venerdì 29 giugno 2012

Cici, uma luz em minha vida

Hoje me deu uma vontade de escrever sobre minha vo Cici, a mae da minha mae. Por muito tempo, talvez do final da infancia até quase 40 anos, Cici foi mitificada por mim numa grande adoraçao baseada na admiraçao de seus traços de carater, sua historia de vida e o carinho e o amor por ela a mim dedicados. Depois dos 40 eu passei a desmitifica-la e ama-la com mais profundidade em sua humanidade plena.
Recordo-me que em momentos cruciais de minha vida ela sempre era a referencia e a primeira a me dizer palavras de conforto e incentivo. Quando de uma cirurgia espiritual, em minha primeira gravidez, nas decisoes sobre trabalho e estudo, no momento de minha separaçao do pai dos meus filhos, na minha vinda para a Italia. Ela sempre se manifestava a partir de seu proprio ponto de vista e, apos isso, explanava sobre sua compreensao acerca de minhas escolhas demonstrando muita modernidade na sua apreensao do mundo e generosidade em aceitar confiante os caminhos por mim percorridos.
Cici nao estudou formalmente mas ainda assim demonstra grande sabedoria, claramente mais do que muitos que conheço e tem inumeros titulos academicos, posiçao social de destaque e situaçao financeira privilegiada. Sua origem é humilde, filha de lavradores de Minas Gerais. Nasceu no vilarejo de Cachoeira, distrito de Sao José da Lapa, à época pertencente à cidade de Vespasiano, uns 20km de Belo Horizonte. Estudou no sistema chamado Método Lancaster, introduzido no Brasil pelo Imperador no século XIX. Uma professora geria a escola, a secretariava e lecionava para todas as turmas de alunos com o auxilio dos alunos mais adiantados. Cici era uma delas. Poucos anos de estudo e muitos de trabalho junto à familia na lavoura e nos cuidados da casa e seus misteres.
Casada pela primeira vez continuou morando em Minas Gerais e, por um tempo, também em Sao Paulo nas imediaçoes de Presidente Prudente, onde nasceu minha mae. No retorno à Minas, em sua vida sempre sacrificada e de muitas dificuldades, ja com tres filhos (duas meninas e um menino) e um no ventre, veio a ficar viuva. Ela fazia de tudo, cozinhava, lavava, costurava, carpia, catava lenha, criava galinhas selvagens, e recebia restritos e modicos auxilios de algumas pessoas conhecidas, com pouquissimo apoio da familia. Perdeu os dois filhos meninos por falta de auxilio médico e por condiçoes limitadas para uma alimentaçao saudavel. Foi morar com parentas cegas de seu falecido marido e ali sua vida eram as filhas e o trabalho na roça e em moinhos.
Um irmao de seu cunhado, mineiro com vida em Santos, a pediu em casamento e a trouxe para o litoral paulista. Em Santos, morando em casa coletiva no bairro do Marapé, teve mais tres filhos (duas meninas e um menino). Seu marido adoeceu e ao falecer a deixou com os cinco filhos. Ela os criou com a parca pensao e o trabalho continuo como lavadeira, passadeira e arrumadeira de casas. Comprou com o auxilio de amigos uma pequena casa na Areia Branca, uma antiga area de avanço de aguas marinhas e invasao de terras, em um sistema de habitaçao popular, a Cohab. Ainda com todas as dificuldades, casadas as filhas do primeiro casamento, educou os mais novos em escolas publicas de alta qualidade e os introduziu em sistema de incentivo à educaçao e ao trabalho juvenil, como Camps e Patrulheiras. Os filhos que quiseram se desenvolver tiveram seu apoio e incentivo e percorreram caminhos de autonomia construindo vidas organizadas, honestas e interessantes.
Hoje Cici com quase 93 anos, esta cega, mora com uma denodada filha e é a grande matriarca da  familia. Muitos amigos e parentes a visitam e a tem como uma referencia de amor, paz, simpatia, amizade e vida dedicada ao trabalho de forma honesta.
De tudo que me marcou, com certeza o aspecto espiritual ressalta: rezadeira de mao cheia, benzia crianças e adultos por meio de sua imensa fé e amparo espiritual. Sempre em contato com os amigos desencarnados, recebia, e ainda recebe, noticias de suas passagens e de eventos imprevistos.
Adorava passar alguns dias de minhas férias escolares em sua casa, viver a sua cotidianidade. Comer seus doces de leite, doces de banana, bolos secos de maça, suas macarronadas e as famosas laranjadas com duas laranjas, uma imensidao de agua e muito açucar.
Sua vida doméstica organizada e tranquila, com limpeza e regularidade, com seu pequeno jardim e as pequenas delicias da cozinha sempre compuseram meu imaginario, o qual hoje tem dirigido a construçao de meus dias.
Quando tive que enfrentar dores fisicas e morais, dificuldades financeiras e situaçoes extremadas, ela sempre era a luz a me indicar possibilidades por meio de suas sabias palavras e o exemplo  de suas empreitadas.

martedì 26 giugno 2012

Conhecer, a arte do indagar e da incerteza

Ontem tive a grata oportunidade de conhecer uma pessoa interessantissima. Um senhor de 76 anos, professor de frances aposentado, uma figura distinta, simples, espontanea e vivaz, com muitas experiencias que demonstravam, por seus relatos e impressoes expressas, ter e estar aproveitando tudo em seu percurso pessoal como construçao da sua sabedoria provisoria. Eu particularmente ambiciono e creio que o caminho que ele empreende pode nos levar a vislumbrar a Verdade.
De tudo que conversamos informalmente, muito me chamou a atençao sua crença de que a unica certeza é a da incerteza, da provisoriedade de nossos conhecimentos, da interrogaçao constante de que se reveste nossa capacidade de filosofar.
Dentro da concepçao pragmatica instrumentalista de John Dewey, pode dizer-se que a crença é um conjunto organizado de ideias que se mostram provisoriamente suficientes para nos permitir interpretar e interagir na realidade construida por nos mesmos em continuidade de experiencias reflexivas ou nao. As experiencias reflexivas seriam aquelas que nos permitem crescer, aperfeiçoar e aprofundar a compreensao sobre nos mesmos e o mundo. Elas se dao por um movimento de atuaçao no mundo por meio de ideias estabelecidas que, na dinamicidade das açoes, passam a ser revistas. Na impossibilidade de agir satisfatoriamente na realidade com formulas velhas, necessitamos rever nossas crenças. Ja as experiencias nao reflexivas sao as que perpetuam a concepçao da realidade porque nao ha o movimento de revisao das crenças; encontrando uma unica e suficiente forma de intervir no mundo, a pessoa se restringe a repetir padroes de açao sem o questionamento da utilidade de tal abordagem. Entao, nesse horizonte teorico deweyano, crença, assim como a ideia de verdade, nao sao substantivaçoes mas adjetivaçoes. Assim, crença e nao Crença, verdadeiro e nao Verdade.
As crenças e aquilo que para nos sao verdades, constituem instrumentos de intervençao, de experiencias reflexivas ou nao. Dai que ha muitas verdades, muitas crenças, e o unico possivel meio de ajuiza-las é a observaçao de quanto bem, quanto aperfeiçoamento, quanto crescimento elas promovem para nos e, em continuidade, para nosso entorno humano e nao humano.
O processo de constituiçao da verdade provisoria se da por uma inicial situaçao de espanto, em que somos chamados a observar algo que parece nos dizer respeito mas que nao identificamos de pronto, algo que faz parte de nosso entorno e que ali se apresenta sem grandes explicaçoes. Depois iniciamos uma busca obstinada, em nosso cabedal de crenças e informaçoes, de indicios que nos permitam compreender a situaçao observada e, entao, formulamos um problema. Finalmente passamos a construir hipoteses de abordagem, partindo para experiencias e suas verificaçoes. Tudo de maneira natural, proprio da forma humana de conhecer, ou com intençao metodologica para uso consciente do pensamento reflexivo. Assim, nossas verdades sao sempe condicionadas aos resultados. O que funciona, serve, explica, satisfaz, é verdade, o que nao atende às necessidades, deve originar a revisao de nossas crenças.
E é assim que penso que a fala daquele senhor tao distinto se reveste de sabedoria. Ter a noçao de que a vida humana é um constante perquirir, uma insuficiencia imensa de atingir a Verdade. Dewey nao negava a realidade metafisica, apenas demonstrava a incapacidade humana de abarca-la por meio de sua constituiçao natural e de seus métodos. Eu também penso que essencialmente a Verdade tudo penetra, tudo sustenta e tudo impulsiona, porém creio que nao a conheço em sua plenitude, mas que no aperfeiçoar de minhas crenças pragmaticamente construidas, vou vislumbrando facetas que se revestem apenas de verdades provisorias.
Tem sido esse arcabouço teorico o meu parametro para escolher as verdades em que me apoio para interpretar e julgar a mim mesma e ao mundo do meu entorno.
A vida, para mim, deve ser entendida como a arte de conhecer por meio do exercicio filosofico do indagar com a unica certeza de que minhas crenças sao provisorias, e tem mudado mediante as transformaçoes de minha consciencia em continuidade com minha inserçao no universo.

domenica 24 giugno 2012

Arte, alimento, guia e manifestaçao da alma

 Meu companheiro esta com uma mostra de suas obras na Casa Paola Arte. No sitio angelo62.altervista.org ou na pagina facebook.com/galeazzi.angelo seu trabalho pode ser conferido. Eu o tenho acompanhado por muitas vezes nos periodos em que ele fica à disposiçao do possivel publico apreciador e/ou critico de arte. Aproveito para observar o comportamento das pessoas e refletir e conjecturar sobre a importancia da arte em suas, em nossas vidas.
Muitos se aproximam e ficam do lado de fora, observando através do vidro com olhos avidos mas uma certa timidez. Outros assomam à porta e, muito educadamente, pedem licença para entrar, evidenciando que nao reconhecem a galeria como um espaço publico de exposiçao e apreciaçao. Dentre os mais habituados, alguns entram e rapidamente dao uma passada de olhos e saem em silencio ou apenas agradecendo. Uns poucos se arvoram em tecer perguntas e comentarios, todos sempre muito inteligentes que fazem pensar e motivam uma exploraçao interessante por aspectos nunca antes aventados ou ainda confirmando hipoteses e intuiçoes nossas e deles mesmos.
Muitas crianças, da rua mesmo, expressam sua opiniao: "Bellissimo!" ao que as maes apressadas retrucam: "Andiamo, via, è ora della pappa!", dando um recado explicito aos filhos: a gente se alimenta de comida, mas de arte... Quando a mae esta distraida, a criança aventurosa adentra a galeria e passa, silenciosamente, a observar tudo, e, ao ser instada a um parecer, se comunica vivamente pelos olhos e com sorrisos... até que sua mae se da conta, entra no espaço, pede desculpas e retira a criança. Uma especialmente me encantou porque ela disse que também pinta, na escola e em casa, se reconheceu no mister do artista, permitiu que a obra estabelecesse uma intersubjetividade, ela, a obra e o artista, todos em comum. Pouquissimos pais entram com seus filhos, os quais demonstram a habitualidade de frequencia a tais lugares, ja que se locomovem livremente, por impulso proprio, observam e trocam olhares com seus acompanhantes.
Alguns casais que passam pela rua também chamam minha atençao. Em geral, observei rapazes que paravam frentre ao vidro e as acompanhantes lhes puxavam o braço. Uma especificamente, quando ele a instava a entrar disse "Non ho capito niente!" e nao aceitou o convite.
Dos que entraram e se manifestaram, muitos me comoveram com suas reflexoes expressas em formas de perguntas: "Qual a fome dos personagens?", "O que incomoda os personagens, qual sua angustia?", "Como liberta-los de suas prisoes?". Além das perquiriçoes técnicas acerca dos recursos de profundidade para o horizonte e sobre os elementos simbolicos como a presença de insetos.
A troca de informaçoes, o rememorar de periodos anteriores de convivencia em ambientes similares da arte, as impressoes que surpreendiam e as que demonstravam a cumplicidade do artista e seus apreciadores... Um casal muito concentrado na observaçao, ao ser perguntado se aceitavam tomar vinho e comer paes, muito rapidamente e com segurança, informaram: "Grazie, ma noi ci nutriamo dell'arte!", emocionante, nao?
Os artistas entao que vinham repetidamente analisar a técnica, conversar e partilhar, criavam um ambiente de fraternidade, de generosidade, de alegria na convivencia do estimular mutuo.
De tudo eu percebia sempre a importancia da arte como forma de expressao dos mais intimos incomodos e os mais profundos sentimentos por meio de recursos refletidos e criativamente construidos para a comunicaçao de nossos pensamentos da e na noosfera, como na concepçao de Teilhard de Chardin, considerando que estamos todos mergulhados em idéias, linguagens, teorias e conhecimentos  formados pelo espírito, dos quais nos alimentamos.
Como dizem os Titas "a gente nao quer so comida, a gente quer comida, diversao e arte"! Um homem na sua constituiçao multidimensional e interexistencial possui muitos corpos e uma subjetividade que se manifesta mentalmente, emocionalmente, cognitivamente, numa unidade que talvez pudesse ser nomeada de alma. A interioridade do homem precisa de alimento tanto quanto seus varios corpos... de comida tridimensional ao prana universal, da motivaçao estética à criaçao de realidades simbolicas... tudo é a projeçao do homem que se ressignifica por meio de seus intrumentos de expressao, no caso aqui especifico, a arte.
Mas para que isso se de, é necessario formar o homem com juizo de gosto no dizer de Kant, ou o homem estético no pensar de Friedrich Schiller. A possibilidade da intersubjetividade, ou seja, a comunicaçao do humano em mim com o humano no outro, o reconhecimento de simbolos que comuniquem e permitam interpretaçao de significados entre o homem de genio, o artista, e o homem de gosto, o apreciador. O que os une, o que nos une, é a arte, alimento, guia e manifestaçao da alma.
Crianças, homens e mulheres, artistas e apreciadores, todos necessitamos urgentemente de vida empenhada no nosso proprio reconhecimento em humanidade o que demanda uma educaçao e uma convivialidade estéticas.

giovedì 21 giugno 2012

Um nao vive com o outro, um nao vive sem o outro

Assistindo ao programa Enigmas da TV Orkut fui surpreendida com a frase "Um nao vive com o outro, um nao vive sem o outro". A questao, para mim, se reporta à convivencia com o diferente que passa pelas fases de atraçao e de repulsao. Aquilo que é desconhecido para nos se apresenta com uma grande exuberancia e nos atrai porque é exotico, mas, ao mesmo tempo, se mostra tao diferente dos nossos padroes cotidianos que acaba por nos afastar. Penso que tal ideia se aplica às relaçoes amorosas, interculturais, socioeconomicas e interdimensionais. Como é fascinante se imiscuir em campo desconhecido e, ainda assim, o desconforto e o desespero acabam por nos arrastar em retorno às situaçoes habituais de segurança.
Nas relaçoes amorosas a gente passa pela loucura da paixao em que o funcionamento quimico do organismo da conta do recado e nao ha muito a refletir, tudo se encaixa porque tudo é incandescente, porque tudo é novidade e se reveste de magia e encantamento; mas, com o transcorrer do tempo, ha um acomodamento organico ao bem-estar e o que antes era carencia satisfeita, agora é alimento cotidiano. A gente passa a ver o outro naquilo que nao se encaixa nas nossas peculiares regras diarias de conduçao dos atos minimos, e ai se incomoda com a maneira do outro higienizar os dentes, de descascar as batatas e de escolher os produtos no supermercado. "Se de dia a gente briga, à noite a gente se ama" como diz a famosa musica cantada por Leandro e Leonardo. A furia das picuinhas passa e depois, ao se imaginar viver sem a pessoa amada, da vontade de reatar os laços. Minha vo Cici diz sempre "ruim com ele, pior sem ele", nao por uma mera questao pragmatica, afinal somos mulheres e homens que vivem com independencia, mas porque é gostoso amar e estar com alguém apesar das diferenças, muitas vezes quase inconciliaveis.
As relaçoes interculturais demonstram terrivelmente as contradiçoes da unidade dialética aproximaçao-distanciamento. Guerras civis e militares se dao por obvios motivos politico-economicos, mas também pela dificuldade em suportar os usos e costumes do outro. As praticas religiosas dos outros povos, seus gostos alimentares, seus valores e suas formas de convivialidade se chocam com as nossas, e, ao mesmo tempo que desenvolvemos uma curiosidade como observadores, temos o desejo de nos distanciarmos e, até mesmo, de retirar de nossas vistas aquela forma diferente de existencia. Eu como professora cheguei, em um determinado ano letivo, a ter quase 900 alunos, e, em geral, na média, 200 a 300 a cada ano, o que me obrigava a uma convivencia estreita por ao menos  duas horas semanais com cada grupo, muitas vezes em situaçoes de explicita guerra declarada. Os conflitos eram imensos, assim como as simpatias e empatias, mas era notorio para mim como tudo era conflagrado segundo as cosmovisoes que assumiamos, eu e eles. Os que mais me atraiam positivamente eram os que tinham historias proximas à minha e os que me causavam repulsa eram os que se postavam do outro lado do front, como aqueles que renegavam meus valores e minha maneira de ser, o mesmo podendo se dizer dos alunos para comigo. Mas, era "batata", sempre havia uma atraçao irresistivel por aqueles que maiores problemas causavam, eram os que mais tempo me consumiam em minhas tentativas de cumprir minha tarefa e, ao mesmo tempo, eram os sinais luminosos que me faziam enfrentar meus preconceitos e dificuldades pessoais. Sem os que me irritavam com certeza eu aprenderia muito pouco com minha propria profissao. Também entre os alunos se estabeleciam rixas causadas por suas origens etnicas e socioeconomicas e eu tinha que criar recursos pedagogicos para fazer com que eles se aproximassem, porque quando a gente se aproxima do diferente ele fica um pouco mais parecido. De perto se desfazem mitos. Lembro também das dificuldades que sentia quando, na infancia e na adolescencia, quando tinha que ir a festas e atos solenes com pessoas de origens socioeconomicas diferentes da minha, especialmente mais altas, tinha uma sensaçao imensa de deslocamento que acabava por gerar uma certa ogeriza a tais personagens e ambientes.
No que se refere aos contatos interdimensionais, sempre me lembro de uma visao que André Luiz, escritor por meio de Chico Xavier, descreveu. Ele conta que, dessomatizado, habitando no plano astral, ficou assustadissimo e com medo quando encontrou seres muito diferentes e foi esclarecido, por um mentor, de que se tratavam de pessoas encarnadas em desdobramento. Assim como nos quando em desdobramento consciente nos deparamos com seres em outros corpos e em outras dimensoes. Imagine o homem comum da humanidade atual entrando em contato com seres de outras dimensoes superiores ou inferiores, os quais para ele poderiam ser interpretados como demonios, anjos ou deuses, pelos quais teriam deslumbramento e ao mesmo tempo repulsa. Um professor de Antropologia Filosofica, José de Sa Porto, falava em suas aulas do sentimento religioso de "Tremor e Temor" do homem frente ao mistério. A atraçao reverente e ao mesmo tempo assustadora. Muitos de nos dizemos querer ver a Deus, porém nao necessariamente agora... queremos reencontrar nossos amados dessomados, mas por favor, nao no calar da noite e no escuro...
A dificuldade é como viver e nao viver com. Como a famosa fabula de Arthur Schopenhauer sobre os porcos-espinhos que necessitavam viver juntos no inverno mas sem se espetarem. Precisamos dos outros mas nao podemos viver totalmente integrados aos  outros. Um ex-terapeuta meu, Arlindo Salgueiro, escreveu um texto em que falava que para nos relacionarmos temos que ter corredores arejados entre nos, proximos mas com espaços suficientes para respirarmos e nos movimentarmos confortavelmente.
Em todas as situaçoes o desejo é encontrar um alter ego, um espelho em que nos miremos com aceitaçao, mas o que ocorre muitas vezes é observar nosso lado sombra realizado no outro e nossa luz brilhando nas suas açoes. Nossa vontade é matar no outro aquilo que em nos viceja e ja ha tanto tempo nos faz mal. O que admiramos no outro é aquilo que ja aprovamos como conquista de nossa propria experiencia de vida. O mérito ou o demérito que vemos no outro é apenas projeçao daquilo que nos constitui em atualidade. Olhar o outro é desejar ser com e como ele e ao mesmo tempo destrui-lo para que ele nao promova incomodos existenciais nos nossos poroes obscuros.
De qualquer maneira, o outro é uma necessidade natural para nos pela forma como a vida se constitui no universo, tudo é integrado num grande todo em que cada ser esta mergulhado; precisamos ver no outro aquilo que em comum em nos existe, mas, ao mesmo tempo, ver na diferença do que ha em mim e do que ha no outro, dons com os quais podemos aprender mutuamente.

martedì 19 giugno 2012

Desejos baratos, realizaçoes pequenas

O Professor Laércio B. Fonseca fala, em uma de suas palestras disponiveis no seu canal de videos no youtube, sobre a quantidade de energias mentais e fisicas que as pessoas gastam para a realizaçao de seus desejos baratos. Desejos baratos, realizaçoes pequenas, me lembram as aulas de Orientaçao Vocacional que eu tinha enquanto aluna do Curso de Pedagogia ha mais de 25 anos. Aprendiamos que quanto mais altos os anseios, os projetos, os objetivos, mais tinhamos que nos esforçar para alcança-los. Pessoas com desejos pequenos, fariam coisas pequenas, porque sempre haveria uma distancia entre o que desejassemos e o que realizariamos. Entao, ja que a disparidade se manifestaria, de antemao, era importante ampliar o espectro projetado.
Concentrar energias mentais, emoçoes, cogniçoes e açoes para realizar grandes desejos sera uma atitude economica no universo e ao mesmo tempo nos integrara em grandes movimentaçoes em prol do processo continuo de crescimento, aperfeiçoamento, criaçao e expansao de realidades multiplas e diversas.
Muitos de nos se deitam no berço esplendido das lamurias que indicam e nomeiam pessoas e situaçoes como as responsaveis por nossos infortunios; porém, falta reconhecer que, em ultima instancia, as escolhas foram nossas e que ao limitarmo-nos a viver num perimetro de segurança e aparente conforto, nos escravizamos a um mundo criado por nos mesmos, um mundo de restriçoes em que os grandes desejos foram abandonados, num cambio que poderia ser pensado a La Boetie.
Os desejos baratos relacionam-se com aquisiçoes restritamente egoistas que so beneficiarao a nos mesmos, que se limitam ao tempo e ao espaço de nossa manifestaçao tridimensional.
Desejo que meus desejos sejam enriquecidos por caracteristicas de solidariedade, de congregaçao, de compreensao, de resistencia pacifica no Bem, de ampliaçao do Conhecimento e colaboraçao para a construçao de um mundo de paz, saude e alegria para todos e para cada um.

Permanencia e impermanencia

Revi ha alguns dias o filme de Bernardo Bertolucci O Pequeno Buda, e me veio à mente a questao da impermanencia da realidade que se traveste de maia, enquanto ilusao da permanencia das coisas, situaçoes e pessoas. A gente se apega à tudo. A gente se acostuma com as coisas e deseja pereniza-las, num constante repetir do fruir de tudo,  como crianças que reveem o mesmo filme infinitas vezes e desejam que todos os dias sejam aniversarios com bolos, doces e refrigerantes.
Vivemos num mundo hedonista de prazeres infindos, de manutençao da beleza e da juventude, numa tentativa inutil de perpetuar no tempo a repetiçao infinita de uma atemporalidade idealmente criada.
A busca constante de uma alegria artificiosamente constituida por prazeres culinarios e sexuais, da construçao cotidiana da aparencia e seus complementos, do afago ao ego e à persona criada e alimentada por nos; tudo nos afasta da paz.
Ha uma guerra interna e externamente manifesta para a preservaçao do mundo que criamos à duras penas. Sao desejos que nos impulsionam e que egoisticamente tem que ser realizados, mas que, ao serem concretizados, expoem o vazio que so aumenta seu diametro em expansao progressiva.
Desejar menos, contentar-se com as coisas simples, as situaçoes pequenas e as pessoas anonimas mas ricas em sua grandeza humana, trazem mais bem estar do que uma vida de riqueza socio-economica e de projeçao da persona segundo os canones morais institucionais.
Viver cada dia em paz apesar das incongruencias pode ser mais proveitoso para o amadurecer do espirito do que ter seguidos periodos de "felicidade" ilusoria. Lembro sempre de uma parenta que me dizia que tinha pavor dos finais de semana sem churrascos e sem pagode, sem a casa cheia de gente. Eu perguntei o porque e ela me respondeu: "Se fico sozinha em silencio começo a pensar e fico triste." A dificuldade da gente se olhar, se ouvir, e descobrir que muita coisa nao vai bem, e que muita coisa tem que mudar, e que a gente vai ter que sair do perimetro da "felicidade" artificial, é realmente assustador.
Enfrentar o espelho, o drama, o horror e a crueza fazem parte de uma vida realmente calcada na maturidade da compreensao da impermanencia; nem toda alegria e nem toda dor serao permanentes. A cada mutaçao do nosso ser se fazem presentes transformaçoes fisicas, emocionais, cognitivas e espirituais, e é a assunçao dos novos estados que nos habilita a incursionarmos por outras dimensoes.
Assumamos que a impermanencia é a natureza do curso da vida e que a permanencia é a morte do aperfeiçoamento e seremos felizes na paz da compreensao.

lunedì 11 giugno 2012

A presença escandalosa de Deus em nossas vidas

Desde muito jovem tive grande interesse em percorrer caminhos de religiosidade. Fui motivada primeiramente ao frequentar o Catolicismo por orientaçao familiar. Depois, por questionamentos pessoais aparentemente insanaveis, dei por me encontrar no Espiritismo. Na busca por ampliar o estudo e a pratica da religiosidade tentei praticar o Budismo Tibetano e, por fim, hoje me autodenomino Espiritualista universalista, sem religioes ou dogmas absolutos, mas procurando a Verdade nas verdades enunciadas nos credos de percepçoes mais amplas. Quero aprender com todos que tem algo a dizer de significativo para a construçao da minha cosmovisao, e penso que a grande motivaçao foi e continua sendo a minha busca continua por Deus.
Deus foi uma ideia sendo construida em mim num progressivo abandono da visao antropologica que as religioes em geral adotam. Muitos me auxiliaram a pensar Deus: Jesus Cristo, Kardec, Buda, Einstein, Dewey e as inteligencias de outras dimensoes, em condiçoes corporeas ou nao, que tem manifestado suas concepçoes acerca da divindade, seja por tradiçoes orais, escritos conscientes, mediunidade, canalizaçao, escritas extradimensionais ou transcomunicaçao instrumental.
Sinto-me como alguém que dispensa as corroboraçoes restritivas da racionalidade cientifica e valoriza a intuiçao como modo de conhecer. Ha coisas que sinto e sei e que, raciocinadas logicamente, se conjugam conformando uma concepçao, uma ideia, um argumento que para mim dispensam os exercicios de um ceticismo exacerbado. Para mim sentir e pensar sao sentir-pensar, nao duas coisas mas uma em continuidade com a outra até o ponto em que, no exercicio, sao uma so. Se pensar desprezando minhas intuiçoes e sensaçoes, me reduzo a um paradigma que me impede de penetrar outra dimensao além da terceira, da métrica, da objetividade positivista. Se sinto sem raciocinar, posso estar sendo levada por intençoes alheias que manipulam meu imaginario. Entao, sempre o caminho do meio. Sentir-pensar.
Reflito sempre acerca de uma frase recorrente de um amigo meu, Joao Vieira, sobre "a presença escandalosa de Deus em nossas vidas". Nos momentos mais amargos de minha vida nos quais vibrava em niveis muito baixos permitindo a entrada em minha psicosfera de individuos espirituais na mesma sintonia que a minha, quando parecia que a vivencia da angustia existencial tendia para a nadificaçao total mergulhada em nihilismo, eu tinha sinais que mais pareciam "neons" à minha frente. Por vezes pessoas desconhecidas inesperadamente e de formas inusitadas atravessaram o meu caminho, me interpelaram e proferiram ditos e palavras justissimos para a minha situaçao. Manifestaçoes mediunicas de psicografia incidiam em teor exatamente sobre minhas perquiriçoes mentais mais intimas. Sonhos e desdobramentos me colocaram diretamente em contato com entidades que, simbolicamente e até diretamente, demonstravam o que eu significava para elas e quais as tarefas em que eu me colocava na minha condiçao de interexistencialidade, ou seja, no aqui e agora e na minha paralela convivencia fora do corpo fisico da terceira dimensao.
Sao coisas que nao podem ser levadas ao laboratorio, controladas por cientistas nem restritas às visoes religiosas, sao experiencias particularissimas e que, ao serem partilhadas por meio de discursos, encontram similaridades em outras pessoas, o que reforça a universalidade de suas manifestaçoes.
Deus, enquanto uma força criadora universal que a tudo da vida primordial, é vivido e nao meramentre pensado pelos seres de todos os espaços. Todos os seres cumprem a divindade em si quando se encaminham em vibraçoes de amor e paz, quando se empenham em seus proprios processos de ampliaçao de sua subjetividade em comunhao com os demais seres do seu entorno numa perspectiva de vastos e infindaveis horizontes.
A presença escandalosa de Deus em nossas vidas é um recado muito gentil e amoroso das entidades espirituais nos dizendo que, nao importa em que mundinho estejamos inseridos momentaneamente, nos somos, todos somos, muitissimo importantes para o concerto universal da criaçao, manutençao e recriaçao de seres e mundo.

mercoledì 6 giugno 2012

Vida - tela em movimento

O escritor extradimensional Fabio Del Santoro proferiu uma frase que me tocou bastante: "A vida nao é um quadro emoldurado na parede". Realmente, a visao de Del Santoro se encaixa perfeitamente numa compreensao de minha propria vida e dos significados que sempre procurei imprimir nela, seja por impulso proprio e consciente ou seja por imposiçao das circunstancias.
A vida é um percurso empreendido e ao mesmo tempo é a propria manifestaçao do existir. Um esforço em realizar uma tendencia ao aperfeiçoamento e ao progresso, por escolha ou por adesao às variaveis.
O famoso verso cantado por Beth Carvalho e por Zeca Pagodinho "deixa a vida me levar, vida leva eu" me faz pensar em duas possibilidades, a primeira é que é super saudavel nao tentar impor os desejos egoicos que nos fazem perder a conexao com o todo manifesto no movimento universal, procurar sim seguir o fluxo da vida sem grandes perdas de energia e tentar manter firme o equilibrio e a atitude pacifica frente aos impositivos cotidianos (quem dera eu fosse assim...!!!). Mas também me incomoda a passividade de quem segue o fluxo como massa de manobra, ser alguém que nao determina suas escolhas, que nao imprime conscientemente na vida a sua marca como ser que diz seu proprio significado e atribui significado aos seres que aparentemente nao manifestam consciencia.
Retornando à ideia de que a vida nao é um quadro emoldurado, me apaixona a visao de uma vida que vai sendo tecida à medida em que vamos nos enfronhando com as situaçoes, como um mapa riscado em amplos planos e que, na sua realizaçao, permite incursionar por veredas inusitadas que se apresentam inesperadamente. Imaginar a vida como um plano que pode sempre ser novamente esboçado a partir de cada grande renovaçao de aspectos de nossa cosmovisao.
Ao longo da vida abandonei empregos relativamente seguros com ganho modesto mas certo, posiçoes de aparente conquista no desenvolver da carreira, situaçoes de segurança pessoal como moradia propria e proximidade com os mais caros do coraçao para me enfronhar num mar de novas experiencias emocionais, culturais e espirituais, nem sempre felizes e nem sempre vitoriosas; e é claro que os atavismos mais tenebrosos sempre emergem nas pequenas crises do dia-a-dia, cobrando a "imprevidencia" e a impulsividade de meus atos; porém, observando com clareza, vejo que tentei pintar minha vida como o quadro nao emoldurado na parede, algo que nao é para ser visto em estado de finitude, de acabamento, mas algo em construçao; minha vida nao é quadro para ser observado e valorizado como modelo de beleza e cumprimento dos canones alheios.
A vida enquanto escolha deve ser vivida com espirito de paixao e aventura, procurando sempre ser coerente com os mais caros e anelados valores de nosso imo. Viver a vida como um projeto que se estende, se revela à medida em que vamos nos colocando nas cenas construidas por nos atores imersos no contexto geral.
A vida enquanto "deixa levar" também nao se restringe a um quadro imovel, mas é um reconhecimento da impossibilidade de dominarmos tudo e todos, o que nao implica em abdicarmos de sermos quem somos, de nos postarmos como joguetes.
A imagem que consigo construir é a de uma arvore maleavel ao toque do vento suave ou das borrascas, mas que ao mesmo tempo se mantem firme em suas raizes e preservada em sua essencialidade. Arvore que, aparentemente imovel, se inclina para fruir de sol e de agua, que estende as raizes e expressa a sua individualidade. A neve, o sol escaldante, a chuva torrencial, destroem alguns individuos de uma espécie vegetal, enquanto outros da mesma espécie sobrevivem denodadamente. Pintar a tela da vida em movimento revelando nosso esforço em realizar nossos intuitos e ao mesmo tempo nos permitindo vivenciar aquilo que os dias nos trazem, é um dom de sobrevivencia.

martedì 5 giugno 2012

Familias, experiencias diversas, lagrimas e sorrisos.

Militei na area da Educaçao por 30 anos, sendo 24 de trabalho efetivo, e uma das coisas que mais me incomodavam nos discursos cotidianos escolares eram as criticas às familias. Notava-se claramente um ideologismo mascarador da realidade, um idealismo caracterizado pela lacunaridade, pela abstraçao e pelo universalismo. Familias eram vistas tal como em propagandas de margarina: um tipo burgues universalizado, pai, mae e filhos; sorrisos e mesa farta numa abstraçao das constantes crises economico-financeiras; e por fim, a lacunaridade da inexistencia de contexto real para garantir o café da manha. Qualquer construçao familiar que fugisse a tal estereotipo era nomeada de "familia desajustada", e qualquer dificuldade de aprendizagem e de adaptaçao da criança ao cotidiano escolar era atribuida à familia. Visoes extremamente positivistas no sentido de que analisavam o problema fora do contexto, sem amplitude e com medidas pontuais.
Eu por exemplo, sou oriunda de uma familia que, até a geraçao de meus pais, cumpria o modelo classico burgues ainda que de origem proletaria. Da minha geraçao em diante, as experiencias familiares ja foram construindo quadros que os educadores, em geral, nomeariam de desajustados: separaçoes, unioes fora dos registros religiosos e civis, filhos com mesmas maes e pais diferentes ou vice-versa, filhos criados por avos. Tudo aparentemente muito claro, geraçao da pilula anticoncepcional, do trabalho feminino, da liberalidade de costumes e do afastamento das instituiçoes formais seculares e religiosas. Aparentemente, pois, fazendo um pequeno processo de escavamento nas historias familiares, descobrem-se bisavos e outros que também viveram separados, filhos fora do casamento, pais que abandonavam os filhos e faziam novas unioes, ou seja, tudo como se da hoje so que acobertado pela concepçao idealizada da familia.
Sofri muito na contradiçao vivida por mim mesma; sempre quiz e fiz minha vida a partir dos contextos da pos-modernidade que pretensamente se libertou do paradigma moderno da sociedade industrial e cientifica ordenadora dos costumes. Nao casei formalmente, nao batizei os filhos, separei-me e fiz uma nova experiencia de convivencia. Tudo fora dos padroes classicos familiares. Ao mesmo tempo que me orgulhava de ter me libertado dos tabus, a imagem ideologizada, que estava conceitualmente constituida nos atavismos do meu inconsciente, me cobrava uma vida mais regrada e cumpridora dos modelos, fazendo sempre me sentir inadequada e estranha.
Constituir uma uniao estavel é, sem duvida, um anseio geral, com pouquissimas pessoas que se colocam firmemente na frente das unioes volateis. Mas contra tudo, ha a biologia e a antropologia. Biologicamente a paixao que atrai os casais dura em média dois a tres anos, depois o chamado amor tem que ser construido na raça, com persistencia, paciencia e afinco, digamos que, caracteristicas nao muito cultivadas ultimamente. Antropologicamente analisando, a estabilidade depende dos valores culturais do imaginario coletivo, muitas vezes favorecedores do individualismo egocentrico.
Para os possiveis filhos, uma certa estabilidade na relaçao entre os pais favorece o equilibrio psiquico. Porém nada é garantia. Ha unioes fora dos padroes que geram pessoas bacanas, felizes e equilibradas, e unioes classicas que produzem pessoas em crise permanente, e tudo ao inverso também é verdadeiro. Nao ha receitas e nao ha relaçoes imediatas de causas e efeitos.
Ha a interveniencia individual daquele que por si ja é peculiar ao ponto de sair dos padroes cientificamente esperados e tem um jeito proprio de lidar com a influencia das variaveis socioambientais.
Domingo passado terminou o Encontro Mundial das Familias em Milano. O Papa Benedetto XVI encontrou-se com as familias catolicas e apontou esperanças de acolhimento aos divorciados. A midia local extasiou-se com a existencia publica e manifesta de tantos praticantes e defensores de familias "estaveis". Num mundo de tanta diversidade a intelectualidade militante da pos-modernidade talvez nao esperasse expressoes de alegria, uniao e legitimo congrassamento entre praticantes de uma religiao notadamente dita em crise mundial. Modelos antagonicos que se antepoem e ao mesmo tempo se aproximam. Os catolicos acolhem os divorciados, os pos-modernos observam a existencia de pessoas felizes à maneira convencional.
Dentro de uma visao espiritualista universalista compreendo a familia como um agrupamento de pessoas que trazem individualmente suas historias milenares e seus atavismos bem como herdam determinantes biologicos do grupo ao qual se agregam por meio do renascimento. Entre karmas e dharmas vamos todos realinhando sentimentos e entendimentos conceituais. Mas nao so, familias também sao os agrupamentos dos afins e das linhagens espirituais. Temos todos compromissos pessoa a pessoa mas também enquanto naçoes e culturas.
Tudo para mim se encaminha numa direçao de estender as responsabilidades pela criaçao de nucleos de paz e amor dos mais proximos aos mais distantes, independente de padroes limitados de uma sociedade burguesa e pos-industrial. Interessante conseguir superar lagrimas e constituir sorrisos em diversas experiencias de convivencia grupal e criar familias diferentes mas todas com a marca do respeito e da consideraçao de todos os delas  participantes.

domenica 3 giugno 2012

Raizes e sombras em dias de sol e noites de estrelas e chuva

Habito na casa de meu companheiro, ele é artista plastico, jardineiro, horticultor e operario, exatamente nessa ordem, do fruir gratuito à necessidade de sobrevivencia. Passo alguns momentos com ele, apos o almoço ou ao final da tarde, sentada num banco em frente ao jardim ou numa escada para o pequeno horto organico. La ha incontaveis tipos de plantas alimenticias, entre arvores frutiferas, verduras e legumes, além das flores, agaves e cactus. Uma miscelania em um pequeno espaço que acaba por criar a sensaçao de amplitude em meio a uma explosao de cores, sabores, odores e a profusao de trabalho de insetos, lumacas e gecos, tudo num retumbante final de primavera.
Eu habitei um morro até 18 anos e tive uma infancia privilegiada com arvores, flores, colinas e lagoa. Depois fiquei restrita à cidade exclusivamente assentada em alfalto; e agora, ha um ano, retornei para um ambiente urbanizado porém mais prodigo em natureza.
Recordo sempre de uma alameda maravilhosa onde habitava uma prima de meu pai, a Hilda. Quando minha mae solicitava que eu fosse dar um recado eu amava a incumbencia, pois a rua da Hilda era de terra, havia eucaliptos em todo o percurso e, por mais sol torrido que fizesse, ao adentrar a alameda, eu penetrava num mundo de frescor, de verde intenso, com réstias de luz que passavam por entre os altos galhos das arvores e de sons tranquilizadores que o farfalhar produzia. Lembranças como essas eram como quartos onde eu repousava antes de vir morar aqui.
Agora me sinto abrigada como um bebe num utero aconchegante. Das sacadas do quarto de dormir, vejo de um lado colinas, uma estrada com arvores e casas floridas, do outro lado vislumbro uma grande montanha, um imenso lago e casas ensombradas por altas arvores. Quando é noite, um céu esplendente de estrelas.
De tudo ainda me encanta sobremaneira as noites de chuva quando deito e sinto os pingos intensos sobre o telhado e nas sacadas. Fecho os olhos e me sinto penetrar fundo num mar de pacificaçao. Se ha trovoes e relampagos, a força da natureza me extasia. Talvez eu seja filha de Iansa.
Penso em Martin Heidegger e no Caminho do Campo, nas profundas raizes que saem de nos e se alojam nas terras férteis de nossa propria ancestralidade. Como em varias telas de Frida Khalo. Frida com seus quadros e Heidegger com esse texto em particular, criaram imagens que movimentaram sentimentos. Fizeram-me reconceituar significativamente palavras. Diziam meu mundo onirico reportado à realidade dita objetiva. As coisas que penso, sinto e sonho se imiscuem todas num misto de razao e sensibilidade. Alguma coisa que é inefavel, o indizivel. Minhas raizes todas, os negros, os indios, os portugueses, os franceses, todos provaveis e todos lidos em signos indiciarios, marcas no corpo, atavismos e traços culturais.
Quando jovem nao sabia de nenhuma dessas coisas, nao sabia o valor das raizes, da importancia da preservaçao da memoria e da reverencia aos antepassados. Mas hoje, observando o movimento em torno da casa, toda a profusao de vida e de harmonia num labor intenso, sinto diariamente como se, eu com tudo, eu com todos, estivesse estendendo raizes e, daquele solo fértil, retirando meu alimento. Com se ao expandir meus galhos em direçao aos céus, eu fosse alcançar estrelas. Retornar aos meus que deram vidas incontaveis para minha propria vida e que eu estendi em e aos meus filhos.
A vida humana como continuidade da natureza; um constante recriar-se no mesmo e sempre que se renova e se expande.
Quero construir poeticamente minha existencia como um traço japones, intenso, curto e profundo. Construir significancias em silencio, como o trabalho das raizes, como a generosidade das sombras, a intensidade dos raios solares, a luminosidade estelar e o frescor dos pingos da chuva.

venerdì 1 giugno 2012

A tragédia humana nos caminhos percorridos

A trajetoria de Odisseu me comove em dois aspectos, um como emblema da tragédia humana, ou seja, a condiçao dada ao homem de poder exercer o livre arbitrio e, ao mesmo tempo, ser dirigido em seu destino pelos deuses. O fado é tecido e interferido pela vontade arbitraria dos deuses e o homem, como joguete em suas maos, ou se limita a obedece-los, ou os arrosta, ainda que saiba que, ao final, vai ser subjugado pelos mesmos. O outro aspecto para mim relevante é o da viagem empreendida que tem como escopo maior nao o fim extrinseco, ou seja, a chegada ao término, mas a finalidade intrinseca ao proprio percurso. A viagem de Odisseu é o encontro consigo mesmo, o percurso é mais significativo do que o retorno à Itaca. Para mim, o retorno é apenas a paragem para projetar novos empreendimentos.
Estamos sempre entre duas possibilidades de interpretaçao, nossa vida é arquitetada previamente e é um script sem chance de ser reescrito,  ou é obra puramente de nossa açao e nosso envolvimento com o mundo? Na primeira podemos nos postar numa perspectiva metafisica religiosa ou filosofica, onde o homem tem uma finalidade e é constrito a realiza-la e o livre arbitrio é apenas a aquiescencia ou nao a tal imposiçao. A constituiçao biologica do homem ja o predispoe para uma determinada forma de interaçao com o mundo. A segunda possibilidade coloca o homem existencialmente como alguém historicamente dado mas com ferramentas para alterar conscientemente seu papel na construçao de causas e consequencias, sem pré-definiçoes ou determinismos absolutos, além de entende-lo como organismo construido em interaçao com o meio.
Eu penso numa via di mezzo, numa programaçao em longos planos que podem ser modificados em determinados pontos. Entendo que o ser inteligente tendo maior grau de consciencia de si proprio é chamado a opinar sobre a vida a ser construida. Nao havendo alcançado maior consciencia, acaba por ser encaminhado à vida por mecanismos vinculados às leis de causa e efeito, as quais o projetam segundo suas propria historia. De qualquer maneira, é sempre ele que dirige sua projeçao na vida, antes, durante e depois da experiencia carnal.
Penso que somos relativamente livres e temos o destino nao como fatalidade mas como um projeto, ou seja, um plano escrito que pode ser redesenhado, que pode ser redefinido a partir dos encontros e esbarroes que sofremos ao longo da vida. Penso que é como nossas promessas de final de ano, nossos projetos de exercicios, dieta alimentar, cumprimento de agenda, superaçao de dificuldades, controle dos gastos... prometemos muito e, ao final do novo ano, no balanço de perdas e danos, vemos que pouco ou nada realizamos. Talvez haja uma certa megalomania ao programarmos a vida e quando vamos realmente atualiza-la, do plano potencial para a planificaçao diaria, se verifica um hiato, uma distancia imensa.
Os caminhos que percorremos tem aspectos que lembram uma "forçada de barra" para que neles penetremos, mas também se apresentam como extremamente maleaveis à nossa intervençao. Muitas vezes revendo passagens de minha vida, observo que muitas decisoes foram realmente escolhas determinantes, como testes que se apresentavam, para onde ir, o que fazer, com quem partilhar. Lembro sempre do Professor Roberto Aurélio Manço quando ele nos apresentava uma escala de interesses que indicava a tendencia de nosso carater. Talvez as experiencias predefinidas e nossa forma livre de vivencia-las, a partir da aplicaçao do livre arbitrio, é que dao o significado às nossas vidas, pois ai vamos estruturando nosso carater com a aquisiçao de novas caracteristicas que o robustecem e, dai, poderemos projetar novas e mais interessantes vidas aqui ou em outros mundos e dimensoes.
A tragédia grega nao é so a marca do sofrimento de Odisseu mas também o arquétipo da conquista humana da sua propria constituiçao de ser em busca da construçao de si mesmo a partir dos caminhos que percorre, escolhidos ou nao.