domenica 3 marzo 2013

Inefável é a Verdade

A verdade das coisas é incomunicável, é inefável, uma ideia proferida por Carlo Dorofatti, não me lembro se exatamente assim, mas com esse sentido.
A gente pode se esforçar imensamente e, como num processo de alethea, ir des-velando a Verdade. De um ponto de vista metafísico existe uma Verdade única, universal e pré-existente à nossa experiência pessoal. De um ponto de vista relativista existem inúmeras verdades constituídas pelos sujeitos que as elaboram, as experienciam. Mas ambas possuem a barreira intransponível da comunicação. Claramente impossível dizer exatamente aquilo que se considera a Verdade ou cada uma das verdades.
Muito difícil saber qual o significado que um indivíduo atribui a um conceito, tanto daquele que o constrói com consciência como daquele que o faz por impulso da forma de conhecer própria da espécie humana.
Um dos grandes problemas humanos é exatamente a linguagem, as dificuldades que temos cotidianamente de expressarmos a outrem o que sentimos e o que pensamos. Sempre o empecilho de que aquilo que proferimos com o sentido que empregamos dificilmente é entendido tal e qual pensamos. Em geral a outra pessoa entende o que dizemos mediante os conceitos construídos e albergados por ela e que muitas vezes não coincidem com os nossos.
É um tema complicado pra gente pensar e partilhar é o da morte. As crenças pessoais e grupais constituídas como verdades não nos permitem acessar o fenômeno da morte de maneira isenta. Toda visão, toda concepção é o meio de interpretação do fenômeno.
Minha avó materna, Cici, despediu-se dos corpos físicos, densos, e agora habita uma região diferente da nossa, em uma dimensão inacessível ainda para a tecnologia de nossos corpos. E mesmo que alguém a acesse e permita a comunicação, seja por meio da mediunidade psicofônica, da psicografia, da clarividência, da projeção astral ou da TCI (transcomunicação instrumental por meio de áudios, fotografias e imagens em movimento, via computador, rádio, tv, telefone), ainda assim a interpretação que faremos das informações será passada pelo filtro, pelos óculos da nossa cosmovisão, particular e ao mesmo tempo partilhada num grupo, seja de cunho religioso, exotérico ou científico.
Tenho observado o fenômeno da morte e suas consequências nos comportamentos dos familiares e amigos. As famílias expressam os paradigmas pelos quais conduzem suas vidas de maneira veemente quando um parente ou alguém próximo morre, dessoma, desencarna.
Há os desesperados em sua tristeza que se sentem revoltados, abandonados, desrespeitados e injustiçados; há os de uma discreta tristeza que se portam tranquilos, solidários, esperançosos e compreensivos. De um grupo ao outro há uma infinita gama de variações, mas em geral, é essa a classificação que faço por observação.
Tanto num grupo como no outro há de fundo uma concepção de sentido da vida humana nesse mundo, há uma maneira de vivenciar as emoções e os vínculos afetivos. De qualquer maneira, ao conversar individualmente com os participantes de ambos os grupos, cada um tem, dentro de um paradigma geral, sua visão particular, sua compreensão do fenômeno, sua explicação para o que sucedeu e sucederá ao "morto".
Não creio que alguém possua a resposta melhor, mais adequada porque cada um constrói e acessa um nível de informações, por meios muito diferentes e com orientações muito divergentes. No final, parece que mesmo com algum acompanhamento, o caminho é solitário, a busca é pessoal e a verdade que vamos constituindo é algo que vige entre o interior e o exterior. Nossa tentativa é de organizar tudo dentro de nós para atribuirmos senso à vida e ao mundo, às nossas relações ditosas ou amargas com as pessoas, mas é sempre um exercício muito particular.
O que me parece é que na busca incessante, mais panoramas vão sendo descortinados e apresentados horizontes mais amplos; enquanto aquele indivíduo que não questiona, não se empenha numa reflexão séria e continuada, fica atado a uma concepção que não o liberta, não o acalenta, não o impulsiona para novas qualidades em suas relações e ideias.
Pessoa alguma, ao meu ver, dentro do meu espectro de conhecimento, tem uma verdade acabada que me sirva, mas ao longo da vida, no evolver das concepções que albergo, vejo mais sentido em coisas nas quais creio hoje e que ontem ignorava.
Penso que se existe a Verdade, ela não será dita mas vivida, será um estado e não um discurso. Para mim as verdades são os discursos explicadores e divulgadores das nossas concepções e de nossos grupos, são proferidos e nós tentamos aplicá-los como guias de nossas ações e das ações alheias.
Talvez a observação faça mais pelo vislumbre da Verdade do que inúmeros discursos de verdades.
Enfim, falamos demais e vivemos de menos. Nossas vidas se restringem aos nossos discursos incompreensíveis e incompreendidos, e assim impedimos que a Verdade inefável se manifeste enquanto essência da Vida.
A morte é um tema especial para pensar a inefabilidade da Verdade, já que cada um se aproxima dela segundo as concepções de suas vivências e ninguém pode ser assertivo quanto à uma explicação cabal. Mas é inegável também que é um tema importante para abrir espaço para rever velhas crenças e forjar novas concepções que nos façam sentir mais próximos de um sentido universal.
A morte da Cici foi uma grande oportunidade para todos exercitarmos comportamentos segundo nossas crenças e observarmos os comportamentos alheios. Com certeza, a morte da Cici fez todos se perguntarem sobre a Verdade do sentido da vida.



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