamento similar ao do meu filho "adotivo", ter a generosidade de ver o esforço daqueles que se aproximam do exercício de desenvolvimento espiritual, independente de suas aparências.
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