Em matéria de esportes sigo a famosa frase de Neuzinha Brizola: "Quando me dá vontade de fazer ginástica, deito e espero passar." Na escola eu só conseguia jogar handebol e queimada, na verdade eu corria da bola velozmente; e na maior parte do tempo ficava lendo revistas, sentada no banco em frente a quadra. Pratiquei exercícios na escola e ainda os pratico, mas com uma periodicidade de dar dó. Vôlei de praia com os colegas, mas eu nem me lembro como eu conseguia. Corria aos 17 anos e parei. Frequentei uma academia para fazer aeróbica aos 19 e desisti. Quando os meninos eram pequenos eu nadei para acompanhá-los, mas foi só por um ano, penso que lá por 1992 ou 1993. Com 35 anos eu frequentei hidroginástica por oito meses com a minha mãe e uma tia, aí começou uma modinha de axé para as aulas e também parei (gostava mais das musiquinhas estilo zen). Fiz musculação aos 38 e depois de seis meses parei. Aos 41 me matriculei em pilates, cumpri apenas uma aula. Em 2006, com 42 anos, fiz novamente musculação por novos seis meses e retornei em 2009 por longos dez meses. Daí para frente sigo meu próprio programa de exercícios, o que faço uma semana sim e oito meses não... vergonhoso para quem tem campeão olímpico na família, Rogério Sampaio. Além disso, há a questão da necessidade de exercícios para a manutenção da saúde física e mental, os quais eu tenho desprezado.
Meus filhos fizeram de tudo: natação, futebol de campo, futebol de quadra, judô, tênis e yoga. E hoje com 24 e 22 anos são como a mãe, surtos de atividades e períodos de interregno longuíssimos.
Mas o quadro acima desenhado não implica em não gostar de esportes. Tenho predileção especial por assistir jogos de grandes campeonatos e de momentos culminantes como Copas do Mundo, Olimpíadas e torneios internacionais, especialmente para acompanhar o desempenho dos atletas brasileiros em vôlei de praia e quadra, futebol de campo, ginástica artística e judô, sempre sentada em casa, em frente à TV ou PC.
No momento estou acompanhando, com meu filho Pedro, a Olimpíada de Londres pelo canal Band Sports, por meio da internet. E claro, o estou enlouquecendo com meus comentários estapafúrdios; por exemplo, de futebol não entendo nada mas ainda assim vou falando, e ele indignado com a minha ignorância; se os jogadores ficam ali passando a bola um para o outro no meio do campo e não avançam, eu já começo a xingar e tudo mais, aí o Pedrão diz "é tática!", e quando no último jogo contra a Bielo-Rússia saiu logo um gol do Neymar depois daquela cera toda, ele me disse: "tá vendo mãe, a tática dá certo, vai entrando devagarinho e na hora certa é gol"... eu realmente não entendo... fico pensando na grana que aqueles garotos ganham por ano, enquanto tantas equipes vêm de lugares nos quais talvez joguem apenas por amor ao esporte... No caso do vôlei e do judô (que mexem mais com minhas paixões) eu endoido nos comentários e o Pedro não consegue ouvir o que dizem os especialistas, Marcelo Negrão do vôlei e Henrique Guimarães do judô. Enfim, ter mãe, e assistir com ela a Olimpíada, é padecer no paraíso...
Trabalhei por dois anos no Curso de Educação Física e pude acompanhar, como professora, a luta dos alunos para praticarem seus esportes, alguns de forma competitiva, trabalharem, alguns como professores em suas modalidades, e ainda estudarem. Era realmente uma batalha, e alguns deles acabavam por desistir. Mas daquela experiência o que mais me marcou foram as discussões sobre se o esporte deveria ser competitivo ou dedicado às questões de socialização, educação e saúde. Eu realmente penso que pode ser um pouco de tudo e depende muito dos projetos de vida individuais e das políticas públicas de atendimento à população em geral, porque, afinal, por observações na vida familiar e de amigos, no Brasil as famílias têm que despender muito da sua energia e dinheiro para bancar um atleta, ainda mais vinte, trinta atrás. Algumas prefeituras se movimentam e atendem algumas modalidades incentivando os jovens e crianças com bolsas de estudo e auxílio para alimentação e transporte, construindo ginásios para treinamento; meu sobrinho Rodrigo, por exemplo, ginasta artístico, recebe um incentivo desse tipo da cidade de Santos. Mas se vê que, na maioria dos casos, são técnicos denodados e alguns patrocinadores apostando nos atletas. Sem falar na falta de atendimento à populaçao carente. Passando por alguns bairros de periferia, acaba-se por ver, em pleno domingo, a molecada reunida em praças que nem jardinagem têm, em esquinas, e é claro, se não há esportes, há drogas e ideias interessantes de fazer algo para conseguir mais drogas. Energia demais na juventude para ser desperdiçada assim...
No caso do esporte competitivo, em especial durante a Olimpíada, vê-se que o lema divulgado pelo educador francês Pierri de Fredy, conhecido como Barão de Coubertin, é pronunciado por um bispo nos Jogos de 1908, "O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade", nao é ainda integralmente praticado. Os casos de doping e a ferocidade em alguns combates e jogos deixa a desejar a ideia de que "o importante é participar".
Se pensarmos na quantidade de pessoas que praticam esportes competitivos no planeta, realmente é uma grande honra e uma vitória antecipada participar de Jogos Olímpicos e de Paraolimpíadas. Imagine que dentre milhões, aqueles atletas representam o que de melhor as civilizações humanas conseguiram em termos de evolução das técnicas físicas e psicológicas, da alimentação e da medicina para construírem e aperfeiçoarem seres humanos, em seus corpos e suas mentes, a fim de superarem dores e fadigas. Penso também que, em termos da evolução do corpo físico, o esporte competitivo é importantíssimo pois demonstra novos limites para o desempenho físico humano. Por outro lado, as lesões e as consequências a longo prazo para atletas são gravíssimas, seja para os de alto nível ou para os que praticam pelada na praia. De qualquer maneira, vejo na família pessoas que praticam transferência de canal por controle remoto, e que também apresentam várias sequelas pela falta de movimento. Não tem jeito, o corpo humano é uma maquininha limitada e com tempo de validade, ao menos por enquanto...
Parece-me que os comentaristas televisivos dirigem as emoções dos telespectadores, às vezes de maneira um pouco anti-ética, estimulando algumas raivas com relação à equipe adversária, como por exemplo "podia dar uma zica", "olha a atleta dando aquela secada básica", "a equipe x, nossa rival" e daí por diante... e os comentaristas especialistas, em geral ex-árbitros ou ex-atletas, muito mais demonstram altruísmo, elogiando as performances dos oponentes e apontando as falhas dos brasileiros. Outra coisa irritante é ver como a mídia faz loas para os vitoriosos e despreza os perdedores; como cobra dos vitoriosos novos altos desempenhos; ou ainda como aponta como azarão um desconhecido que se apresenta como campeão, desconhecendo totalmente sua trajetória no esporte, muitas vezes de grande desempenho, mas fora da luz dos holofotes midiáticos. Políticas públicas e canais de televisão privilegiam alguns esportes que dão resultados e desprezam outros que, se não atingem os escores desejáveis, é justamente porque faltam os incentivos. Lembro sempre de uma reportagem em que se noticiava que uma atleta brasileira treinava corrida descalça porque não tinha tênis, o que segundo Evaristo Neto, não é um caso raro, tendo alguns desses meninos chegado à Seleção Brasileira de Atletismo.
O lance é que no capitalismo e no socialismo (capitalismo de estado) é assim mesmo, para o primeiro é a grana, o lucro, os patrocinadores, o consumo, para o segundo, a supremacia, o poder e a propaganda do regime.
Mas, como diz Drummond, "de tudo fica um pouco"..., e mesmo sabendo de todo o emaranhado de ideias que me assaltam ao acompanhar mais uma Olimpíada, ainda me emociono ao ver todos aqueles atletas reunidos, apresentando sua cultura, suas histórias marcadas em seus corpos, a realização ou a frustração de tantos anos de dedicação exclusiva para ter o julgamento de seu desempenho em poucos minutos.
Logo logo sera a Paraolimpíada e aí veremos com certeza o esporte solidário, em que atletas comprometidos por sequelas físicas e mentais praticam competitivamente seus esportes, mas sem abandonar o respeito e o carinho pelo oponente, o que não recorda em nada um adversário. Penso aqui nas Olimpíadas Especiais de Seatle, quando, em 1992, durante uma corrida, um corredor caiu e foi auxiliado por uma colega portadora de Síndrome de Down e, junto aos demais competidores, de mãos dadas, foram até a linha de chegada. Em outros eventos de não portadores de necessidades especiais, vi atletas pisando, chutando e unhando. Recordo agora de um caso que li em algum livro espírita, em que um certo indivíduo desejava reencarnar como professor de cegos e o seu orientador lhe indicou que primeiro nascesse como cego e depois, numa futura volta ao corpo, viesse então como professor, para conhecer realmente do que se tratava. Talvez, partilhando as mesmas dificuldades, os paratletas sintam e pratiquem mais a solidariedade.
O que importa é que há muito o que se pensar sobre esportes e sua importância para a espécie humana para que a gente fique apenas presa da emoção.
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