Escutando uma palestra do Professor Laércio B. Fonseca, caso eu nao tenha deturpado seu pensamento, deparei com uma nova definiçao de amor, nao como um sentimento, mas como um estado consciencial. Realmente, se eu ja havia ouvido ou lido algo explicitamente expresso assim, nao me recordo.
Mas, ao mesmo tempo que fui impactada pela definiçao, ao refletir, percebi que ideias que poderiam ser geradas de tal expressao ja eram conhecidas por mim.
Em muitos momentos passei por furacoes de ordem existencial e, ao sentir um vazio imenso no peito, uma dor emocional e até mesmo fisica no coraçao, identifiquei a minha carencia de amor, nao so de receber, mas de doar amor, amar alguém nao apenas para ser amado, mas para atender à uma necessidade dolorida de doar tanta energia e tanto carinho. Interpretava tal carencia como a necessidade de encontrar uma pessoa especifica, o que desde muito pequena fazia desesperadamente. Procurar encontrar alguém com quem compartilhar amorosamente a vida foi uma obsessao que me levou a inumeros equivocos. Era como uma tendencia atavica que num certo momento atingia o apice.
E realmente, comparando a concepçao do Professor Laércio com minha trajetoria emocional, posso dizer que vivi enormes confusoes sentimentais que hoje me parecem as traquinices de uma criança pouco consciente dos moveis e das consequencias dos seus pensamentos, atos e palavras. O amor era utilizado por mim, e ainda é em muitas circunstancias, como palavra de sentido menor, mais egoista, menos amplo e também, de efeito pouco duradouro.
Dalai Lama fala em "compaixao", Jesus fala em "amar ao proximo como a ti mesmo" e "amar ao proximo como eu vos amei"... empatia pela dor e a alegria alheias, ser um com o outro; tudo muito diferente do "amor" que se exige exclusivista, mais vinculado com poder, com dominio, com restriçao, com a negaçao da partilha com os demais proscritos do circulo amoroso eleito, composto por filhos, companheiro, amante, amigos, familiares.
Teoricamente fui muito tocada pela ideia de amor enquanto estado consciencial. Vejo, agora e cada vez mais, o amor como um imperativo de vida. Transcender a ideia e vive-la como expressao cotidiana e natural do encontrar o outro. Quem ama ama tudo, quem ama esta em estado de amor, o qual é perene, é continuo, é indistintivo. Ama os universos e seus componentes, ama todos os seres de todas as ordens e possui e vive em um estado constante de comunicaçao benevolente com tudo e todos. Estabelece uma intersubjetividade sem esforço e vai ao lado e nao contra, nao se embate ou debate, ouve e compreende, sem perder sua firmeza de ponto de vista e sem impo-la ao outro.
Tudo muito distante da minha forma de existir momentanea. Mas, como Dewey expressa, e tantos outros pensadores também, ha que se ter uma hipotese, um ideal, um ponto objetivado que sirva como parametro para nosso empenho nas experiencias reflexivas. As dificuldades em viver nossas crenças sao o reflexo de que ja revimos crenças passadas, as quais ja nao resolvem satisfatoriamente nossa forma de nos relacionarmos com o mundo e com nos mesmos. Sao o reflexo de que estamos prontos a empreender novas experiencias para redimensionar nossas crenças, no caso atingir um estado de amor permanente.
Penso que teorias como as Edgar Morin e de Friedrich Froebel podem auxiliar muito a alcançar tal consciencia amorosa, independente de ou coligada à aspectos religiosos ou misticos. Morin longe de uma perspectiva panteista ou holistica (num senso esotérico) aponta brilhantemente para a necessidade de se conceber o homem como sujeito auto-eco-organizador, alguém intrinsecamente vinculado com o seu meio, do qual é participe como sujeito e como objeto simultaneamente. Froebel ao pensar, segundo o panenteismo, no todo-parte, na autorealizaçao pela autoatividade para alcançar a autoconsciencia, também oferece a ideia do vinculo do homem responsavel pelo seu proprio desenvolvimento num contexto de auxilio mutuo com o todo do universo.
Em todos os autores citados, ha uma visao interacionista, nao ha a dizimaçao da individualidade, mas a continuidade individuo-sociedade, individuo-universo, todo-parte, como um sistema continuo de um ao outro, de maneira que aparentemente nao ha mais dois mas somente um, mas que, na realidade, se mantem o um no todo e o todo no um sem que um se confunda com o outro.
Penso que tudo isto poderia se dizer amor, nao no sentido de paixao ou relaçao restritiva, doentia no dizer de Fonseca, mas amor enquanto a consciencia de que faço parte de um movimento, de uma ordem geral que implica em transcendencia e em intersubjetividade.
O amor nao é um sentimento limitante mas uma forma de ser e viver em comunhao, e oxala eu o consiga alcançar para meu bem e de todos que partilham da minha vida atual e futura.
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