Revi ha alguns dias o filme de Bernardo Bertolucci O Pequeno Buda, e me veio à mente a questao da impermanencia da realidade que se traveste de maia, enquanto ilusao da permanencia das coisas, situaçoes e pessoas. A gente se apega à tudo. A gente se acostuma com as coisas e deseja pereniza-las, num constante repetir do fruir de tudo, como crianças que reveem o mesmo filme infinitas vezes e desejam que todos os dias sejam aniversarios com bolos, doces e refrigerantes.
Vivemos num mundo hedonista de prazeres infindos, de manutençao da beleza e da juventude, numa tentativa inutil de perpetuar no tempo a repetiçao infinita de uma atemporalidade idealmente criada.
A busca constante de uma alegria artificiosamente constituida por prazeres culinarios e sexuais, da construçao cotidiana da aparencia e seus complementos, do afago ao ego e à persona criada e alimentada por nos; tudo nos afasta da paz.
Ha uma guerra interna e externamente manifesta para a preservaçao do mundo que criamos à duras penas. Sao desejos que nos impulsionam e que egoisticamente tem que ser realizados, mas que, ao serem concretizados, expoem o vazio que so aumenta seu diametro em expansao progressiva.
Desejar menos, contentar-se com as coisas simples, as situaçoes pequenas e as pessoas anonimas mas ricas em sua grandeza humana, trazem mais bem estar do que uma vida de riqueza socio-economica e de projeçao da persona segundo os canones morais institucionais.
Viver cada dia em paz apesar das incongruencias pode ser mais proveitoso para o amadurecer do espirito do que ter seguidos periodos de "felicidade" ilusoria. Lembro sempre de uma parenta que me dizia que tinha pavor dos finais de semana sem churrascos e sem pagode, sem a casa cheia de gente. Eu perguntei o porque e ela me respondeu: "Se fico sozinha em silencio começo a pensar e fico triste." A dificuldade da gente se olhar, se ouvir, e descobrir que muita coisa nao vai bem, e que muita coisa tem que mudar, e que a gente vai ter que sair do perimetro da "felicidade" artificial, é realmente assustador.
Enfrentar o espelho, o drama, o horror e a crueza fazem parte de uma vida realmente calcada na maturidade da compreensao da impermanencia; nem toda alegria e nem toda dor serao permanentes. A cada mutaçao do nosso ser se fazem presentes transformaçoes fisicas, emocionais, cognitivas e espirituais, e é a assunçao dos novos estados que nos habilita a incursionarmos por outras dimensoes.
Assumamos que a impermanencia é a natureza do curso da vida e que a permanencia é a morte do aperfeiçoamento e seremos felizes na paz da compreensao.
Nessun commento:
Posta un commento