sabato 16 aprile 2016

Nem coxinhas, nem petralhas, chega de maniqueísmos!!!

Acreditar  no confronto entre o Bem e o Mal é simplificar demais a realidade. Eu não creio que o mal exista absolutamente e nem tampouco o bem na nossa dimensão humana de manifestação. Cada um de nós apresenta aspectos pendentes ao bem e outros ao mal. A questão é saber o que determina quem é bom e quem é mau, e disso vai depender fundamentalmente a qualificação que fazemos de nós mesmos e de outrem. O que é bom para um é mau para o outro e vice-versa.
Hoje o Brasil se apresenta como espelho da sua população com acesso aos meios de comunicação de massa e com voz ativa nas mídias sociais de relacionamento. Dividida entre coxinhas e petralhas, a população se expressa postando-se cada qual no lado que pensa ser o do bem e que automaticamente a qualifica como pessoa boa, pessoa do bem, e, obviamente, aquele diametralmente oposto é a encarnação do mal, pessoa má, pessoa do mal.
Eu mesma, tenho clara em mente a minha posição, mas ela não impede que eu tenha amigos nos dois grupos, tenho simpatia, amizade e admiração por pessoas de ambos os lados. Cada uma tem uma história própria, particular e original, demonstrada por atos e ideias proferidas. Eu, a partir da cosmovisão assumida por mim, avalio suas ações e pensamentos como bons ou maus. Assim, aqueles que concordam com minha posição estão ok e os que não são criticados negativamente. Porém, isso não pode consistir na avaliação da pessoa como um todo. No máximo posso dizer que não concordo com fulano neste ponto mas em outros posso estar ao seu lado e até mesmo tê-lo como um exemplo para mim.
Há pessoas que amo profundamente e às quais condeno atos e palavras, e outras que não posso nem ao menos ver, o tal caso do "meu santo não bate com os delas",  pelas quais tenho profunda admiração em virtude de suas condutas.
Não é de hoje que penso assim, e nem ao menos é de sempre, foi uma construção paulatina com avanços e recuos, com momentos de mais autenticidade e também de menos. Uma posição que me alcunhou algumas vezes de Pollyanna, sabonete e até Márcia a simpática, num sentido jocoso é claro. Mas eu não ligo não, não o faço para ser boazinha, é apenas a minha crença. Vejo em mim defeitos escabrosos e atitudes sublimes; todo dia travo uma luta em minha consciência para melhorar meus pensamentos e tentar, dentro da autenticidade, tratar as diferentes pessoas de maneira mais justa possível. Não precisa viver de beijinhos e abraços com os desafetos, mas é fundamental avaliá-los com a melhor das intenções e desassombro. Melhor mesmo é construir critérios claros do que é bom e do que é mau e assim analisar apenas os atos particulares e não generalizar para a qualificação da pessoa.
Assim, nem coxinhas nem petralhas, há apenas pessoas que se postam em posições diferentes. Ambos os lados devem se respeitar e divulgar suas convicções de maneira civilizada e aberta ao diálogo. Lembro sempre de uma fala de Paulo Freire, ouvida em uma palestra ou lida em um de seus livros, já não me recordo a fonte, nela ele disse que tinha amigos pessoais que eram inimigos políticos, os quais frequentavam sua casa e privavam de sua intimidade. Também do mesmo autor, há uma outra fala sobre a importância de sabermos contra quem e a favor de quem nós lutamos. Penso sobre a necessidade de termos argumentos claros e fundamentados sobre nossa posição e, ao mesmo tempo, cuidar da maneira pela qual devemos estabelecer nossa relação com o outro pela dialogicidade, ou seja, um diálogo que compreenda uma dialética discursiva, baseada em fatos concebidos pela apreensão do mundo por cada um dos interlocutores. Uma dialogicidade de auscultação recíproca.
Cansa a beleza tanto ódio, desrespeito às pessoas e nomeações qualificativas de baixo calão. Incitação à violências, promessas de desagravos futuros, figuras apocalípticas para dramatizar ainda mais o cenário, muito mais vinculadas ao subcérebro abdominal do que à capacidade cognitiva superior. É o medo da perda de status, de popularidade, de privilégios, de domínio e de poder que inflama as pessoas.
As paixões nos traem e nos fazem ficar reféns de nossas posições antigas, por puro medo de perder uma identidade construída arduamente ao longo da vida. Usando de instrumentos de reflexão pessoal
cada um pode analisar friamente sua própria conduta e os pensamentos que a fundamentam. Podemos claramente identificar nossos pontos positivos e negativos, e assim também com relação aos outros. Poderemos rever nossas antigas crenças, avaliar sua efetividade atual e assumir erros e corrigir condutas com vistas ao nosso aperfeiçoamento consciencial.
A questão fundamental agora é almejar um Brasil com pessoas mais autênticas, mais disponíveis para autoavaliações pessoais e intransferíveis, que assumam seus erros e empreendam caminhos de redirecionamento de ideais mais solidários e construtivos com vistas ao Bem Comum.
Qualquer grupo que se mantenha fora ou dentro da máquina do poder terá os mesmos deveres e direitos, deverá ser responsabilizado por suas ações e deverá ser respeitado nos seus encargos. E o cidadão que não é político profissional, deverá exercer sua politicidade todos os dias, não apenas em momentos cruciais, e ainda mais, deverá corrigir em sua própria conduta aquilo que denuncia em outrem. Visão ingênua da política para alguns, mas não importa, se não é para pensar grande então é chafurdar na mediocridade de viver segundo um pragmatismo brutal (não filosófico, é claro) ou de acordo com uma vulgarização leviana do maquiavélico "os fins justificam os meios". Nada disso. Acredito na possibilidade de um viver pautado pelo Bem Comum. Fora do que é correto vale tudo, e o vale tudo não serve nem para coxinhas nem para petralhas, nem para pessoa alguma. Todos nós somos muito melhores do que essa banalização da moral política.
Enfim, de posse da tarefa da construção contínua da humanidade em nós, também auxiliaremos os outros a se humanizarem. Toda denúncia é o anúncio de uma posição, de um ideal, de um desejo. Só espero que assim seja sem desqualificação de pessoas e sem considerações maniqueístas.

mercoledì 15 luglio 2015

Terapeutas como interlocutores para o crescimento pessoal

Haver companhia para uma interlocução inteligente, quando a gente está preparada para falar e ouvir com abertura de espírito, é algo de grande utilidade para avançarmos no nosso processo de crescimento pessoal, na busca de possíveis soluções para problemas íntimos e para o vislumbre de novas perspectivas para o projeto de vida.
Nossos interlocutores profissionais, como terapeutas e mestres, são companheiros que vão ao nosso lado, em determinadas etapas do caminho, nos auxiliando a observar a paisagem, a destacar aspectos ainda não identificados por nós, reforçando a observação dos fenômenos psicológicos constituídos em nós por nós mesmos, ao longo do percurso de vida.
Sempre fui incentivada a buscar auxílio psicológico mas apenas próximo aos 40 anos consegui me encaminhar para uma primeira experiência. Tive o cuidado de escolher um profissional reconhecido por sua competência e tive contato com textos escritos por ele para me certificar se sua abordagem seria adequada à minha concepção filosófica da vida. Não deu certo, ele estava sempre cansado, eu sem um objetivo claro e sempre me esquivando das sessões e, principalmente, das investiduras argumentativas dele. Na verdade eu sempre evitei um contato com um psicólogo porque temia profundamente que alguém vislumbrasse a persona constituída por mim em contraste com a realidade íntima do ser que sou, ou melhor, que eu pensava que era.
Levei ainda mais 11 anos para que novamente procurasse outro profissional. Mas a situação era outra... eu mais madura, à beira dos 50 anos, já num caminho de enfrentamento dos demônios criados intimamente, estava realmente empenhada em meu aprimoramento humano. Ao assistir palestras no youtube, encontrei alguém com características de pensamento e de cosmovisão que pudessem constituir um ambiente de diálogo compreensivo. Dessa vez, fui com um objetivo pontual e consegui, com o auxílio do terapeuta, analisar mais profundamente a problemática apresentada e construir instrumentos pessoais de superação, tudo por meio de diálogos, leituras, técnicas energéticas, tratamentos auxiliares com outros terapeutas, xamanismo, florais e tentativas de TRVP, terapia regressiva de vivências passadas. Realmente um tratamento que considerei de altas qualidade e efetividade.
Com certeza, hoje reavaliando, penso que ainda deixei muito entulho para ser remexido e coisas que, a partir daquela experiencia terapêutica, hoje emergem como uma consequência da ampliação da autoconsciência.
Desde criança tive a constante atividade, exercida com algumas amigas, de análise e autoanálise, mas hoje, pensando bem, creio que eram discursos de circunvoluções muito autoindulgentes, umas para com as outras. No fundo havia o medo inconsciente de conhecermos aspectos de nossas personalidades e assim ficávamos como a boiar na beira da praia, sem jamais mergulhar.
O mergulho no profundo de nós mesmos só é possível quando nos propusermos a desnudar publicamente nosso ser. Dizer a nós mesmos e aos outros quem já pensamos que somos. Reconhecer a humanidade em nós é entender que somos seres em processo, nos constituindo e reconstituindo dia a dia, etapa por etapa, no fluxo constante da vida que se traveste em corpos e identidades diferentes em tempos e espaços distantes. Do oceano profundo de nós mesmos emergem objetos desconhecidos e inclassificados, carentes de uma atenção analítica.
Um mergulho necessário que não pode ser empreendido sozinho; penso fundamental o acompanhamento de um terapeuta, em determinadas etapas de reflexão mais profunda. Mas, na impossibilidade do apoio especializado, temos a premente necessidade de colocar em ação nossa reflexão sistemática acerca dos nossos pensamentos, palavras e ações, com o fito de superação e estabelecimento de novas metas de conduta consciente.
Podemos também nos servir dos pensamentos de escritores, artistas, professores, amigos e parentes como mote para atentarmos mais profundamente para os conteúdos que emergem para nossa análise.
Mas, com certeza, devemos permitir a manifestação da sensibilidade mais acurada para resgatarmos os ecos dos contatos transdimensionais que nos permitem acessar, ainda que palidamente, o mistério da nossa própria identidade espiritual e que imprime as mazelas que resguardamos no inconsciente pessoal. Nossas projeções astrais e mentais, bem como os sonhos e os vislumbres diários de outros seres e dimensões nos fornecem conteúdos significativos.
Podemos registrar por escrito ou oralmente nossas reflexões, distinguindo as descrições fenomênicas das interpretações que empreendemos como tentativas de compreensão.
Entendo que somos criaturas imortais que se constituem continuamente nos evos e que, mergulhadas na materialidade mais densa, temos a oportunidade de entrar em contato mais direto com o resultado das experiências imemoriais. O nosso escopo é o desenvolvimento máximo das capacidades de autoexpressão de vida criada e cocriadora em simbiose homeostática com os demais seres dos universos... estamos indo  "ao infinito e além" como disse Buzz Lightyear em Toy Story.
Mas, para o reconhecimento de nós mesmos em nossas potencialidades de crescimento, é sempre bom ter um samaritano à beira do caminho a nos oferecer a água revigorante do poço de nosso imo. A associação solidária é característica fundamental da vida em todas as suas expressões, e, no nosso caso, para o nosso crescimento pessoal, ter a interlocuãao de terapeutas, profissionais ou não, é uma dádiva.

sabato 10 gennaio 2015

Tempos interessantes...

Em dezembro passado, assistindo ao programa "Leão Lobo visita" encontrei uma ideia motivadora para reflexão. O Leão Lobo entrevistava o cantor e compositor Leoni (Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=miIid-TPTp8>) e, na ocasião, o entrevistado comentava a frase, atribuída por ele a Confúcio, "que você viva tempos interessantes", desejando que todos nós possamos viver tais tempos interessantes. E ontem, acompanhando o curso dos acontecimentos gerados pelo atentado terrorista ao semanário satírico "Charlie Hebdo", fiquei pensando que era o momento de lançar mão da frase citada por Leoni.
Estou vivendo na Europa, no norte da Itália, desde 2011, e considero que ainda conheço pouco a cultura, a política e a consciência coletiva social, mas alguns fragmentos da realidade eu entendo que já vislumbro. Sei que ao manifestarmos uma opinião estamos sujeitos a fazer apontamentos superficiais, generalizantes e no limite distorcidos, porém é um exercício a que não posso me furtar, como cidadã do mundo, em virtude da gravidade da situação.
Nossas capacidades morais e intelectuais são postas à prova e reconceituadas à força pelas circunstâncias emergenciais, pelas contingências que nos afrontam sem pedir licença, daí o interesse de Leoni pelos "tempos interessantes". No marasmo dos dias equilibrados e harmônicos repetimos ad aeternum as nossas virtudes constituídas e aplicadas em situações similares; não progredimos, não realizamos novas empreitadas evolucionárias; não desenvolvemos novas habilidades e competências. Nos tempos interessantes é que nos movimentamos em expansão de nós mesmos, de reencontro com os outros, que redimensionamos nossa tarefa no mundo e mergulhamos nos escaninhos de nossa consciência existencial. Os tempos interessantes nos apresentam graves conflitos e dificuldades imensas para veicularmos em situações inusitadas, principalmente se nos limitamos aos parcos recursos de nossas ideias cristalizadas, de nosso modus operandi caquético.
Reconhecer e encarar os chamados "tempos interessantes" é já uma sinalização de nossa acuidade. Há pessoas que vivem tais tempos sem se aperceberem da oportunidade ensejada para se reconhecerem impotentes, e dali, retirarem forças resilientes para sobrevivência pessoal e coletiva de um processo civilizatório que tenha coragem de se embrenhar por novas veredas. Há pessoas que não percebem os tempos interessantes. E há aqueles que os percebem mas repetem velhos jargões e velhas ideias que limitam a compreensão do fenômeno e, com certeza, se encaminham para velhos erros históricos. Muitos já pedem a pena de morte aos terroristas, como Marie Le Pen, a prefeita de Paris, representante da extrema direita xenófoba européia. Além é claro dos que, à voz miúda, desejam incorporar o "Capitão Nascimento" para erradicar o "mal islâmico da Europa".
Hoje se apresenta à Europa, se não ao mundo todo já globalizado, em termos econômicos, a partilha das misérias e a permanência dos guetos de privilégios. Depois do intenso eurocentrismo sociantropológico e do imperialismo econômico americano, pouco se vislumbra da riqueza proveniente das diferenças, e se faz ouvidos moucos para os lamentos e as necessidades dos historicamente espoliados.
Posso compreender o atentado terrorista mas não posso aceitar justificativas para ele. Uma coisa é o reconhecimento da situação de polaridade instituída entre o mundo islâmico e o mundo ocidental e outra é o assassinato de pessoas que exerciam sua liberdade de expressão. Agora não aceitar o terrorismo e denunciar as atrocidades por ele perpetradas, não implica em que eu renegue o estado de direito ocidentalmente constituído, ainda que visceralmente comprometido com um modelo capitalista-imperialista-eurocêntrico desrespeitoso com os deserdados da Terra. Há uma conquista humana em possuirmos um sistema jurídico que intermedeia o ato da injustiça e analisa causas e circunstâncias antes de aplicar determinadas penas. A pena de morte em si já é um ato bárbaro, mais ainda sendo imediata e sem julgamentos, constituindo-se numa arbitrariedade assustadora, como por exemplo, o extermínio de Osama bin Laden e Sadham Hussein pelo governo norte-americano, o qual coloca a sociedade ocidental em paridade com as atrocidades do terrorismo islâmico. Os atos das polícias que exterminam os prováveis culpados sem julgamento, colocam em xeque todo o sistema de crenças e valores democráticos bem como tiram a segurança de todos os cidadãos, fazendo de qualquer circunstância uma situação de exceção, como no caso da morte dos terroristas.
Não se pode resolver uma situação gravíssima como essa recorrendo aos recursos do "olho por olho, dente por dente". Preciso se faz instalar um diálogo humanamente despojado ainda que profundamente marcado pela dor de ambas as partes.
Preocupa-me a ligeireza e a irresponsabilidade com que se levantam vozes aqui na Itália e em várias partes da Europa, especialmente na França, com relação ao acirramento dos preconceitos, das discriminações, dos desejos de alijamento e extermínio, os quais impedem qualquer ato de racionalidade que considere a humanidade de todos os envolvidos. Termos como "essa gente estranha", e "esses invasores" demonstram uma análise da profundidade de um pires.
O eurocentrismo é uma cosmovisão não transcendida e nem ao menos consegue reconhecer as bases econômicas da criação desse caos histórico agora despejado às portas da Europa, a qual necessita urgentemente aprender a dialogar e não a se limitar à "caridade", originada num mal estar coletivo. Ambiguamente dá-se a esmola e o lavoro nero ou mesmo regulamentado, mas no vocabulário diário há sempre um chiste preconceituoso e vingativo de quem se sente prejudicado pela existência do outro.
Há que se exercitar a alteridade, de ver-se no outro, de se compreender quem é o outro, de encontrar as similaridades, de buscar as causas mútuas que originaram a ambos. As intervenções européia milenar e norte-americana centenária, nas sociedades africanas e árabes, deslocaram propósitos particulares políticos, econômicos e culturais de povos nômades, para um contexto global de modelo ocidental. Por motivações de exploração econômica, acionaram-se armas ideológicas de grande profundidade, as quais expulsaram povos e indivíduos de suas próprias culturas e ensejaram a constituição de uma miscelânia pasteurizada sem identidade clara que se alcunha de "terrorismo islâmico" de caráter histórico vingativo, o qual faz justiça com os próprios corpos. O terrorismo islâmico é renegado por várias autoridades religiosas do mundo islâmico, como Dalil Boubakeur, presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano e Imã da Grande Mesquita de Paris, o qual nomeou o evento de "ato bárbaro"; e também assim, penso eu, devem agir os líderes europeus e norte-americanos, não vinculando a cultura islâmica ao terrorismo.
São esses os "tempos interessantes" que creio vivemos; apesar de todo o horror que me causa, penso que é um grande momento para os processos civilizatórios europeu e islâmico se reverem, buscarem constituir uma nova história que não recorra aos erros do auto extermínio do passado.
Paz e Bem aos povos islâmicos e europeus!



mercoledì 5 novembre 2014

Um lugar luminoso para onde voltar

Ter a mente descontrolada é como guiar um carro em alta velocidade na estrada sem haver carta de habilitação, sem ter experiência prática e sem direção predefinida.
Pensamos de maneira natural achando isso a coisa mais normal do mundo, sem nos darmos conta de que os pensamentos que emitimos são pensados a partir de uma série de condicionamentos constituídos na resolução pregressa de problemas, seja na presente experiência dimensional ou em outras já vividas.
As formas e os conteúdos do pensar foram construídos em situações datadas e dentro de uma percepção limitada à nossa condição evolutiva de outrora. Porém, essas formas e conteúdos do pensar acabaram por constituir um padrão que nos escraviza, e se não estabelecermos um programa sistemático de questionar não apenas as ideias alheias, mas principalmente as nossas, não teremos a mínima condição de estabelecer uma ação crítica sobre o próprio pensar.
Estudar as crenças e valores que norteiam nossos pensamentos com criticidade e aporte de teorias oriundas de variadas fontes é adquirir a tal carta de habilitação; aplicar tais conhecimentos novos na análise das próprias ações norteadas pelos pensares é fazer o autoexame dos próprios pensamentos, é desenvolver a experiência prática no exercício de um pensar inteligentemente acionado, e não naturalmente mecanizado. A direção predefinida é o início, o meio e o fim... só quando nos damos conta do caos estabelecido no nosso pensar é que percebemos que vamos ao sabor das ondas, que estamos à mercê das circunstâncias; só aí é que nos percebemos sem direção; e no caminho de busca por entender melhor as formas e o conteúdo do nosso pensar é que vamos constituindo a direção, que a vamos escolhendo, ou melhor, talvez, é aí que a direção vai se desvelando como uma contradição, um destino escolhido, quase como uma verdade metafísica que só se revela na profunda experiência do mergulho do ser no fazer no mundo, na existência terrena.
Ao constituirmos um novo pensar acabamos por ter domínio de nossas próprias experiências e isso proporciona que a direção se revele nas relações que estabelecemos com nós próprios, com os outros, com o mundo, enfim, com a Vida.
No caos reconhecido encontraremos as sementes da ordem do pensar, não uma ordem limitadora mas um ordenar de liberação, um domínio de instrumentos inimaginados que nos permitam novas expressões sob novas crenças e novos valores.
Nao creio que a aquisição de um pensar mais consciente seja uma conquista perene e manifestada diuturnamente; creio no desejo de sobrevivência das velhas formas e dos velhos conteúdos que nos espreitam como seres animados a nos torturarem com promessas de sofrimentos, de culpas, de traumas, diminuindo a força da mudança em virtude do orgulho ferido, de um ego que urla na jaula do individualismo e da supremacia do egoísmo. Essas horas das dúvidas e dos inconformismos com a diferença são os estertores dos velhos pensares que precisamos, não matar, mas transmutar, fazer a alquimia do passado, aproveitando as antigas substâncias para a constituição de novos elementos mais adequados às novas formas e conteúdos do pensar.
A resposta mais adequada a esse embate do novo e do velho dentro do nosso pensar, ao meu ver, só pode ser dada pelo Amor, não falo dos sentimentos baratos que nomeamos amor, mas aquele senso de pertencimento no Todo, aquela empatia súbita com a alegria e as dores humanas e não humanas. O Amor é aquele lugar luminoso para onde voltar das refregas, das lutas, dos embates mentais que nos dilaceram, nos escravizam e nos torturam; o Amor é a metafísica última na sua única verdade do encontro do que há de Um em cada um e em todos ao mesmo tempo; o Amor é a única coisa que nos une, que nos pode unir, que nos pode iluminar e demonstrar a necessidade de novos pensares que sustentem a aproximação e a identificação na diferença.
Ter velhos pensamentos em confronto com novas realidades é que nos fazem sofrer; sinal de que precisamos rever as ideias para termos novas percepções sobre a realidade, e daí constituirmos novas crenças. Ao enfrentarmos com decisão o domínio de nosso pensar nos asseguramos de que temos um lugar luminoso para onde voltar: o olhar ansioso por atenção; as mãos abertas em súplica; os braços estendidos para o carinho, seja em qual dimensão for e com quaisquer que sejam os seres, sencientes ou não. Para esses lugares é que vamos quando nos despimos do pensar preconceituoso, preconcebido. 
Rever nossos pensamentos só pode nos enviar para um futuro-presente de Luz na comunhão dos diferentes que se fazem iguais na limpidez sem preconcepções. Rever conscientemente os pensamentos e suas formas é ter uma direção luminosa que só valide pensamentos que nos façam mais irmãos .

venerdì 26 settembre 2014

Extinção do currículo disciplinar

A motivação para a escritura do presente texto proveio da leitura de um post de um brilhante ex-aluno no facebook ( https://www.facebook.com/rafael.delimaoliveira/posts/985044434855081?comment_id=985633368129521&offset=0&total_comments=8&notif_t=feed_comment_reply ) e a provocação de uma amiga e ex-aluna para que eu me manifestasse.
O texto da postagem discute a reformulação do currículo escolar brasileiro. O autor discorre de maneira crítica e profunda, e, entre suas várias colocações se manifesta favorável a um currículo não disciplinar, nominalmente se referindo à extinção das disciplinas filosofia e sociologia da grade do Ensino Médio.
Eu tenho fortes vínculos com a concepção deweyana de educação, e, portanto, creio na eficácia de um currículo baseado em experiências nascidas de projetos construídos por alunos com a orientação de professores. Creio firmemente que as experiências da Escola da Ponte e da Amorim Lima, bem como da Escola Laboratório de John Dewey, atestam a possibilidade real de se produzir educação de maneira legítima e firmemente calcada no interesse particular e associado de pessoas inteligentes que interagem no ato de ensinar-aprender, independente da existência de um currículo disciplinar.
O currículo escolar brasileiro é imenso em termos de disciplinas e de conteúdos, com privilégios em carga horária para algumas delas, além de haver uma forte direção legal para a orientação dos objetivos, habilidades e competências descritos como ideais para a formação do cidadão e o domínio dos conhecimentos universais, notadamente exagerados na expectativa que acaba sendo um ideal com pouca capacidade de alumiar o trabalho docente na realidade da sala de aula, seja pública ou privada.
Por força desse post eu me entreguei a reminiscências escolares e, de verdade, procurei elencar o que aprendi na escola. Minha educação formal proporcionou muito conhecimento interpessoal, aprendi muito acerca das relações humanas; a escola permitiu que eu conhecesse pessoas interessantíssimas que me apresentaram músicas e músicos, leituras inquietantes, possibilidades de trabalho, novas religiosidades, caminhos políticos e experiências de amor e liberdade. Entre as pessoas distingo muitos professores, bibliotecários e colegas dos bancos escolares. Meus horizontes foram alargados e pude entrever um mundo para além dos limites familiares. Encontrei pares e parceiros que sem a escola formal não teriam atravessado meu caminho e eu teria, com certeza, me estreitado entre os universos de meu bairro e do centro da cidade onde trabalhava em um escritório. Realmente o currículo disciplinar em si pouco me proporcionou em aprendizagem.
Os conhecimentos atinentes às disciplinas só se tornaram realmente conhecidos quando atrelados aos meus interesses específicos, às minhas experiências emocionais, quando atingiram profundamente meus desejos de me constituir como pessoa participante do mundo e como subjetividade que se reconhecia, pouco a pouco, como alguém que pensava de maneira particular e com lances de intersubjetividade, de possibilidades de comunicação com outros seres da mesma espécie, da mesma ou de outras culturas.
Penso que a construção do real se dá num diálogo crítico constante com o ideal. Assim o fizeram Dewey, Paulo Freire, Anísio Teixeira e Rubem Alves, os mais importantes no meu referencial teórico. Como teóricos tiveram o privilégio de construir concepções mais radicalmente posicionadas, numa ação de desconstrução do pensamento vigente com vigor, clareza e profundidade de argumentos apaixonados e iluminadores de novos caminhos; agiram como profetas que apontavam para novos mundos mais acolhedores para a inteligência humana. 
Porém, os que tiveram que se imiscuir nas instituições educacionais organizadas, estabeleceram pontes entre a teoria e a prática convencional, afinal, no interior dos estabelecimentos de ensino e dos órgãos administrativos e de avaliação, militam pessoas das mais variadas tendências pedagógico-filosóficas. Para construir novas formas de educar dentro do estado de direito, dentro da sociedade organizada, foi necessária uma aproximação por fases adaptativas de ações intermediárias, afinal, teoria na cabeça de um pensador profissional não entra no dia-a-dia de um professor por osmose. A reconstruçao de um percurso de pensamento e de ação cotidiana não se faz por decreto, a não ser que se aja de forma autoritária, impingindo aos outros aquilo que foi esquematizado brilhantemente entre quatro paredes.
Seja por ação ideológica, por imposição burocrática ou por força física, não se convence ninguém a pensar e agir segundo a convicção alheia. Cada um age no limite entre o que pensa e o que querem que faça. Professores diariamente fazem um meio termo entre atender à orientações legais, determinações administrativas e sua própria concepção e filiação a determinada escola pedagógico-filosófica.
Eu gostaria de ver acontecer em massa a escola sem currículo disciplinar, mas quem saberia fazê-la? Quem saberia dirigir uma escola por projetos? Ou melhor, quantos a desejariam comigo? Na Escola da Ponte e na Amorim Lima as coisas aconteceram porque os educadores envolvidos acreditavam na proposta, estudaram e discutiram juntos, enfrentaram associadamente as dificuldades e o coro e o terrorismo burocrático dos " do contra". A escola sem currículo disciplinar só nascerá quando as pessoas da sociedade brasileira a desejarem, sejam leigos, educadores, políticos, intelectuais e a classe empresarial. Nao se formam homens fora da sociedade, nao há um mundo ideal onde se fazem pessoas; pessoas nascem do cotidiano, de um meio sócio-econômico, de uma cultura determinada, é tudo muito complexo para se resolver com o desejo de poucos.
A única alternativa que eu vejo é a construção de mais experiências com essas novas escolas, nascidas dos desejos de educadores que se encontram e se organizam para exigir do poder público o direito de viverem suas experiências de mudança. A multiplicação de experiências da visibilidade e legitimidade para as ideias e apaixonam muitos que à elas se associam e por elas lutam.
Tendo em vista o imaginário constituído por pais e professores, por representantes da política, da Academia e da economia, todos atrelados, conscientes ou inconscientes, aos interesses neoliberais, penso que é óbvio que não haja desejo em se constituir imediatamente uma escola realmente interessada em formar um indivíduo que pense com propriedade e autonomia consciencial. Entao, como alternativa mediata, defendo a manutenção das disciplinas nas escolas que não desejarem a experiência radical da liberdade curricular, estimulando espaços e tempos para o trabalho incessante de pensamento e construção de experiências verdadeiramente atreladas ao desejo de mudança dos interessados envolvidos.
Quanto a uma mudança radical que extinga o sistema curricular vigente, penso que seria simplesmente abrir mão de uma conquista histórica, especialmente para filosofia e sociologia. Não há professores e alunos ideais para trabalharem com filosofia e sociologia, e com disciplina alguma. Há pessoas reais envolvidas com políticas públicas e que lutam diariamente para encontrar caminhos de realizar seus sonhos dentro dos limites determinados pelas fontes do poder, sejam elas quais forem e emanadas das instâncias mais diversas.
Quanto à eterna crítica aos pedagogos... prefiro não me pronunciar, afinal sou formada em Pedagogia, curso que fiz com paixão, e onde nasceu meu profundo desejo de ter maior fundamentação filosófica para compreender o homem que eu desejaria formar, adequado à cosmovisão à qual me filiava. Da Pedagogia fui para a Filosofia e encontrei, no Mestrado, a possibilidade real de estabelecer um diálogo entre ambas, sendo a segunda forjada pelas experiências da primeira. Só porque os homens se preocuparam em pensar sobre o conhecer é que a Filosofia nasceu, e conhecer é conceito fundamental para a educação. A Pedagogia me permitiu não ficar restrita ao minarete da Filosofia de onde se proclamam maravilhosas ideias que não encontram diálogo com o homem comum que, lá embaixo, no lufa-lufa do dia-a-dia, escuta um ribombo incompreensível. E a Filosofia me permitiu não me entregar mecanicamente aos ditames burocráticos, às orientações legais e à técnica pedagógica sem críticas. Ela me fortaleceu no sentido de compreender mais profundamento o meu ato pedagógico. Mas fundamentalmente, a Filosofia provocou mudanças na minha maneira de ensinar, e a Pedagogia, vivida, me motivou a refletir sobre as concepções filosóficas e os limites de suas expressões.
Do ponto de vista lógico entendo que há uma máquina tecno-burocrática pedagógica em ação, mas há valorosos pedagogos que pensam e atuam de maneira crítica e inovadora.
Estou aposentada, não atualizada teoricamente, e não posso falar da prática das escolas pois, em quase quatro anos, muito já se transformou, mas não me furtei ao clamor da amiga que me instou a expressar minha opinião.
Ao meu brilhante ex-aluno, só posso agradecer sua fala por ela me proporcionar o exercício da reflexão, e digo à ele, especialmente, que seu discurso é um forte elemento daquilo que acredito: é no discurso e no diálogo críticos que nascem as inspirações para ações inovadoras e audaciosas.

giovedì 25 settembre 2014

Conversando sobre "morte".

Sábado passado soube da morte de uma tia minha, cunhada de meu pai, ao mesmo tempo que meu companheiro também perdia uma tia materna. Estou aqui há três anos e três meses e, nesse período, já ocorreu a morte de 20 pessoas de meu conhecimento, entre parentes, amigos e colegas, fora mais de cinco do conhecimento de meu companheiro, sem contabilizar os famosos e importantes para a coletividade.
Lembro de sempre conversar sobre o tema morte com minha falecida avó materna, ela vivia me perguntando se iria continuar viva, para onde iria, quem encontraria, como seria... e um dia, uma prima mineira, ao acompanhar nossa conversa, falou depois comigo que achava muito tétrico o papo, e eu disse à ela que pensava ser muito salutar, afinal o fenômeno da morte, até o presente momento, é evento inevitável, e é melhor tratar com tranquilidade acerca dele do que se desesperar ao enfrentá-lo.
Sempre dizia para minha avó que quando vamos viajar nos preparamos bem, nos informamos sobre o local para onde iremos, quais objetos devemos portar, com quem nos encontraremos, onde nos alojaremos, quanto devemos despender em tal aventura. Sabemos que poderemos encontrar imprevistos, mas, em geral, partimos com expectativas otimistas. Esse era meu argumento com ela para justificar a importância da conversa sobre o evento morrer. Já que é inevitável, deve-se, na minha opinião, versar sobre ele de forma coloquial e, ao mesmo tempo, profunda. Da mesma maneira que me preparo para viagens, me preocupo em estar mais habilitada para lidar com a minha morte e das pessoas com as quais tenho vínculos, e até mesmo com a morte de desconhecidos.
Parto do pressuposto de que nada morre ou desaparece no universo, de que toda matéria é energia, de que tudo se transforma, de que há ciclos de existência, daí que o que nomeamos morte é um evento de transformação, de finalização de um ciclo.
Aquilo que se expressa como vida humana tem um aspecto material visível, mas há também notadamente uma constituinte imponderável que imprime significado à nossa expressão no mundo. Esse aspecto imponderável que podemos chamar vulgarmente de alma, consciência, espírito, mente, é indestrutível após a morte do corpo físico, mas continua a expressar-se com identidade própria para além do alcance limitado de nossa dimensão material. Podem-se utilizar inúmeras citações religiosas e científicas, metafísicas e metacientíficas para fundamentar tal concepção de morte: budismo, hinduísmo, espiritismo, kabbalah, metapsíquica, teosofia, projeciologia, conscienciologia, estudos sobre parapsicologia, EQM (experiências de quase morte) e TCI (transcomunicação instrumental), tendo como suportes conhecimentos de física quântica, astrofísica, arqueoufologia, entre tantos outros.
Chavões como "a morte é um mistério", "dela ninguém voltou para informar coisa alguma", "ninguém voltou para dar sinal de vida", demonstram um desconhecimento dos construtos teóricos e práticos acima mencionados. Há inúmeros relatos de casos e experimentos cientificamente acompanhados que demonstram a continuidade da existência humana fora do corpo físico, em vida física e após o seu término. Claro que não me referi à uma ciência restrita aos cânones acadêmicos, mas à uma ciência holística e interdependente que dialoga sem escravizar-se às regras cartesianas, aos aspectos da linearidade, da repetibilidade mecânica de fenômenos controlados, os quais tem seu mérito em determinados contextos, mas sem validade universal para todos os eventos estudados.
Quando se fala em comprovação da vida após a morte física, pensa-se em termos de um sujeito cognoscente que se mantém, mesmo após "morto", cognoscível aos cognoscentes "vivos"; ou seja, quem morre continua aprendendo e pode ser apreendido pelos vivos, mas, em se tratando de uma inteligência ativa, deve-se depreender que ela é também sujeito de sua manifestação, e não apenas objeto de pesquisa como um rato de laboratório recluso em uma gaiola. Não se trata de uma pesquisa que pode pautar-se por cânones clássicos da ciência moderna, mas que deve se abrir para uma perspectiva holística do objeto estudado, inclusive com a interferência do objeto que se traduz como sujeito, como vemos especificamente na TCI, onde inteligências de pessoas, humanas e não humanas, colaboram e até mesmo induzem experiências científicas para o contato e o registro de suas manifestações, comprovando a existência de outros âmbitos para a vida consciencial, que não só a dita "vida humana terrena".
Não existem definições fechadas, verdades estabelecidas e nem descrições universalistas. As informações que se obtêm em tais estudos são diversificadas, e abrem imensas janelas para se vislumbrar uma infinidade de possibilidades de vida para além dos limites de nossas percepções físicas.
Conversar sobre tal tema abre espaços mentais, favorece a constituição de sinapses que permitirão a identificação de tais ideias como habituais, que serão base para a construção de novos conceitos e novas concepções sobre a morte, produzindo possibilidades de novos caminhos para a pesquisa pessoal e a profissional. Porões escuros e fechados produzem monstros imaginários e ali não entramos com medo de travar encontros com o desconhecido. Salas abertas, iluminadas e arejadas nos permitem identificar os elementos presentes e com eles travarmos contato. Assim são as conversas sobre a morte, são janelas que permitem vislumbrar novos horizontes que são descortinados por nós e, ao mesmo tempo, construídos por nós, como verdades provisórias que nos alentam e nos sustentam em nossas experiências de "perdas" nas várias fases da vida, aqui e além.



mercoledì 24 settembre 2014

Superficialidade apontada é superficialidade não suplantada.

Há algum tempo atrás, num final de semana, fomos, eu, meu companheiro e seu filho mais novo, assistir uma fala de um monge budista tibetano, aqui próximo, em Gardone. Foi uma tarde memorável em que aprendi uma forma interessante de meditação com mobilização e exteriorização de energias, a qual pude complementar com meus parcos conhecimentos de Reiki.
Também apreciei as explicações do monge acerca dos conceitos de karma e dharma, porém, creio que a mais profunda aprendizagem adveio de uma intervenção do garoto, na ocasião com 14 anos, acerca de um comentário meu.
Tenho o grave hábito de julgar pessoas e situações, só atentando para minha leviandade depois de externar meus juízos. E, durante a palestra, eu apreendia as falas do monaco e as relacionava com meus conhecimentos anteriores, além de ter participado sinceramente do exercício meditativo com uma integração verdadeira com o movimento de energias na sala. Porém, ao largo de toda essa manifestação de espiritualidade elevada, eu, dos porões dos meus hábitos arraigados de tantas existências pregressas, também manifestava, em minha consciência, o registro da observação sobre o comportamento das pessoas, do espaço e das coisas dispostas, julgando tudo e todos.
Ao sairmos da palestra-meditação, como sempre, iniciei uma conversação com os meus dois companheiros sobre o que havíamos aprendido com a fala do monge e quais as impressões deles acerca do ambiente. Eles, como de hábito, deram opiniões monossilábicas, e eu, como boa geminiana, expressei todas as minhas ideias acerca do evento, e, para coroar meu exibicionismo, finalizei com o comentário acerca do excesso de cuidado das pessoas presentes com a aparência física, indumentária e a mise-en-scène frente ao monge, tudo muito longe do conteúdo de tudo que ali foi discutido, o que para mim indicava a superficialidade dos comportamentos.
O filho de meu companheiro, como sempre o faz, me calou fundo com um simples comentário - o que também meus filhos fazem constantemente - disse-me que, na verdade, aquelas pessoas, só por estarem ali, já estavam aprendendo algo, o que demonstrava que já estavam se abrindo para a fala do monaco e isso constituía um grande valor.
Incrível como esse italianinho que nada expressa em termos de conhecimentos religiosos, tem uma imensa religiosidade com a natureza e a humanidade, demonstrando sensibilidade e elevação moral, que eu, com todos os meus salamaleques de conhecimentos teóricos, mal sinto o cheiro, que dirá demonstrar em forma de comportamento.
Nossos comportamentos nos revelam e meus comentários dizem do que ainda vai de lixo nos porões da minha inconsciência.
Revendo esse episódio, lembrei também da fala de uma palestrante espírita, a qual relatou que foi criticada em um centro espírita, no sentido de que ela falava de humildade e se apresentava com jóias e roupas caras e elegantes. Ela disse do quanto já havia se despido dos excessos que seu meio sócio-econômico lhe haviam impingindo em sua educação, e que aquilo que a pessoa criticava já era seu momento de superação.
Julgar os outros é na verdade apontar nossos próprios defeitos ou nossas qualidades. Se aprovamos alguém é porque essa pessoa espelha o que gostamos em nós. Se desaprovamos alguém é porque essa pessoa espelha o que nos desagrada em nós mesmos.
Eu, ao julgar aquelas pessoas acerca de sua superficialidade, não observei que quem focalizava a superficialidade era eu mesma, que estava ainda tão preocupada com esse aspecto que ainda o observava; quando algo sai de nosso foco é porque já não faz parte de nossa agenda evolutiva. Se eu ainda me preocupo em observar a superficialidade, é porque eu a superei exteriormente mas ainda carrego seus fantasmas dentro de mim, das minhas identidades anteriores que ainda insistem em me arrastar para seus vícios e eu, na minha atual condição de exercício de simplicidade, ainda sinto seus apelos.
Também quem disse que se apresentar com elegância e beleza é um valor negativo? Chico Xavier dizia que o mundo já tem muitas coisas feias para que a gente ainda se apresente com desmazelo.
Enfim, nao é auto-martírio consciencial expressar todos esse percurso reflexivo, mas um auto-alerta pessoal, para eu dar mais atenção às ideias que rondam minha cabeça e que são reflexos de um passado que deve ser valorizado como aprendizado, mas descartado enquanto modos de resolução de problemas que não mais encontram utilidade na atual proposta de vida.
Ao invés de criticar aquelas pessoas como superficiais, eu poderia ter o pensamento similar ao do meu filho "adotivo", ter a generosidade de ver o esforço daqueles que se aproximam do exercício de desenvolvimento espiritual, independente de suas aparências.