mercoledì 30 maggio 2012

Resiliencia e fraternidade

Ao longo das minhas experiencias na vida cotidiana e na condiçao de professora, observei a capacidade que algumas pessoas tem de resistir à adversidades, nao tombando ou tirando dai fortes traumas, mas, ao contrario, saindo mais fortes, aprendendo grandes liçoes. Ao mesmo tempo em que transcendiam a situaçao e suas proprias formas de enfrentar dificuldades, ainda eram ponto de apoio para os demais que compartilhavam a situaçao desesperadora.
Manter esperança e saude mental quando tudo no entorno diz NAO! é condiçao para uma atitude resiliente. A resiliencia é uma das virtudes humanas que auxiliam a adaptaçao do individuo à situaçoes adversas. Ela pode se caracterizar pela propria atitude pessoal de otimismo e proatividade, e, ao mesmo tempo, se manifestar pelas condiçoes de amparo ofertado por pessoas ou grupos afins.
Eu penso que o exercicio da fraternidade praticado por grupos é possibilidade de criar situaçoes de resiliencia para pessoas que se sintam abandonadas, desanimadas, que nao vejam perspectivas de sucesso.
Observei inumeras vezes pessoas proximas que passaram por situaçoes similares e que reagiram de forma completamente diversa. Algumas ficaram marcadas profundamente pela morte de um parente, pela perda de um emprego, pelo revés financeiro, pelo desenvolvimento de uma doença incuravel, pela finalizaçao de um relacionamento amoroso. Outras, nas mesmas circunstancias, apos o impacto inicial da situaçao adversa, construiram mecanismos de sobrevivencia, continuaram suas atividades normalmente e se empenharam em ler os acontecimentos com positividade, vislumbrando significados mais profundos e mensagens educativas nos problemas que se apresentaram.
Uma das experiencias mais marcantes para mim foi a de professora-apoiadora. Desenvolvi uma atividade voluntaria em um dos cursos nos quais militei, tutorando alunos que necessitavam de um apoio mais intenso para enfrentar suas dificuldades no desenvolvimento dos estudos. E posso comparar as duas situaçoes nas quais atuei. Em ambas meu papel era o de auxiliar os alunos a perceberem, em seu cotidiano, perspectivas de tempo e espaço para o estudo, bem como auxilia-los a desenvolver simples técnicas de aprendizagem que fossem ferramentas para desempenho progressivo. Na primeira situaçao o aluno envolvido demonstrava muito interesse em superar suas dificuldades, aplicava as orientaçoes recebidas e empreendeu uma nova organizaçao de sua vida particular para atender às suas dificuldades intrinsecas. Ao mesmo tempo, o aluno se engajou num grupo de colegas que, por conta propria, desenvolviam estudos de aprofundamento em textos adotados pelos professores. Demonstrava sempre entusiasmo e agradecimento aos colegas pelo acolhimento no grupo de estudos. O segundo aluno reportado, ao receber as orientaçoes sobre organizaçao diaria para estudos, muito reticentemente as acatava ou aplicava. Quanto às orientaçoes técnicas nao as praticava alegando serem muito dificeis. Ao ser incentivado com palavras de encorajamento, sempre se excusava informando que a vida nao permitia esperança ou atitudes proativas. Nunca participou de grupos de estudos espontaneamente e, ao ser convidado pelos colegas, sempre respondia com a falta de tempo. Eu, como tutora de ambos, posso dizer que, objetivamente, as condiçoes reais de vida do primeiro eram infinitamente mais precarias que as do segundo, porém, se fosse ajuizar pelas percepçoes pessoais expressas, eu pensaria que o segundo passava por maiores dificuldades.
Creio firmemente que a atitude fraterna dos grupos e das pessoas que se empenham em criar novas e melhores condiçoes para os que necessitam desenvolver resiliencia, é fundamental, mas, ao mesmo tempo, tenho de reconhecer que sem a atitude intima otimista e proativa, é dificil encaminhar o  individuo para a transcendencia.
Ha um elemento de intersubjetividade para estabelecer a fraternidade. So ha correspondencia quando ha comunicaçao para aquilo que um enseja e o outro esta pronto ou disposto a vivenciar. Para novas condutas ha que se ter novos propositos, algo que se pode sugerir mas nunca impor. Ha um limite palpavel para a realizaçao da intençao resiliente quando a pessoa nao é resiliente ou nao é predisposta a se-lo; mas, apesar do limite, nao se deve abandonar a atitude de criar condiçoes de resiliencia, o que é proprio do trabalho do professor e, de maneira geral, proprio ao humano gregario e impulsionado à fraternidade.
Reconheço que em minha vida, quando eu agi resilientemente, enfrentei com mais tranquilidade momentos aparentemente insuperaveis; e, quando resisti de maneira nao adaptativa às mudanças, quando fui insistentemente pessimista e arredia às novas possibilidades, tudo se tornava mais intensamente triste e sem perspectivas de sobrevida.
Quando criei boas condiçoes e proferi palavras de incentivo, eu impulsionei parentes, amigos e alunos (se eram dispostos a transcendencia). Mas, quando eu fui autoritaria e tentei simplesmente adapta-los aos meus modos de ser e de entender o mundo, quando os maltratei e nao os animei a irem avante, eu os limitei e os fiz desistir de seus projetos, ao menos àqueles ainda pouco resilientes.
O que posso concluir com essa minha reflexao, é que temos grande responsabilidade com relaçao à construçao de nossa propria resiliencia e da criaçao de condiçoes para o desenvolvimento de resiliencia das pessoas que partilham nossa jornada.

lunedì 28 maggio 2012

Alteridade e convivencia pacifica

Chico Xavier, quando nao podia dizer exatamente o que precisava ou gostaria a alguém, falava simplesmente "Que beleza!", o que gerava muitas vezes indignaçao ou incompreensao, dependendo do caso e da pessoa. Mas a atitude de Xavier era extremamente sabia, afinal, muitas vezes, quando falamos estritamente a verdade em circunstancia inadequada, produzimos nas pessoas reaçoes agressivas que podem se manifestar verbalmente ou gestualmente, mas, certamente, com a reverberaçao de ondas mentais, de emissao de energias deletérias, o que faz mal a quem as emite e a quem as recebe. Entao, ser sempre claro e verdadeiro nas expressoes de opiniao pode acarretar estados mentais doentios nos envolvidos.
Nao se faz aqui a defesa da falsidade, mas a da postergaçao de uma opiniao, ou ao menos, dar uma meia opiniao, dentro dos limites da gentileza, generosidade, sabedoria e amabilidade.
Penso muito no assunto, principalmente observando minha propria atuaçao no mundo e as formas como lido com aqueles que vivem no meu entorno. Sou daquele tipo que "explode" ao ouvir algo que nao se coaduna com a minha cosmovisao. Quando observo atuaçoes inadequadas ao meu ponto de vista, ja parto para um sermao infindavel de carater moralista. Tenho consciencia de que tenho melhorado ao longo do tempo transcorrido desde a identificaçao desse traço do meu carater, porém, é um dos elementos que toma mais do meu tempo de reflexao mental.
Minha vo Cici, maravilhosa criatura, sem estudo formal de longa duraçao e dentro de um universo tido academicamente como de senso comum, é das criaturas mais sabias que passaram por minha vida. E ela sempre diz que a melhor coisa é ver a familia unida, nao falar algo que magoe e que depois de proferido nao possa ser remediado. Magoas podem perdurar anos, destruir laços de amor e amizade, amargar vidas, destruir sonhos, implantar visoes, imagens e ideias que nao existiam antes e que, dali em diante, obscurecem quadros mentais e promovem o cultivo de sentimentos negativos, deletérios a quantos os alimentarem.
Hoje sei que a vida é preciosa demais para ser encaminhada com tanto desgaste emocional, mental... Um minuto de silencio, uma reflexao mais cuidadosa antes da emissao de uma opiniao, que muitas vezes sera alterada num futuro proximo, pode evitar desavenças e sofrimento, para nos e para nosso interlocutor.
Jovem eu sempre defendi a verdade a todo custo, a expressao das minhas ideias e opinioes doesse a quem doesse, me orgulhava de ser extremamente sincera e honesta, e assim, observando fora do furacao das situaçoes nas quais me envolvi, reconheço quanto mal gerei nas relaçoes com filhos, parentes, amigos, companheiros e alunos.
Perdoar setenta vezes sete e reconhecer que o mal é o que sai da boca, como ensinou Jesus, é aplicar medida profilatica. O melhor é nao criar laços negativos com pessoa alguma para se manter saude fisica, mental, emocional e cognitiva, para nos e para os outros.
André Luiz Peixinho conta a historia de um iluminado hindu que, fizessem o que fizessem com ele, sempre respondia com tranquilidade e aquiescencia, continuando a fazer seus misteres cotidianos, sempre fiel aos seus propositos mais elevados, nao permitindo que os outros o alterassem. Nossa dificuldade é exatamente a de como reagir aos impactos que a alteridade gera em nos e nos outros.
Parece-me que lidar com a questao da alteridade é essencial para a construçao de um mundo de paz, para nos mesmos, para o nosso entorno humano e nao humano. Evidente a existencia humana enquanto situaçao de interdependencia, entao é fazer como dizia Johann Heinrich Pestalozzi, mudar a nos mesmos para mudarmos o mundo.
A tarefa maior e inadiavel é constituirmos uma forma de viver a alteridade com observaçao centrada em nossas reaçoes frente às investidas de pessoas e circunstancias, pois ha interferencias de nossa parte nos comportamentes alheios e vice-versa.
Aprender a conviver de maneira respeitosa e gentil, com generosidade nas expressoes verbais, faciais e, principalmente mentais, com emissao de ondas de energias benevolas e pacificadoras, sera a base para a construçao de um mundo em que o externo reflita o interno, e, no final das contas, perceber que pregar a ferro e fogo nossas "verdades" é apenas a alimentaçao de um ego monstruoso e dominador, o cultivo do Leviata interno.
Viver melhor com nossos parentes, amigos e alunos, por exemplo, pode ser o inicio de uma vida mais saudavel e de bem estar para todos, que se reflita nas relaçoes sociais mais complexas, no tratamento aos diferentes, sejam de outras culturas ou dimensoes de realidade. Sendo a Terra um mundo de paz onde seus habitantes vivam de maneira cortes, sempre gerando bons sentimentos, poderemos nos candidatar a relaçoes mais exigentes em termos de convivencias com estranhices sem estranhezas, inclusive com nossos irmaos de outras esferas, sejam encarnados ou desencarnados.
Compreender melhor nossa situaçao de alteridade e assim reeducar nossa forma de nos relacionarmos com os diferentes seres dos universos, proporcionara um mundo de convivencia pacifica em que o "Que beleza!" de Chico Xavier seja uma estratégia de qualificaçao verdadeira e nao mais uma meia verdade ou uma verdade postergada.

venerdì 25 maggio 2012

Celebraçao

Pandit Ravi Shankar e Anoushka Shankar... um momento de paz, amor e harmonia... uma celebraçao...

Amor nao é sentimento

Escutando uma palestra do Professor Laércio B. Fonseca, caso eu nao tenha deturpado seu pensamento, deparei com uma nova definiçao de amor, nao como um sentimento, mas como um estado consciencial. Realmente, se eu ja havia ouvido ou lido algo explicitamente expresso assim, nao me recordo.
Mas, ao mesmo tempo que fui impactada pela definiçao, ao refletir, percebi que ideias que poderiam ser geradas de tal expressao ja eram conhecidas por mim.
Em muitos momentos passei por furacoes de ordem existencial e, ao sentir um vazio imenso no peito, uma dor emocional e até mesmo fisica no coraçao, identifiquei a minha carencia de amor, nao so de receber, mas de doar amor, amar alguém nao apenas para ser amado, mas para atender à uma necessidade dolorida de doar tanta energia e tanto carinho. Interpretava tal carencia como a necessidade de encontrar uma pessoa especifica, o que desde muito pequena fazia desesperadamente. Procurar encontrar alguém com quem compartilhar amorosamente a vida foi uma obsessao que me levou a inumeros equivocos. Era como uma tendencia atavica que num certo momento atingia o apice.
E realmente, comparando a concepçao do Professor Laércio com minha trajetoria emocional, posso dizer que vivi enormes confusoes sentimentais que hoje me parecem as traquinices de uma criança pouco consciente dos moveis e das consequencias dos seus pensamentos, atos e palavras. O amor era utilizado por mim, e ainda é em muitas circunstancias, como palavra de sentido menor, mais egoista, menos amplo e também, de efeito pouco duradouro.
Dalai Lama fala em "compaixao", Jesus fala em "amar ao proximo como a ti mesmo" e "amar ao proximo como eu vos amei"... empatia pela dor e a alegria alheias, ser um com o outro; tudo muito diferente do "amor" que se exige exclusivista, mais vinculado com poder, com dominio, com restriçao, com a negaçao da partilha com os demais proscritos do circulo amoroso eleito, composto por filhos, companheiro, amante, amigos, familiares.
Teoricamente fui muito tocada pela ideia de amor enquanto estado consciencial. Vejo, agora e cada vez mais, o amor como um imperativo de vida. Transcender a ideia e vive-la como expressao cotidiana e natural do encontrar o outro. Quem ama ama tudo, quem ama esta em estado de amor, o qual é perene, é continuo, é indistintivo. Ama os universos e seus componentes, ama todos os seres de todas as ordens e possui e vive em um estado constante de comunicaçao benevolente com tudo e todos. Estabelece uma intersubjetividade sem esforço e vai ao lado e nao contra, nao se embate ou debate, ouve e compreende, sem perder sua firmeza de ponto de vista e sem impo-la ao outro.
Tudo muito distante da minha forma de existir momentanea. Mas, como Dewey expressa, e tantos outros pensadores também, ha que se ter uma hipotese, um ideal, um ponto objetivado que sirva como parametro para nosso empenho nas experiencias reflexivas. As dificuldades em viver nossas crenças sao o reflexo de que ja revimos crenças passadas, as quais ja nao resolvem satisfatoriamente nossa forma de nos relacionarmos com o mundo e com nos mesmos. Sao o reflexo de que estamos prontos a empreender novas experiencias para redimensionar nossas crenças, no caso atingir um estado de amor permanente.
Penso que teorias como as Edgar Morin e de Friedrich Froebel podem auxiliar muito a alcançar tal consciencia amorosa, independente de ou coligada à aspectos religiosos ou misticos. Morin longe de uma perspectiva panteista ou holistica (num senso esotérico) aponta brilhantemente para a necessidade de se conceber o homem como sujeito auto-eco-organizador, alguém intrinsecamente vinculado com o seu meio, do qual é participe como sujeito e como objeto simultaneamente. Froebel ao pensar, segundo o panenteismo, no todo-parte, na autorealizaçao pela autoatividade para alcançar a autoconsciencia, também oferece a ideia do vinculo do homem responsavel pelo seu proprio desenvolvimento num contexto de auxilio mutuo com o todo do universo.
Em todos os autores citados, ha uma visao interacionista, nao ha a dizimaçao da individualidade, mas a continuidade individuo-sociedade, individuo-universo, todo-parte, como um sistema continuo de um ao outro, de maneira que aparentemente nao ha mais dois mas somente um, mas que, na realidade, se mantem o um no todo e o todo no um sem que um se confunda com o outro.
Penso que tudo isto poderia se dizer amor, nao no sentido de paixao ou relaçao restritiva, doentia no dizer de Fonseca, mas amor enquanto a consciencia de que faço parte de um movimento, de uma ordem geral que implica em transcendencia e em intersubjetividade.
O amor nao é um sentimento limitante mas uma forma de ser e viver em comunhao, e oxala eu o consiga alcançar para meu bem e de todos que partilham da minha vida atual e futura.

mercoledì 23 maggio 2012

Suicidio e projetos de vida

A crise economica européia tem sido relacionada, pela midia, com o aumento significativo de suicidios, tanto na Grécia como na Italia. Muitos suicidados informam, previamente ao ato fatal, que a falta de perspectivas financeiras para manutençao da familia e das dividas bancarias empenhadas é o motivo do abandono da vida.
Eu tive, ao longo da vida, ao menos tres suicidios proximos a mim, um na minha familia, um aluno da universidade e o parente de uma amiga. Em todos os casos, sempre a falta de perspectivas frente às dificuldades diversas de ordem material ou emocional.
Sendo muito delicado o assunto, ja que envolve os sentimentos dos envolvidos com a trajetoria da vitima, nao se pode enfocar pessoas individualmente, mas tentar refletir sobre os motivos que levam alguém, qualquer um, a nao mais ver saidas para seus problemas.
Durkheim ao estudar sociologicamente o suicidio no inicio do século passado, apontava estatisticamente o aumento de suicidios entre desempregados. E entre os desempregados suicidados havia uma porcentagem grande de usuarios de alcool. E entre desempregados sobreviventes às crises financeiras, muitos eram praticantes em religioes. Pode se fazer uma arbitraria analise, os desempregados ou apelavam para o alcool ou para a religiao. E, talvez, dizer mesmo que a fé auxiliava a suportar as dificuldades, e ainda, aproximar o desempregado de grupos de auxilio mutuo.
Penso que é dificilimo se colocar na posiçao de outro. Se qualquer motivinho besta nos coloca de cabelos em pé, nos imaginemos no lugar de alguém que nao sabe como amanha enfrentara uma execuçao judiciaria motivada por uma divida bancaria nao liquidada,  ou como colocara leite e pao em casa para os filhos, ou ainda ver sua casa tomada pelo nao pagamento de impostos. Situaçoes terriveis para todos e cada um de nos.
Mas o foco do meu interesse esta no aspecto mais filosofico da questao. A falta de projetos individuais, coletivos e associados que prevejam a vida humana como fator interexistencial. Penso aqui como Herculano Pires, o homem como ser interexistente, que vive ao mesmo tempo em dimensoes diversas com objetivos e açoes proprios a cada dimensao.
Enquanto nos vermos como seres exclusivamente inseridos no mundo terreno e de posse de apenas uma unica e limitada vida manifestada na personalidade presente, nossos projetos serao pequenos como serao pequenas nossas perspectivas de realizaçao.
Precisamos, todos, de realizaçao material, qual seja a manutençao da vida fisiologica, da vida social, do reconhecimento publico e da possibilidade de expressao cultural; porém, ha que se relevar também os aspectos mais metafisicos de nossas vidas, a busca do significado de nossa existencia em nosso plano dimensional, bem como o esforço em reconhecer outras dimensoes existenciais que habitamos simultaneamente e onde contatamos seres de outras naturezas. Mesmo em nossa dimensao estabelecida na Terra, ha muitas formas de vida pouco reconhecidas por nos como formas virais, flora e fauna etc. Sem contar os seres humanos de culturas e sociedades diversas das nossas muitas vezes ignorados e desprezados por nos. Nossa vida, geralmente, se limita aos contornos dos grupos familiares e de amigos, de canais de comunicaçao repetitivos e ideologicamente direcionados, seja televisao, internet, musica, livros e filmes. Dificilmente desenvolvemos a compaixao, a empatia com a dor do outro, o reconhecimento de que muitos sobrevivem apesar dos impecilhos monumentais com os quais se debatem dia a dia.
Muitas religioes, ainda hoje, também se restringem a dogmatizar em artigos de fé as respostas que os homens deveriam buscar por si mesmos. Intermediarios religiosos limitam nossa reflexao  pessoal para entender melhor nossa relaçao originaria com Deus, a força criadora da vida nos universos.
A religiosidade, mais do que determinadas religioes, tem um papel fundamental no estabelecer liames entre o homem e as demais formas de vida universais; e nao penso apenas na perspectiva que eu abraço, de ordem espiritualista universal, mas reconheço também no humanismo laico e no vitalismo, por exemplo, fortes vinculos de esperança no poder do homem em associaçao. A religiosidade que fortalece laços de humanizaçao do proprio homem poderia ser um suporte para as dificuldades existenciais sofridas pelo candidato ao suicidio.
Entendendo que a vida cessa com a extinçao do corpo fisico, o suicidado tenta se livrar de uma angustia colossal, que o esmaga e lhe tira a energia para emergir do caos existencial. Infelizmente, observando por uma perspectiva espiritualista universalista, ao constatar a continuidade da existencia de tantos outros corpos como de sua propria individualidade, o suicidado encara o desespero em aumento e sofre uma sensaçao de pavor frente à negaçao da vida perpetrada e  de ter abandonado aqueles que aqui ficaram sem amparo e plenos de problemas a serem resolvidos.
Considerar que o significado da vida esta para além da manutençao das necessidades expressas na sociedade capitalista implica em cultivar a transcendencia do eu egoico para um eu divino, um eu-um com o todo-universo, um eu-um com seres interdimensionais, buscar a construçao de uma vida interexistencial, a fim de que ninguém se sinta tao sozinho e desamparado que nao possa ver mais perspectivas criativas além de garantir o pao do dia a dia.
Somos projetos-pontes entre nossas experiencias passadas e as futuras agora ja idealizadas, nao ha como romper a continuidade desse processo.
Redes de solidariedade, espiritualizaçao familiar, reflexoes filosoficas constantes sobre a natureza humana e suas possibilidades de redimensionamento e praticas pessoais para uma vida interexistencial, podem auxiliar pessoas em estado de angustia existencial imediata, podem ajudar mais do que o bombardeamento cotidiano de desgraças politico-economicas que apenas dizem ao cidadao comum, "voce nao tem saida".
Existe saida sim, ressignificar nossos projetos, enfim, nossas vidas.

lunedì 21 maggio 2012

A impermanencia da alegria e da dor

A busca do equilibrio emocional, mental, intelectual, fisico, é um discurso que tenho prontinho na boca, sempre como frases de efeito e sermoes educativos, aos outros é claro; porque quando se trata de mim mesma, tudo cai por terra. A menor contraditoriedade me poe de cabelos em pé. Alguém que nao age como eu espero, uma formaçao mental nebulosa que recebo e/ou envio a alguém que me fala o que penso ser uma contrafeita, uma idéia discordante da minha que é proferida, a falta de exercicio ou o excesso de alimentaçao, qualquer coisa é capaz de abalar meu equilibrio, e ai, o que sucede é a observaçao de uma vida na corda bamba...
Ser o centro que observa o movimento em torno de si é um objetivo ha muito conhecido e ainda pouco praticado, ao menos por mim; é claro que se eu retornar 20 anos atras, era bem pior, e as mudanças que tenho como escopo se dao paulatinamente, num ritmo irritante...
Ter tranquilidade nos momentos de alegria ou nos de dor é nao se exaltar nem com o sucesso nem com o fracasso, sabendo que tudo passa, tudo é impermanencia, tudo é uma ilusao momentanea que obscurece o cenario mais amplo da existencia.
A dificuldade em estabelecer mudanças mais radicais em minha conduta ou forma de observar as reaçoes que os outros provocam em mim me faz lembrar de um aspecto do pensamento de Dewey. Uma experiencia reflexiva so é possivel na medida em que eu revejo minhas ideias fundantes, ou seja, minhas crenças, alicerçadas num passado de resoluçao de problemas por meios mais faceis e de alcance rapido de objetivos. Mas a realidade é dinamica e formas velhas de resolver as coisas ja nao funcionam porque eu acabo mudando por força das circunstancias e as situaçoes se redesenham, entao é um mundo que desmorona e a dificuldade de adaptaçao demonstra minha falta de inteligencia para enfrentar novas situaçoes. Nao se mudam ideias por meio de ideias, mas se mudam ideias por meio de açoes que interferem nas ideias justificadoras e/ou explicativas de minhas açoes.... é a praxis de Freire, a pratica interfere na teoria e, por conseguinte, a nova versao da teoria interferira na nova pratica.
Sem a clareza do processo, o que se da é um desconforto constante. A abertura para a mudança depende da assunçao da vida enquanto impermanencia, as coisas valem enquanto sao uteis para uma vida em aperfeiçoamento. Se com valores, teorias e atitudes velhas ja nao vivo em equilibrio e harmonia, é hora de rever crenças e açoes.
A dor é sinal de falta de coerencia entre o pensar e o agir, é motivadora para o reconhecimento da dificuldade e necessidade de acionar a inteligencia da adaptaçao por meio da experiencia reflexiva, ou da praxis.
A alegria é o estado momentaneo dos desafios cotidianos resolvidos provisoriamente.
Ter consciencia da impermanencia da dor e da alegria, bem como do processo  de aperfeiçoamento de crenças e açoes, é caminho para uma vida de equilibrio... enfim, mais um belo discurso que devo, ainda que penosamente e com os passos similares a uma lumaca, empreender dinamicamente na minha caminhada.

venerdì 18 maggio 2012

A estética da simplicidade ao fazer as coisas

Nas coisas simples, como por exemplo cozinhar, sinto, na construçao do meu proprio fazer, um prazer imenso na harmonia dos gestos e no uso dos objetos. A posiçao do meu corpo para a exatidao dos movimentos; a atitude mental concentrada nas sequencias e quantidades; a criatividade latente na substituiçao, recombinaçao ou reordenamento dos ingredientes; a atemporalidade estabelecida no ato de refazer a receita que ha geraçoes se repete e eterniza os atos que proporcionam aromas e sabores comunicados.
Ao mesmo tempo que o ato de cozinhar, ainda que por necessidade, se torne mecanico, pratico e imediato, ha uma experiencia propria ao fazer certas receitas que contem em si uma simplicidade de elementos, de procedimentos, e, ao mesmo tempo, enseja uma coreografia na sua confecçao, gerando uma estética que abarca o rememorar as lembranças da infancia e ver imagens em seus contextos de origem e na continuidade a cada refazimento. Assim para mim sao os biscoitinhos de vinagre... Eu me desloco do meu tempo atual, me projeto no comer e fazer os biscoitinhos, em sequencias em que telas se abrem à minha mente e criam espaços de acolhimento e segurança, dos momentos em que fui mais eu mesma em situaçoes simples como com quem e para quem cozinhar.
Odete, uma parenta do meu pai, sempre tinha um pote com os tais biscoitinhos... pensar e fazer os biscoitos envolve a beleza fisica, a harmonia da organizaçao doméstica, a alegria e simplicidade das expressoes de amizade e carinho com que Odete recebia minha mae e a nos.
A primeira vez em que fiz os biscoitos com minha mae, as amigas que recebia em casa e que participavam de sua confecçao, os meus filhos me ajudando a prepara-los, meu companheiro atual e seu filho furtivamente os buscando na cozinha... imagens de beleza e aparente banalidade...
1 ovo, 3 colheres de sopa de açucar, 3 colheres de sopa de oleo, 3 colheres de sopa de vinagre, 1 colher de sopa de fermento em po, é o inicio do processo. Misturar tudo e ver como elementos tao dispares de conjugam, se amalgamam e criam uma massa crescente, macia, fofa, perfumada... Juntar farinha de trigo refinada aos poucos, buscando constituir uma massa firme e passivel de elaborar, com as maos, pequenos anéis para serem colocados em uma superficie enfarinhada. Depois frita-los em oleo quente, e, ja frios, envolve-los em açucar refinado ou velado e canela.
Quando eu vejo os biscoitinhos no pote, colocados estrategicamente na cozinha por onde passam os olhos gulosos, me da uma sensaçao de paz de colaborar com o adoçar a vida das pessoas da casa, oferecer pequenas alegrias... é ai que eu reproduzo, na minha vida atual, as sensaçoes de paz que a casa da Odete, e a sua figura e os seus biscoitos, marcaram em minha memoria.
Buscar fazer bem feito aquilo que se pode fazer nas pequenas atribuiçoes a que nos propomos, cria significados de beleza e harmonia onde nos colocamos como criadores e fruidores disponiveis para a partilha... simples assim...

giovedì 17 maggio 2012

Minhas escrituras

Inicio aqui a escrever alguns pensamentos que me ocorrem acerca das minhas experiencias conscientes ja vividas e daquelas que projeto ainda viver. O titulo atribuido ao blog nasce da crença de que percorro varios pequenos caminhos nos densos bosques em que me imiscuo no transcorrer da minha existencia... dai nasce meu sentir-pensar enquanto ser manifesto na forma de corpo humano multidimensional imerso em varios espaços e estendido em tempos diversos que me deixam entrever em sonhos aquilo que emerge do eu mesmo nao manifesto ainda.
Minhas experiencias se espraiam nas condiçoes em que me posto na presente vida humana como ex-professora, dona de casa, mae, filha, amiga, amante e companheira, nos condicionais datados e localizados, contextualizaçoes de um ser imemorial que se entende como alguém na continua viagem ao encontro de si mesmo na sua condiçao de autoconquista e expressao da divindade criadora da vida nos universos.
Meu desejo maior é partilhar minhas reflexoes acerca das veredas que percorro, percorri e percorrerei, sem os limites dos dogmas religiosos, academicos e cientificos, exercitando o livre-pensar com alegria, coerencia, sinceridade e consciencia dos limites da relatividade das crenças verdadeiras (em ambito filosofico-pragmatico) que vislumbram vestigios da Verdade.
Peço desculpas pela ausencia de algumas acentuaçoes, nao domino o teclado.
Um doce beijo nos doces coraçoes que visitam minhas escrituras.