martedì 10 luglio 2012

Ideias, idearios e ideais

Ideias, idearios e ideais sao palavras que se assemelham mas que sao portadores de diferentes significados. Ideias sao construtos mentais que, portadores de significados, traduzem o mundo criado por nos numa construçao interativa cérebro-mente-objetos abstratos e concretos, mediada sempre pela linguagem em situaçoes de associaçoes com pessoas, coisas e situaçoes. As idéias se constituem em conceitos abstratos e imagens, sons e sensaçoes que num amontoado amealhado pelo contato com o mundo e armazenado a partir da memoria estereognostica, se constroem em corpos organizados. Penso que é algo como Kant permitia pensar. A Razao (eu penso Espirito, Mente, Individualidade) pode construir seus juizos puramente abstratos mas em numero bem reduzido, como os matematicos ou geométricos com validade universal (mas eu penso ainda que limitados em determinados contextos relativos). Mas ha os juizos sintéticos a priori e os a posteriori. Os juizos sintéticos dependem do contato da Razao com a Experiencia, o mundo mental com o mundo material. Sem contato com o mundo o homem nao pode pensar. O isolamento da experiencia empirica deixaria o homem entregue às vicissitudes cotidianas e à sequencia de eventos sem maiores ilaçoes e juizos. Para ajuizar o homem utiliza a razao e passa a organizar sua experiencia criando categorias novas ou utilizando categorias a priori que determinam previamente sua visao de mundo (formas de ver, de pensar, de sentir, ou seja, limites fisico-organicos e cognitivos). Vou formando ideias a partir das experiencias em interaçao com outros seres e com o mundo em geral; ideias que nao serao perenes, mas que estarao sempre em transformaçao dependendo da minha abertura para reconstrui-las.
As ideias sao bases para os ideais e para os idearios.
No oficio de formadora de formadores, ou seja, professora de cursos preparatorios para professores, eu sempre insistia com os alunos acerca da importancia do reconhecimento de idearios diversos e a assunçao de um deles ou de alguns dentro de um mesmo horizonte de fundamentaçao teorica. Assumir um ideario é postar-se conscientemente no mundo e assim intervir com clareza na construçao de ideais segundo possibilidades e condiçoes socio-historicas. Agir sem idearios é estar entregue à idealismos sonhadores ou à pura empiria, onde a experiencia empirica isolada nao compreende a reflexao critica. Apenas ter ideias esparsas e desorganizadas nao permite agir no mundo de maneira consciente e direcionada, mas apenas vagar por opinioes nao fundamentadas e por vezes ao sabor das influencias ideologicas e dos eventos cotidianos aleatorios.
Os ideais sao a fonte de inspiraçao e os alvos de nossos projetos e açoes na busca da construçao de idearios. Muitos entendem ideais na conta de utopias esquecendo que as utopias nao sao apenas nao-lugares, mas como diz Marilena Chaui, sao possiveis eutopias, bons-lugares, que, se podem ser pensados, podem ser realizados, claro que com a consideraçao dialética do contexto. Para Dewey os ideais sao poderosas fontes de estimulo como parametros direcionais de onde queremos chegar, valorosos desde que mediados pela dinamica da experiencia. O que nao se pode é ter ideais nao fundamentados e sonhadores sem o efetivo trabalho de reconstruçao dos mesmos a partir das novas experiencias; o entorno vai mudando, nos vamos mudando e por conseguinte, nossas ideias, idearios e ideais também.
A passagem de ideias velhas para ideias novas, como aprendi com Charles Sanders Peirce, dentro de um horizonte teorico pragmatico, se da na medida em que ideias velhas nao dao conta das situaçoes em que estamos envolvidos; porém ha uma tendencia em manter coesas e incolumes as ideias que sustentam nossas vidas, ou seja nossas crenças. Necessitamos de um evento que disturbe nossas crenças para que elas possam ser revistas e recriadas, mas no ato da recriaçao precisamos de novas ideias, o que nao se pode fazer sem as ideias velhas. Assim nossas mudanças sao a construçao de verdadeiras pontes entre o antes e o agora que almeja o depois. Nao ha como fazer o novo sem o velho.
Toda a reflexao acima foi incitada por uma conversa com uma carissima amiga. Observamos mudanças em instituiçoes educacionais que, à guisa de se modernizarem e adequarem-se aos novos padroes economico-financeiros bem como ideologicos, passam como um trator sobre escombros, dizimando experiencias de décadas e ignorando o acumulo de conhecimentos que permitiram chegar ao ponto atual. Mudar sim, mas nao destruindo totalmente pessoas e projetos que se vinculem ao passado. Trabalhei com uma Diretora de Escola, Maria Helena Machado Guimaraes, a qual sempre reforçava a ideia de que uma escola ideal se alicerçava na tradiçao e na experiencia do passado bem como se projetava no futuro procurando agir com atitude de vanguarda.
Dewey permite pensar que a mudança de pensamento ha sempre de vir, seja pela experiencia reflexiva, ou seja de forma inteligente, ou pela morte, pois quem nao muda pode ja estar morto em vida. Instituiçoes e pessoas que nao mudam, empedernidas numa unica forma de pensar e agir, nao se adaptam inteligentemente ao mundo, e acabam por ser esquecidas, abandonadas em vida ou apos seu desaparecimento. Entao, de maneira nenhuma se defende o aprisionamento a ideias velhas em absoluto, mas se defende a analise criteriosa de quais ideias podem ser sustentaculos do futuro almejado e quais devem ser revistas e, inclusive, descartadas.
Ideias todos construimos. Idearios demandam esforço de estudo e reflexao. Ideais sao fundamentais para nos encaminharmos conscientemente das experiencias reflexivas do ontem, mediadas pelo hoje, em direçao ao amanha de nossos desejos de crescimento e aperfeiçoamento para nos e para todos os que partilham de nossa caminhada.

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