giovedì 21 giugno 2012

Um nao vive com o outro, um nao vive sem o outro

Assistindo ao programa Enigmas da TV Orkut fui surpreendida com a frase "Um nao vive com o outro, um nao vive sem o outro". A questao, para mim, se reporta à convivencia com o diferente que passa pelas fases de atraçao e de repulsao. Aquilo que é desconhecido para nos se apresenta com uma grande exuberancia e nos atrai porque é exotico, mas, ao mesmo tempo, se mostra tao diferente dos nossos padroes cotidianos que acaba por nos afastar. Penso que tal ideia se aplica às relaçoes amorosas, interculturais, socioeconomicas e interdimensionais. Como é fascinante se imiscuir em campo desconhecido e, ainda assim, o desconforto e o desespero acabam por nos arrastar em retorno às situaçoes habituais de segurança.
Nas relaçoes amorosas a gente passa pela loucura da paixao em que o funcionamento quimico do organismo da conta do recado e nao ha muito a refletir, tudo se encaixa porque tudo é incandescente, porque tudo é novidade e se reveste de magia e encantamento; mas, com o transcorrer do tempo, ha um acomodamento organico ao bem-estar e o que antes era carencia satisfeita, agora é alimento cotidiano. A gente passa a ver o outro naquilo que nao se encaixa nas nossas peculiares regras diarias de conduçao dos atos minimos, e ai se incomoda com a maneira do outro higienizar os dentes, de descascar as batatas e de escolher os produtos no supermercado. "Se de dia a gente briga, à noite a gente se ama" como diz a famosa musica cantada por Leandro e Leonardo. A furia das picuinhas passa e depois, ao se imaginar viver sem a pessoa amada, da vontade de reatar os laços. Minha vo Cici diz sempre "ruim com ele, pior sem ele", nao por uma mera questao pragmatica, afinal somos mulheres e homens que vivem com independencia, mas porque é gostoso amar e estar com alguém apesar das diferenças, muitas vezes quase inconciliaveis.
As relaçoes interculturais demonstram terrivelmente as contradiçoes da unidade dialética aproximaçao-distanciamento. Guerras civis e militares se dao por obvios motivos politico-economicos, mas também pela dificuldade em suportar os usos e costumes do outro. As praticas religiosas dos outros povos, seus gostos alimentares, seus valores e suas formas de convivialidade se chocam com as nossas, e, ao mesmo tempo que desenvolvemos uma curiosidade como observadores, temos o desejo de nos distanciarmos e, até mesmo, de retirar de nossas vistas aquela forma diferente de existencia. Eu como professora cheguei, em um determinado ano letivo, a ter quase 900 alunos, e, em geral, na média, 200 a 300 a cada ano, o que me obrigava a uma convivencia estreita por ao menos  duas horas semanais com cada grupo, muitas vezes em situaçoes de explicita guerra declarada. Os conflitos eram imensos, assim como as simpatias e empatias, mas era notorio para mim como tudo era conflagrado segundo as cosmovisoes que assumiamos, eu e eles. Os que mais me atraiam positivamente eram os que tinham historias proximas à minha e os que me causavam repulsa eram os que se postavam do outro lado do front, como aqueles que renegavam meus valores e minha maneira de ser, o mesmo podendo se dizer dos alunos para comigo. Mas, era "batata", sempre havia uma atraçao irresistivel por aqueles que maiores problemas causavam, eram os que mais tempo me consumiam em minhas tentativas de cumprir minha tarefa e, ao mesmo tempo, eram os sinais luminosos que me faziam enfrentar meus preconceitos e dificuldades pessoais. Sem os que me irritavam com certeza eu aprenderia muito pouco com minha propria profissao. Também entre os alunos se estabeleciam rixas causadas por suas origens etnicas e socioeconomicas e eu tinha que criar recursos pedagogicos para fazer com que eles se aproximassem, porque quando a gente se aproxima do diferente ele fica um pouco mais parecido. De perto se desfazem mitos. Lembro também das dificuldades que sentia quando, na infancia e na adolescencia, quando tinha que ir a festas e atos solenes com pessoas de origens socioeconomicas diferentes da minha, especialmente mais altas, tinha uma sensaçao imensa de deslocamento que acabava por gerar uma certa ogeriza a tais personagens e ambientes.
No que se refere aos contatos interdimensionais, sempre me lembro de uma visao que André Luiz, escritor por meio de Chico Xavier, descreveu. Ele conta que, dessomatizado, habitando no plano astral, ficou assustadissimo e com medo quando encontrou seres muito diferentes e foi esclarecido, por um mentor, de que se tratavam de pessoas encarnadas em desdobramento. Assim como nos quando em desdobramento consciente nos deparamos com seres em outros corpos e em outras dimensoes. Imagine o homem comum da humanidade atual entrando em contato com seres de outras dimensoes superiores ou inferiores, os quais para ele poderiam ser interpretados como demonios, anjos ou deuses, pelos quais teriam deslumbramento e ao mesmo tempo repulsa. Um professor de Antropologia Filosofica, José de Sa Porto, falava em suas aulas do sentimento religioso de "Tremor e Temor" do homem frente ao mistério. A atraçao reverente e ao mesmo tempo assustadora. Muitos de nos dizemos querer ver a Deus, porém nao necessariamente agora... queremos reencontrar nossos amados dessomados, mas por favor, nao no calar da noite e no escuro...
A dificuldade é como viver e nao viver com. Como a famosa fabula de Arthur Schopenhauer sobre os porcos-espinhos que necessitavam viver juntos no inverno mas sem se espetarem. Precisamos dos outros mas nao podemos viver totalmente integrados aos  outros. Um ex-terapeuta meu, Arlindo Salgueiro, escreveu um texto em que falava que para nos relacionarmos temos que ter corredores arejados entre nos, proximos mas com espaços suficientes para respirarmos e nos movimentarmos confortavelmente.
Em todas as situaçoes o desejo é encontrar um alter ego, um espelho em que nos miremos com aceitaçao, mas o que ocorre muitas vezes é observar nosso lado sombra realizado no outro e nossa luz brilhando nas suas açoes. Nossa vontade é matar no outro aquilo que em nos viceja e ja ha tanto tempo nos faz mal. O que admiramos no outro é aquilo que ja aprovamos como conquista de nossa propria experiencia de vida. O mérito ou o demérito que vemos no outro é apenas projeçao daquilo que nos constitui em atualidade. Olhar o outro é desejar ser com e como ele e ao mesmo tempo destrui-lo para que ele nao promova incomodos existenciais nos nossos poroes obscuros.
De qualquer maneira, o outro é uma necessidade natural para nos pela forma como a vida se constitui no universo, tudo é integrado num grande todo em que cada ser esta mergulhado; precisamos ver no outro aquilo que em comum em nos existe, mas, ao mesmo tempo, ver na diferença do que ha em mim e do que ha no outro, dons com os quais podemos aprender mutuamente.

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