Li, há muito tempo atrás, um texto de Eduardo Galeano, A história é um profeta com o olhar voltado para trás. A ideia de Galeano se aproxima da concepção corrente de que a profecia fala de um tempo vindouro, porém, para ele, não se trata de adivinhação, mas de que a história não é um mero rememorar, um registro do que sucedeu, mas é o estudo cuidadoso do que sucedeu para apontar os caminhos que devemos seguir. A história não é a realização de um projeto externo à ação do homem, mas é a construção consciente de quem, sabendo das mazelas e conquistas, escolhe caminhos e estratégias. Ou seja, a profecia realiza aquilo que escolhemos. Então quem observa o futuro e indica possibilidades de acontecimentos, só os visualiza porque conhece os caminhos percorridos até então.
O futuro está em nossas mãos, então, visões deterministas que enfeixam o amanhã num prognóstico fechado, não me interessam. Creio, firmemente, que se conhecermos ao máximo nossa própria história pregressa, poderemos com mais segurança dar os próximos passos em nossa vidas. E nem precisa de regressão de memória, penso que basta observarmos nossa própria conduta, pensamentos e reações ao longo do tempo. Vou fazendo uma anamnese a partir dos relatos familiares, das fotografias de sempre, das minhas atitudes, das pequenas às grandes, tudo fala, grita, ecoa quem sou. E daí não é muito difícil profetizar o que sucederá adiante.
Uso também o recurso de mapa astral, taróloga e terapia psicológica, mas em verdade, eu mesma é que sou o meu melhor prescrutador. Tudo auxilia, desde que se queira realmente se conhecer.
As ideias que proferimos são como profecias, são o desejo mais íntimo do que gostaríamos de ser. Somos sempre melhores em nossas falas, em nossas defesas de ideais. Há uma distância considerável entre o que somos e o que queremos ser. Mas de qualquer maneira, profetizar sobre nós mesmos é uma oportunidade de idealizarmos um eu melhor, de projetarmos uma superação das limitações presentes, de acreditar que podemos avançar em progressão.
Penso que o profetizar deve ter uma ambivalência. Em análises calcadas nos nossos erros pregressos e nas indicações que o autoconhecimento permite, podemos nos visualizar no futuro com marcas e eventos péssimos e que nos depreciam, mas ao mesmo tempo, fortalecendo os aspectos bons e agradáveis, podemos programar um percurso que nos permita ir pouco a pouco transformando o que não atende ao nosso desejo em elementos de aprendizado sobre o que não fazer, o que evitar. Assim o erro adquire uma característica educativa, e se torna um grande aliado. Conhecer nossas mazelas nos fortalece para criar novas propostas de como nos conduzirmos na vida.
Profetizar nao é expressar determinismos, mas é apontar possibilidades, e se elas são negativas, o que temos a fazer é urgentemente empreender uma proposta de superação, de novas realizações. Por exemplo, se eu como desmesuradamente, se fumo, se bebo excessivamente, posso profetizar um futuro amargo em termos de saúde física, então, em vez de resignação, o que se pede é uma mudança radical no proceder com meu corpo.
Não é tarefa simples nem de alcance imediato, mas ser profeta de si mesmo talvez seja a grande tarefa de nós para conosco.
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