domenica 22 luglio 2012

A favor de quem, contra quem

Uma frase de Gandhi, "eu não sou contra o império britânico, eu sou a favor da soberania da Índia", foi citada por Adyashanti quando ele comentava acerca de confiar na vida e na existência, confiar mais no que se acredita, focar no que se defende, não lutar contra algo mas a favor de algo.
E daí eu comecei a pensar que grande parte da minha vida eu levantei bandeiras contra isso e contra aquilo, seja em termos políticos, sócio-econômicos, culturais e educacionais. E com certeza, ainda tenho traços horrorosos em meu caráter de estar sempre apontando aquilo que não gosto, às vezes até martelando em ferro e em fogo.
Minha formação acadêmica inicial foi numa linha eclética, mas eu me identifiquei mais com teorias fundadas na dialética marxista. Por exemplo, em termos de educação, dentro de um horizonte dialético mas com peculiaridades ideológicas próprias a cada autor, eu construí minha cosmovisão com leituras de Paulo Freire, Moacir Gadotti, Dermeval Saviani, Antonio Gramsci, Louis Althusser, Pierre Bordieu, Florestan Fernandes, Jefferson Ildefonso da Silva, Marilena Chaui e Jean Paul Sartre (linhas, fundamentos e estratégias diferentes mas todos num mesmo horizonte dialético). Todos me auxiliaram a observar a realidade a partir do conceito de unidade dialética, em que uma unidade é construída a partir de dois antagonistas que são gerados um pelo outro, assim as unidades escravizador-escravo, capitalismo-socialismo, pai-filho. Só na interdependência eu conseguia interpretar os fenômenos que observava; sempre procurando compreender a realidade numa complexidade profunda de dialeticidade a partir da estrutura social capitalista formada pela burguesia e pelo proletariado, pelos meios de produção e a força de trabalho. E de tudo me marcou muito uma fala de Paulo Freire, "a gente tem que saber contra quem a gente luta e a favor de quem a gente luta". O processo de consciência política ensejado por Freire foi para mim vivenciado a partir disso, o que eu renegava, o que eu defendia. E assim dirigi minha combatividade sempre expressa publicamente, em aulas, em palestras, em movimentos grevistas. Procurava sempre ter uma grande coerência entre em quem eu votava, quem eu lia, quem subsidiava meu arcabouço teorico, como estabelecia contato com o mundo e com as pessoas. Evidentemente que minha assertividade gerava conflitos enormes, e ou eu era amada ou era odiada, tendo em vista os fronts ideologicos. Lembro-me claramente em uma eleiçao em Santos em que os candidatos Telma de Souza e Joao Paulo Tavares Papa estavam em embate e a escola particular onde eu lecionava estava divididissima, pro e contra um e outro. Na manha seguinte às eleiçoes, ao adentrar a escola, apos a derrota da minha candidata, havia um clima de vitoria para alguns e tristeza para outros, eu incluida. Ao ser abordada por uma defensora do candidato vencedor com um "Bom dia!", eu respondi azeda "Nao vejo nada de bom hoje!". Eu sabia exatamente contra quais projetos sociais, politicos, economicos, culturais e educacionais eu lutava e quais eu defendia, e com isso eu restringia meu olhar sendo mal educada com outro ser humano, o qual eu nao via, apenas enxergava uma inimiga politica. Via as pessoas na "pretensa" claridade de suas posiçoes. Esquecia também o que Freire dizia: "todo oprimido carrega um opressor dentro de si". Eu me postava ao lado dos que eu pensava como oprimidos, pobres, desvalidos, politizados conscientemente, esclarecidos e justos. Eera o auge da minha visao turva que nao observava a complexidade das subjetividades que nao poderiam ser meramente classificadas ideologicamente. Claro que nao invalido minha concepçao dialética inicial, mas hoje nao observo as pessoas apenas na dimensao da unidade dialética infraestrutura-superestrutura.
Quando tive a oportunidade de ser Coordenadora na mesma escola junto a tres maravilhosos colegas de trabalho, hoje meu amigos, fui renegada por pessoas que militavam comigo na linha dialética ha anos; era como se eu tivesse renegado minhas crenças anteriores e tivesse mudado de lado. Transpunha-se para a escola os embates ideologicos do dia-a-dia. Meu maior exercicio naquela funçao foi nao permitir que o opressor em mim se manifestasse, que eu pudesse destruir a unidade dialética opressor-oprimido, e passar a viver de maneira mais humanizada com tudo e com todos, evitando apenas tentar impor minhas ideias e passando a considerar também outros pontos de vista. O resultado foi que eu me abri mais para o permear de ideias aparentemente inconciliaveis em teorias que se liam como puras ideologicamente. Meus estudos ulteriores permitiram encontrar, por exemplo, John Dewey em Paulo Freire (um liberal e um dialético marxista); assim como entre colegas de trabalho encontrei pessoas ditas "tradicionais" que faziam belissimos trabalhos pedagogicos, e professores modernos com atitudes jurassicas. Eu passei a ver coisas que para mim, antes, eram impossiveis. Me humanizei na Coordenaçao. Foram so quatro anos mas o suficiente para eu saber que eu era mais pretensiosa intelectualmente do que competente na vivencia humana.
Os ultimos nove anos de minha carreira foram radicalmente diferentes dos primeiros 17. Se antes a minha preocupaçao era sempre a critica e a consequente proposta da imposiçao de um ideal radical, agora eu pensava em ter a critica apenas como a base da minha analise inicial, mas o foco era na construçao de uma alternativa às açoes anteriores sem renega-las totalmente mas as alimentando com novas perspectivas.
Ser mais proativa, dar mais e melhor de mim, olhar o outro em sua humanidade, confiar mais nos processos individuais que se imiscuem no emaranhando socio-economico-cultural. Saber mais acerca da variedade de caminhos e por isso mesmo nao impor nada a ninguém; evidentemente que nao sendo alguém sem perspectivas futuras ou sem bases fundamentais. Eu ainda sei que mundo eu desejo e pelo qual luto diariamente para construir dentro e fora de mim, mas ja sem a grande ideia de destruir o mundo que nao aceito.

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